Espalhar brasas e derrubar o Muro

3 meses atrás 53

Esperar que um Muro caia com sopros e festinhas, só nas histórias de encantar. A realidade pedia a agitação de Chico Conceição, o espalha brasas, e teve de ser ele a decidir este Portugal-Chéquia, no sofrimento dos descontos. 

Primeiro toque na bola, a cruzamento de Pedro Neto, também lançado tarde e - pensava-se - a más horas, e golo. Porquê tanto tempo para entender o óbvio? 

O futebol moderno exige contundência e crueldade, características dispensáveis numa sociedade de bem, mas fundamentais para uma equipa conquistar o Euro24. 

O lado bom desta Guerra Fria ganha no limite é este: a equipa crescerá em cima da lição de ineficácia e o próprio selecionador perceberá que a qualidade deste grupo desaconselha tanta gente atrás durante tanto tempo. 

Revolução pela Esquerda

Não há volta a dar, não há uma segunda oportunidade para deixar uma boa impressão no primeiro embate. Portugal ameaçou, ameaçou, ameaçou tempo a mais, mas um Muro só cai por vontade do povo. 

Por uma Revolução. Roberto Martínez foi demasiado conservador, mexeu demasiado tarde e nunca desfez os três centrais. Só no limite da espera, nos segundos de desespero, o selecionador apostou na irreverência de Neto e Conceição. 

Difícil de entender. Depois de tanta bola e balas de borracha, o golo salvador. Pela esquerda. Neto a cruzar, um dos milhares defesas checos a falhar e Chico, no sítio certo, a decidir. 

Suspiros de alívio, pela justiça feita, mas também pela dificuldade em perceber o que o jogo há muito pedia. 

Porquê tamanho conservadorismo num jogo em que Portugal era tão superior?

Porquê a manutenção de uma linha de três, que retira um elemento aos dois setores da frente?  

Porquê o adiamento de uma decisão óbvia perante um bloco mais do que baixo dos checos? 

Vitinha e Bruno no comando operacional

O filme desta Revolução tardia é simples. Portugal foi melhor em tudo, durante todo o jogo. Mas encontrou inesperadas dificuldades no mais importante: fazer golos.

Vitinha e Bruno agarraram o jogo pelos colarinhos, fortíssimos com bola, mas foi estranho perceber qual a intenção de Roberto Martínez ao incluir Nuno Mendes no lote de três centrais, com Cancelo a fazer de terceiro médio no processo ofensivo. 

Portugal foi ameaçando aqui e ali, através de arrancadas de Rafael Leão, dois remates de Cristiano e um pontapé de Bruno, mas sabia a pouco. Uma mudança de regime não se faz às custas de conversas e murmúrios com um Muro. E este Muro checo era mais valente do que parecia. 

No primeiro remate a sério à baliza de Diogo Costa, Lukas Provod inaugurou o marcador ao minuto 62 e deixou o bloco português de cabelos em pé. 

O que fazer? 

A noite dos baixinhos

Na primeira medida tomada a partir do banco, Roberto Martínez lançou Gonçalo Inácio (para manter os três centrais) e Diogo Jota. O avançado do Liverpool mexeu, sim, ainda teve um golo anulado, mas só mesmo num autogolo de Hranac a equipa portuguesa foi capaz de celebrar.

Eram tantos checos na zona defensiva, que algum haveria de falhar. 

Empate refeito, o relógio a avançar perigosamente e Roberto Martínez, numa cartada aparentemente já fora de horas, acertou em cheio. Brincou com a sorte, sim, mas foram os últimos trunfos os que decidiram. 

O selecionador terá uma opinião contrária mas, para quem esteve em Leipzig, Portugal foi demasiado compreensivo e conservador quando possuía armas e condições para esmagar a Chéquia. 

Sobra o essencial: três pontos e um Muro destruído. Para que não haja mais barreiras até ao final feliz.  

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