Espanha. Acordo de 1,4 mil milhões de euros para proteger o Parque Nacional de Doñana

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Vista aérea mostra a lagoa de Santa Olalla, a maior lagoa permanente nas zonas húmidas de Doñana, completamente seca, a 9 de agosto de 2023. Conselho Nacional de Investigação espanhol/Carlos Ruiz via Reuters

O Governo espanhol vai alocar 1,4 mil milhões de euros para salvaguardar o Parque Nacional Doñana para impedir que uma das maiores zonas húmidas da Europa, seque. A ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, afirmou que o plano visa encorajar os agricultores a deixarem de cultivar culturas que dependam fortemente da água.

O Parque Nacional Doñana fica na região da Andaluzia, no sul da Espanha, entre as províncias de Huelva e Sevilha.

Classificado como Património Mundial da UNESCO e Reserva da Biosfera, Doñana é local de invernada para meio milhão de aves aquáticas e ponto de escala para outros milhões de aves que migram de África para o norte da Europa.

Considerado uma das maiores zonas húmidas da Europa, o Parque foi, nos últimos anos, fortemente atingido pela seca. Para além das temperaturas registarem máximos históricos no verão, a água dos aquíferos subterrâneos foi sobre-explorada pela agricultura na década passada.

Para reverter a situação agravada pelas alterações climáticas, a Ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, anunciou um acordo de investimento de 1,4 mil milhões de euros em áreas ao redor de Doñana.

O plano pretende encorajar os agricultores a deixarem de cultivar culturas frutícolas que dependem fortemente da água de aquíferos subterrâneos e diversificar a economia local.

O acordo sublinha a importância de mobilizar a opinião pública para impulsionar a transição verde e ainda, mitigar os efeitos da emergência climática, afirmou a ministra do Ambiente do país.

“Este é um acordo para acabarmos com a pressão sobre um tesouro natural, como há poucos no mundo”, reiterou Ribera.

Zona de pântanos do Parque Doñana | Foto: https://www.spain.info/

O presidente regional da Andaluzia, Juan Moreno, deixou claro que os “agricultores receberão incentivos financeiros” para parar de cultivar e reflorestar terras em cerca de 14 cidades próximas de Doñana e arredores. 

Moreno explicou também que os agricultores que queiram continuar a cultivar vão receber menos dinheiro, mas “devem passar a cultivar culturas secas de forma ecológica”.


Como parte do acordo, a Andaluzia cancelará os planos anteriormente anunciados para expandir a irrigação perto de Doñana, porém os ecologistas alertam para a possibilidade de colocar maior pressão sobre o aquífero.
Exploração de morangosOs ecologistas que trabalham dentro e perto do parque alertam há muito tempo que o seu ecossistema de pântanos e lagoas está sob forte pressão por causa da agricultura e do turismo.

É urgente explicar a necessidade de uma ação urgente para diminuir o risco que prejudique “o desenvolvimento a longo prazo da região” dizem os signatários.


Uma das aplicações dos 1,4 mil milhões de euros no parque da Andaluzia é travar a exploração ilegal do aquífero para irrigar as explorações de morangos.

“Há mais futuro do que morangos e framboesas”, observou Ribera. “E de qualquer forma, se não se cuidar da água, não haverá mais morangos ou framboesas. Acho que esta mudança de mentalidade precisa de uma compreensão muito clara” argumentou.

“É muito importante que aprendamos a combinar medidas estritamente ambientais com medidas para reduzir as pressões económicas e sociais na área quando se trata de infraestruturas verdes e de recuperação de espaços naturais”, vincou Ribera.

“É preciso transformar esse envolvimento num relacionamento virtuoso, no qual as pessoas tenham alternativas que lhes permitam sentirem orgulho do sítio onde vivem e não ver essas alternativas como uma limitação ou uma ameaça”, acrescentou.

Reconhecendo o desafio das mentalidades, a ministra deixou uma mensagem para a comunidade: “Isso é muito complicado e precisa de mais do que apenas lógica de engenharia ou projeções económicas. É necessária uma participação social muito importante e uma mudança cultural e emocional no que diz respeito aos comportamentos”.

No início de 2023, o Conselho Nacional de Investigação de Espanha relevou num estudo que 59 por cento dos grandes lagos de Doñana não estavam cheios desde, pelo menos 2013, e que a área estava em “condição crítica”

O relatório alertou ainda para o quase desaparecimento do maior lago permanente de Doñana. Nos últimos dois verões esse lago secou completamente e o parque foi recentemente retirado da lista verde da União Internacional para a Conservação da Natureza, por não cumprir os padrões necessários.

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