Estado da arte plástica: prospectiva de 2024

9 meses atrás 68

A arte plástica contemporânea marcará, certamente, o espectro elitizado e centralizado da vida social, sobretudo na cidade de Luanda. Merece, por isso, de um olhar sempre atento e desperto sobre futuras propostas de jovens talentos que anseiam alcançar a sua devida afirmação artística, bem como de artistas já consagrados, ainda, em exercício fora de Luanda e de Angola.

Muitos dos jovens artistas angolanos estão submetidos a severos dilemas inerentes ao mundo da arte, que é regulada pelas relações pessoais e, sobretudo, pelo poder mercantil da arte contemporânea africana e cujo acesso é ditado pelo poder do dinheiro.

Sobre este facto é sempre importante recordar Appiah, no texto “Será o Pós em Pós-Modernismo o Pós em Pós-Colonial?”, que diz “David Rockefeller está autorizado a dizer tudo o que quiser sobre as artes africanas, porque é um comprador e está no centro, enquanto Lela Kouakou, que apenas cria arte e que vive nas margens, é um africano pobre cujas palavras apenas contam como parte do processo de mercadorização”. (…) Resumindo, quero lembrar-vos da importância de a arte africana ser uma mercadoria”.

Estes jovens não têm nem o espaço nem o tempo adequados para o seu amadurecimento artístico, tão necessário para o desenvolvimento de um e o envolvimento pleno num movimento artístico com marcas colectivas e afirmação da singularidade e da individualidade de cada membro. Estes estão submetidos, de forma excessiva, às exposições colectivas, o que reduz a singularidade de todo o processo criativo. Com efeito, uma proposta artística morre antes de se poder afirmar enquanto tal.

Uma afirmação artística não se realiza com um ou dois quadros seleccionados para servir o interesse da exposição. Estas exposições geram um tradeoff porque ajudam a trazer visibilidade para os jovens artistas, mas não conseguem assegurar uma proposta artística e intelectual, que é um vocativo artístico maior, na qual se estabelece uma ruptura entre o talento e o trabalho intelectual, entre a clareza e a obscuridade, entre a performance representativa e a afirmação de uma linguagem intelectual disruptiva.

Parece-nos, assim, que o estado da arte plástica angolana continuará a ser regulado pelas regras de mercado, ficando a criação artística refém dos interesses mercantis. Iremos, pois, continuar a navegar entre jovens talentos e artistas adiados. A tão desejada ruptura artística ficará, também ela, para segundo plano.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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