Espanha. Ministro da Cultura anuncia revisão estatal a museus para superar marcos coloniais

7 meses atrás 61

Um visitante vê um quadro no Museu do Prado, em Madrid Reuters

Depois da polémica com um quadro francês roubado por nazis no Museu do Prado, em Madrid, o ministro espanhol da Cultura anunciou uma nova medida em que serão realizadas revisões em todas as coleções pertencentes a museus estatais. Uma medida que pretende abrir um novo espaço para deixar as marcas coloniais para trás, sem desrespeitar os povos envolvidos.

“Os museus são organismos vivos que respondem às questões e debates do seu tempo. Nesse sentido, um dos objetivos a que nos propomos, seguindo a linha de recomendações internacionais, é estabelecer espaços de diálogo que permitam superar um marco colonial, ancorado em inércias de género ou etnocêntricas que se propagaram em muitas ocasiões”.

Numa primeira intervenção no Congresso espanhol, Ernest Urtasun, ministro espanhol da Cultura, pertencente à coligação Sumar, declarou que quer “estabelecer novos espaços de diálogo e troca que permitam superar este marco colonial”. Assim, a medida vai afetar museus como o Museu Nacional de Antropologia e o Museu da América (ambos na cidade de Madrid).

“Este trabalho consiste em tornar visível e reconhecer a perspetiva das comunidades e a memória dos povos que contém os bens expostos”, explicou Urtasun, continuando a declarar que a ideia é seguir o “avanço através de uma ideia concebida por outros museus espanhóis e internacionais”.

O ministro da Cultura de Espanha anunciou, na sequência da medida, a criação de uma nova Direção-Geral de Direitos que irá acompanhar todos os artistas e criadores artísticos cujas obras tenham sido censuradas do espaço público. A finalidade é criar um plano de direitos, apostado na liberdade de expressão, e que irá lutar contra qualquer forma de censura.

“A criação e produção culturais estão a sofrer um momento histórico de mudança em que a censura e a ingerência política ganham terreno na gestão cultural pública”, continuou Urtasun, que anunciou também uma nova lei do Património que irá incluir várias categorias novas como a paisagem cultural, o património industrial e as convenções internacionais ratificadas por Espanha.
Troca de acusações entre esquerda e direita
A discussão sobre a cultura espanhola surge em resposta a muitas ações do PP e do Vox em retirar do espaço público obras artísticas por motivos ideológicos. “Proteger a cultura e perceber a relevância em construir uma sociedade igualitária significa proteger a democracia, direitos fundamentais e liberdados do estado social”, disse Urtasun.

A direita espanhola não ficou impressionada pelos planos do ministro da Cultura e passou ao ataque, trocando acusações com o governo em funções.

“Acusam-nos de censura quando vocês – a esquerda “woke” (movimento progressista dos últimos anos) – são os campeões quando se fala em censura. Se alguém se desvia do caminho ideológico que vocês defendem, é imediatamente considerado um pária”, afirmou Joaquín Robles, porta-voz cultural do Vox.

Robles continuou as suas declarações dizendo que Urtasun comparou o passado colonial espanhol às atrocidades cometidas pela Bélgica no Congo e afirmou que Espanha nunca teve colónias mas sim vice-reinos.

“Sabe quantas universidades Espanha fundou na América espanhola? Mais de 27! E catedrais? As pessoas que lá viveram tinham os mesmos direitos que os espanhóis. Espanha nunca teve colónias”.

O PP não ficou atrás e o porta-voz da Cultura do partido de direita pediu a Urtasun para não se tornar num burocrata ideológico e que não deixasse a política permear o seu ministério.

“Não seja um burocrata ideológico e não se torne num ativista político no seu importante ministério. O senhor precisa de partilhar uma visão de Espanha que é aberta, plural e moderna… se continuar essa ideia perigosa de embrulhar a cultura numa bandeira de extrema-esquerda, estará a excluir uma parte importante da sociedade espanhola do amor e conhecimento que vem da cultura, e claro, das políticas necessárias para promover a cultura”, disse Borja Sémper.

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