ENTREVISTA | Um golaço de livre a dar a vitória no Dragão: «Quando vi a bola entrar, nem eu acreditei!»

8 meses atrás 56

Não se pode dizer que o Estoril Praia tenha entrado bem em 2023/24, mas a chegada de Vasco Seabra para o comando técnico empurrou a formação canarinha para um trilho de bom futebol e resultados condizentes, como foram as duas vitórias contra o FC Porto ou as goleadas celebradas perante Sintrense, Casa Pia e GD Chaves.

Jordan Holsgrove esteve - literalmente - no centro de tudo isso, integrando a dupla de médios no 3-4-3 da equipa da linha, pela qual tem somado boas exibições e momentos notáveis, como os golos que marcou de livre no dia da estreia e, mais recentemente, no Dragão.

Em época festiva, o zerozero foi à Amoreira falar com o craque escocês, que já vai a meio do seu segundo ano em Portugal. O momento da equipa foi tema de uma conversa que também explorou o passado em Inglaterra e Espanha, assim como o futuro, que guarda o Olympiacos e o sonho da seleção.

Holsgrove destaca-se no Estoril @Catarina Morais / Kapta +

zerozero (ZZ): Estoril está num grande momento. Que tal está a ser trabalhar com o Vasco Seabra e viver este momento de boa forma coletiva?

Jordan Holsgrove (JH): Tem sido muito bom. Foi um arranque de temporada difícil e queríamos dar a volta. Sabíamos que tínhamos qualidade na equipa para o fazer e jogar bem. Quando o [Vasco] Seabra chegou acho que ele ajudou a trazer positividade, dar a volta a certas coisas que não estavam a correr bem e taticamente mudou, alterando para a linha de cinco defesas atrás. Ajudou-nos a crescer imenso, as coisas estão a correr muito bem, mas não podemos ser complacentes e temos que continuar a trabalhar e a atuar como temos atuado.

ZZ: Essa alteração tática foi a principal mudança?

JH: Definitivamente tem um papel importante na forma como estávamos a jogar, mas depois ele [Vasco Seabra] trouxe várias outras táticas. Não foi só não jogar com cinco atrás. A forma como queríamos sair a jogar, a forma como nos misturávamos no meio campo, por exemplo, com os alas a aparecerem dentro e a forma como tínhamos que pressionar. Temos uma ideia muito clara de como queremos pressionar taticamente, com e sem bola.

ZZ: Preferes o teu papel atual na equipa?

JH: Gosto realmente do meu papel atual. O meu ideal é ter a bola e fazer a equipa jogar o máximo possível. O Vasco [Seabra] permite-me isso e pede-me o espaço e a capacidade de surgir no espaço e ter bola, ajudar a criar e fazer a equipa jogar.

ZZ: Num meio campo a dois tens muito mais bola, mas também tens mais responsabilidades defensivas. isso é algo que aprecias?

JH: Sim. É algo que sempre tentei melhorar e fazer mais. E também é por isso que apreciei ainda mais, porque gosto de desafios e que as coisas sejam difíceis para mim. Aprendi, melhorei muito e gosto.

ZZ: É Difícil não destacar a vitória sobre o FC Porto no Dragão. Voltaram a vencê-los depois na Taça da Liga, mas essa primeira, 0-1 com um golaço teu. Foi o teu melhor jogo desde que chegaste a Portugal?

JH: Em termos de sensações, 100%. Sem dúvida. É preciso olhar mais além. Obviamente marquei o golo, mas a forma como jogámos coletivamente, como defendemos, como impedimos o FC Porto de marcar, pela primeira vez em muitos anos, no Dragão. Foi um feito incrível, especialmente com a tarefa defensiva que tínhamos em mãos. No geral, foi um grande feito para a equipa. Para mim, desde que cheguei a Portugal, ganhar aquele jogo foi o melhor sentimento.

ZZ: Mas temos mesmo de falar sobre esse golo...

JH: Acho que, nesses momentos, os teus instintos naturais assumem. Quando pensas em excesso torna-se pior. Tudo o que pensava era que se colocasse a bola por cima da barreira tinha a oportunidade de marcar. Assim que vi a bola entrar, nem eu acreditei realmente! Mas sim, foi uma grande sensação.

ZZ: Com a segunda vitória (3-1) conseguiram um lugar na final four da Taça da Liga. Ainda não ganhaste um troféu na tua carreira, sentes que esta vai ser a maior oportunidade até agora? Quão importante seria?

JH: É sem dúvida o mais próximo que já estive de ganhar um troféu. Claro que todos podemos sonhar e já vencemos grandes equipas esta época, como o FC Porto, por isso é possível.

ZZ: Vão para a Final Four a acreditar que o Estoril pode vencer qualquer equipa?

JH: 100%. Acredito que tudo é possível. Olhando para o que já fizemos, vencendo o FC Porto duas vezes e a forma em que estamos neste momento, é definitivamente possível.

ZZ: Também marcaste de livre no 10° minuto da estreia pelo Estoril… O quão importante foi para tirar a pressão e assegurar um papel de relevo na equipa?

JH: Foi importante marcar e foi bom marcar tão cedo, mas mais importante queríamos ganhar o jogo, especialmente sendo o primeiro, contra o Arouca. Os jogadores dizem sempre que este é um jogo de equipa e, por isso, no final do dia estaria mais feliz por não marcar e sair com três pontos. Mas obviamente que ajuda marcar um golo assim na estreia.

A descida de divisão antes do salto

ZZ: A tua história cá começou na época passada, com uma boa campanha individual mas que acabou com a descida do Paços. Como foi a sensação e como vais recordar 2022/23?

JH: Foi uma pena a descida de divisão. Gostei muito do meu tempo no Paços, mesmo com tudo o que estava a acontecer e com a forma que tínhamos. Era duro. Eu acredito mesmo que tínhamos uma boa equipa. Foram tempos difíceis, mas acredito que aprendi com isso. Espero nunca mais viver essa situação novamente, em que no início da temporada não conseguíamos uma vitória por alguns meses, mas retirei e aprendi muito disso e ganhei algumas boas memórias, assim como más, daí.

ZZ: Acabas por ser contratado pelo Olympiacos, mas não ficas logo na Grécia. Porquê este empréstimo, em vez da entrada direta no novo clube?

Holsgrove destacou-se, apesar da descida @Catarina Morais / Kapta +

JH: O clube tinha muitos médios na altura e veem-me como um jogador de equipa principal. Só querem que tenha mais um ano de experiência para aprender, depois de, como disseste, um ano não tão bom como equipa no ano passado. Individualmente estive bem, mas descemos de divisão. Ter mais um ano aqui em Portugal e voltar para assumir um lugar e, esperemos, fazer parte da equipa do Olympiacos.

ZZ: Estás confiante que terás sucesso no Olympiacos?

JH: Acredito que é possível. Espero voltar e mostrar do que sou capaz. Claro que queria fazer isso no verão e mostrar, mas a decisão foi que fosse emprestado. Aceitei-o e espero voltar e mostrar do que sou capaz.

«Sempre vi Xavi e Iniesta como os meus ídolos»

ZZ: És escocês, jogaste por essa seleção nas camadas jovens, mas também fizeste formação em Inglaterra… O quão diferente é o futebol britânico do futebol português?

JH: Não posso comparar muito no que toca às Primeiras Ligas ou futebol sénior, porque saí de Inglaterra jovem e não vivenciei isso, mas há definitivamente muito talento em Inglaterra. Cresci a jogar contra e com alguns dos melhores jogadores. Inglaterra e o Reino Unido, no geral, têm muito talento.

Jordan Holsgrove
Celta de Vigo [B]
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ZZ: Disseste que jogaste com muitos jogadores de grande qualidade. Sendo um deles, porque decidiste ir para Espanha tão novo, um passo raro?

JH: Desde muito novo que eu e o meu pai víamos futebol espanhol. Sempre vi Xavi e Iniesta como os meus ídolos e disse que se tivesse a oportunidade de ir jogar para Espanha a abraçaria. Tive a oportunidade de ir para Espanha e quando dei por mim estava a ir sozinho e a assinar pelo Celta [de Vigo]. Não olhei para trás desde aí e não estou no Reino Unido desde então.

ZZ: Como foi a experiência em Espanha, olhando para trás?

JH: Foi uma experiência enorme. Especialmente porque quando fui não falava muito bem espanhol, por exemplo. A nível de língua era muito diferente, ainda mais em Vigo, porque não é um local muito turístico e não há muita gente que saiba falar inglês, o que me forçou a aprender a língua. Ao nível de futebol, houve muitas políticas e aspetos que não correram propriamente bem, especialmente no meu segundo ano no clube. Mas apesar disso gostei muito do tempo lá.

ZZ: Foram essas dificuldades e a proximidade que te trouxeram para Portugal?

JH: Visitei o Porto algumas vezes quando estava em Vigo, vi o local e percebi que no Porto e Portugal falavam, em geral, mais inglês do que em Espanha e isso conquistou-me e ajudou, porque sabia que podia falar inglês se viesse para o país.

ZZ: Recuando ainda mais às tuas origens, só vemos futebol. O teu pai foi futebolista (Luton, Reading, Hibernian), o teu avô também (Wolves, Sheffield Wednesday). Quão importante foi esta herança e como te influenciou?

Jordan teve dificuldades no Celta @Getty / David Ramos

JH: Foi uma grande influência e ajuda, porque sempre tive o meu pai e avô para me aconselharem quando precisei. O meu pai sempre me disse que não me estava a forçar a seguir este caminho e eu sempre fui aberto, tinha as minhas próprias ideias. Se eu não quisesse ser futebolista ele não tinha problemas com isso, mas se quisesse ele estaria lá para me ajudar. Isso significava que às vezes, se tivesse uma má sessão de treino, ele estaria lá a gritar comigo e super chateado com um jovem. Mas ele só o fazia para me ajudar e retirar o melhor de mim.

ZZ: Precisavas desse empurrão ou estavas determinado em seguir esta vida?

JH: Acho que precisava. Sempre quis ser futebolista, o futebol sempre foi o principal. Algumas vezes, quando ele questionava se eu queria mesmo ser futebolista eu quase ficava chateado por ele estar a perguntar isso, porque era o que sempre quis ser.

Herança e sonhos do futebol

ZZ: Disseste no passado que não tens memória de ver o teu pai jogar... Quando pensamos num médio britânico, a primeira imagem que surge não é a de um criativo com tanta técnica. Foram essas influências do futebol espanhol que te fizeram o jogador que és hoje?

JH: Definitivamente acho que ao crescer, ver e entender esses jogadores fez de mim o que sou hoje. Sempre cresci a querer ser diferente dos jogadores ingleses e escoceses que via. Sempre quis ter esse fator diferenciador que fazia as pessoas pensar que eu tinha algo diferente. Gosto de ser diferente.

ZZ: Tens feito a tua carreira longe do futebol britânico. Vês a continuar assim toda a tua carreira, andando pelo Europa sem parar no futebol escocês, Premier League ou Championship?

JH: Honestamente, estou aberto. Não faço ideia de onde vou estar ou quero ir num futuro próximo. Obviamente seria bom voltar a Inglaterra, estar próximo da minha família e eles puderem dizer que podem ir ver os meus jogos todos os fins de semana, em vez de me ver na televisão. Mas ao mesmo tempo, o meu caminho é na Europa e se continuar assim não tem problema. Eventualmente terei que estar com os meus pais ao fim de semana.

ZZ: Quando decidiste deixar o futebol britânico eras ainda muito jovem. Aos 24 anos, estás naquela fase em que deixas de ser visto como um jovem e é esperado que sejas um “jogador feito”. Sentes isso?

Um escocês em destaque na Amoreira @Catarina Morais / Kapta +

JH: Sinto-me a envelhecer. Claro que as pessoas esperam mais quando chegas a uma certa idade. Tive várias lesões e entraves durante a minha juventude, o que foi muito difícil para mim e me fez sentir sempre alguns anos atrás dos demais em termos de chances, especialmente em Inglaterra, de jogar. Nunca senti pressão de mim mesmo. Simplesmente jogo e o que acontecer, aconteceu, independentemente da minha idade.

ZZ: Quão próxima está esta versão do Jordan Holsgrove de ser a melhor versão possível?

JH: Acredito que há sempre espaço para melhorar e podes sempre melhorar. Espero jogar até aos 40 e nessa altura ser melhor do que sou agora.

ZZ: Quais são os teus maiores objetivos/sonhos no futebol?

JH: O meu sonho é ganhar a Liga dos Campeões. Costumava vê-los a levantar aquele troféu e sabia que demoraria a conseguir fazê-lo com as minhas próprias pernas e mãos. Conseguir fazê-lo era um grande feito. Além disso, representar o meu país e marcar um golo, um dia, seria uma honra.

ZZ: A Escócia já tem bilhete para o Euro 2024… É realista ires? Pensas nisso?

JH: Não penso nisso. Vivo cada dia, jogando e treinando e o que acontecer, aconteceu.

ZZ: Quão importante seria?

JH: Obviamente seria um grande passo ser chamado, mas é algo que não está no meu controlo.

ZZ: E objetivos num futuro próximo, nesta época no Estoril?

JH: Esta época espero que possamos fazer o melhor possível e tentar um lugar europeu. Não vejo porque não possamos tentar isso, com a forma e qualidade que temos neste momento, desde que não fiquemos complacentes e continuemos a fazer as coisas assim. Tudo é possível. Depois disso, espero voltar para o Olympiacos, garantir um lugar na equipa e começar a jogar.

Escócia

Jordan Holsgrove

NomeJordan William Holsgrove

Nascimento/Idade1999-09-10(24 anos)

Nacionalidade

Escócia

Escócia

Dupla Nacionalidade

Inglaterra

Inglaterra

PosiçãoMédio (Médio Centro)

 GD Estoril Praia x GD Chaves

 GD Estoril Praia x GD Chaves

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