01 ago, 2024 - 23:50 • João Pedro Quesado
Enquanto os oito prisioneiros russos libertados pelos Estados Unidos são espiões, piratas informáticos ou foram condenados por homicídio, os prisioneiros libertados pela Rússia são maioritariamente ativistas e opositores políticos de Putin, além de dois jornalistas e uma artista.
Vinte e quatro prisioneiros foram libertados esta quinta-feira, na maior troca entre a Rússia e o Ocidente em três décadas, desde a Guerra Fria. A troca aconteceu na Turquia, e foi a primeira entre Moscovo e o Ocidente desde a libertação de Brittney Griner, uma basquetebolista norte-americana, em dezembro de 2022.
A última grande troca de prisioneiros entre os Estados Unidos da América e a Rússia tinha sido já em 2010, e envolveu 14 pessoas.
Enquanto os oito prisioneiros russos agora libertados pelos Estados Unidos são espiões, piratas informáticos ou foram condenados por homicídio, os prisioneiros libertados pela Rússia são maioritariamente ativistas e opositores políticos de Putin, além de dois jornalistas e uma artista.
Evan Gershkovich
O jornalista do "The Wall Street Journal" foi detido em março de 2023 pelos serviços de segurança russos (FSB), mas já vivia na Rússia desde 2017, ano em que começou a trabalhar para o "The Moscow Times". A detenção aconteceu enquanto investigava as atividades do grupo paramilitar Wagner.
Acusado de espionagem, Gershkovich foi condenado a 16 anos de prisão numa colónia penal de alta segurança. O julgamento teve apenas três audiências.
Paul Whelan
Ex-fuzileiro que cumpriu serviço militar no Iraque, Paul Whelan foi detido no final de dezembro de 2018 num hotel em Moscovo, onde estava a festejar o casamento de um amigo. Whelan deixou os fuzileiros norte-americanos em 2008, acusado de má conduta.
Segundo o próprio Paul Whelan, um amigo de longa data que era agente do FSB "tramou-o", ao entregar-lhe uma pen que supostamente tinha fotos de viagens. A Rússia declarou que essa pen continha informações militares russas.
Whelan foi condenado, em 15 de junho de 2020, a uma pena de 16 anos de prisão, também numa colónia penal de alta segurança.
Alsu Kurmasheva
Ativista russo, Kara-Murza foi condenado a 25 anos de prisão em 2023, acusado de traição. A pena foi a mais longa atribuída a um político da oposição na Rússia pós-soviética. A detenção foi originalmente justificada com uma desobediência de ordens da polícia.
Protegido de Boris Nemtsov (que foi assassinado em Moscovo, com vários tiros, em 2015), Vladimir Kara-Murza faz parte de uma organização não-governamental que promove a democracia.
Em 2022, recebeu o prémio de direitos humanos Václav Havel, atribuído pelo Conselho da Europa; em 2024, recebeu o prémio Pulitzer pelas crónicas que continuou a escrever - e a publicar no "The Washington Post" - depois de ser preso.
Ilya Yashin
Opositor de Putin, foi líder do Partido Popular da Liberdade entre 2012 e 2016, participando em vários protestos contra o regime russo.
Em 2022, depois da invasão da Rússia à Ucrânia, foi detido e depois condenado a oito anos e meio de prisão, acusado de "espalhar informações falsas" sobre as atrocidades cometidas pelas tropas russas na cidade de Bucha, nos arredores de Kiev.
Depois da morte de Alexey Navalny, Yashin é considerado um dos mais populares líderes russos da oposição.
Sasha Skochilenko
Aleksandra Skochilenko foi condenada, em novembro de 2023, a sete anos de prisão numa colónia penal. O crime foi deixar, em março de 2022, etiquetas falsas num supermercado - em vez de preços, tinham escritas mensagens anti-guerra.
Vadim Krasikov
Vadim Krasikov foi condenado a prisão perpétua em 2021, na Alemanha, pelo assassinato de um combatente separatista checheno num parque no centro de Berlim, perto do parlamento alemão e em plena luz do dia, em 2019. Na acusação, os procuradores alemães indicaram que Krasikov trabalhou para o FSB - o juiz sugeriu que o assassinato foi encomendado pelo próprio Vladimir Putin.
Putin, sem mencionar Krasikov pelo nome, disse apenas que estava a tentar assegurar a libertação de alguém que tinha "eliminado um bandido numa das capitais europeias". Olaf Scholz, o chanceler alemão, disse que a decisão de libertar Krasikov tinha sido difícil, mas que a liberdade dos prisioneiros inocentes era mais importante.