Estados Unidos acusam Rússia de atacar Ucrânia com mísseis da Coreia do Norte

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O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou na noite de quinta-feira que a Rússia disparou um míssil balístico norte-coreano contra a Ucrânia a 30 de dezembro, mas que este aterrou num campo aberto. No entanto, Kirby afirmou que as forças russas lançaram mais mísseis deste tipo como parte de uma grande salva, a 2 de janeiro, e que o seu impacto ainda não foi avaliado. Apesar de a Casa Branca não especificar o tipo de mísseis que Pyongyang enviou a Moscovo, Kirby afirmou que tinham um alcance de 900 quilómetros e mostrou um gráfico que parecia mostrar mísseis KN-23 e KN-24.

"Devido, em parte, às nossas sanções e controlos de exportação, a Rússia está cada vez mais isolada na cena mundial e tem sido forçada a procurar equipamento militar em países que partilham as mesmas ideias. Como temos vindo a alertar publicamente, um desses Estados é a Coreia do Norte", acrescentou Kirby aos jornalistas na Casa Branca, frisando que se trata de uma "escalada significativa e preocupante" no apoio de Pyongyang a Moscovo.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA revelou ainda que o alcance dos mísseis norte-coreanos é de 900 quilómetros e que, em troca das armas, a Rússia deverá fornecer aviões de combate, mísseis terra-ar, veículos blindados, equipamento de produção de mísseis balísticos e outras tecnologias avançadas à Coreia do Norte.Os mísseis são os novos SRBM de propelente sólido que a Coreia do Norte começou a testar em 2019.

Kirby classificou ainda a transferência de armas da Coreia do Norte para a Rússia como uma "escalada significativa e preocupante" e avançou que os Estados Unidos iriam impor sanções adicionais contra aqueles que facilitam os negócios de armas.

A utilização dos mísseis norte-coreanos foi condenada pela Grã-Bretanha, bem como pela Coreia do Sul, que, em novembro, tinha referido que a Coreia do Norte poderia ter fornecido SRBM à Rússia no âmbito de um acordo de armamento mais vasto que incluía também mísseis antitanque e antiaéreos, cartuchos de artilharia e morteiros e espingardas.

"A nossa informação indica que a República Popular Democrática da Coreia forneceu recentemente à Rússia lançadores de mísseis balísticos e vários mísseis balísticos", acrescentou Kirby, usando o nome oficial da Coreia do Norte.

Moscovo e Pyongyang negaram a realização de quaisquer negócios de armas, mas prometeram no ano passado aprofundar as relações militares.

"Isto teria implicações de segurança preocupantes para a Península Coreana e a região do Indo-Pacífico", realçou.


Kirby realçou também que os Estados Unidos esperam que a Rússia e a Coreia do Norte aprendam com estes lançamentos. Washington prevê que a Rússia usará outros mísseis norte-coreanos para atingir a Ucrânia.

Segundo Kirby, os serviços secretos norte-americanos sugerem que, em troca dos mísseis e de outros armamentos, a Coreia do Norte procura obter assistência militar da Rússia, incluindo aviões de combate, mísseis terra-ar, veículos blindados, equipamento ou materiais de produção de mísseis balísticos e outras tecnologias avançadas.Que mísseis foram lançados?
Embora a Casa Branca não tenha dito especificamente que tipo de mísseis Pyongyang enviou à Rússia, Kirby disse que os projéteis tinham um alcance de cerca de 900 quilómetros e divulgou um gráfico que parecia mostrar os modelos KN-23 e KN-24.

Estes mísseis são novos SRBM de propelente sólido que a Coreia do Norte começou a testar em 2019, afirmou à Reuters Ankit Panda, do Carnegie Endowment for International Peace, com sede nos Estados Unidos. "Este é o primeiro uso de combate conhecido desses mísseis norte-coreanos", disse.

Segundo Panda, a Coreia do Norte beneficiaria de quaisquer dados sobre o desempenho dos seus mísseis no campo de batalha, mas não é claro se a Rússia os partilhará.

"Os dados mais valiosos dizem respeito ao desempenho destes mísseis contra os sistemas de defesa aérea ucranianos, incluindo os fornecidos pela NATO", frisou.

Já Joost Oliemans, investigador neerlandês e perito nas Forças Armadas da Coreia do Norte, afirmou que as imagens das redes sociais ucranianas mostram claramente fragmentos do anel que alberga as válvulas de controlo que são características da família de mísseis Hwasong-11 da Coreia do Norte, que inclui o KN-23 e o KN-25.

O KN-23 de combustível sólido foi testado pela primeira vez em maio de 2019 e foi projetado para escapar das defesas de mísseis voando em uma trajetória mais baixa e "deprimida", explicaram os especialistas.

A Coreia do Norte testou o KN-23 a partir de veículos de lançamento com rodas, vagões de comboio, um silo enterrado e um submarino submerso.

"Apesar das características externas e do que alguns possam afirmar sobre o assunto, esta família de mísseis não parece estar substancialmente relacionada com o 9K720 Iskander russo e é, pelo contrário, um desenvolvimento autóctone da Coreia do Norte", acrescentou Oliemans.KN-24 assemelha-se ao Sistema de Mísseis Táticos do Exército MGM-140 dos EUA (ATACMS) e, tal como o KN-23, foi concebido para evadir as defesas antimísseis, voando numa trajetória mais plana do que os mísseis balísticos tradicionais.


O KN-24, também alimentado por combustível sólido, foi testado pela primeira vez em 2019 e parece ter entrado em produção em massa e implantado em unidades militares.

Como os norte-coreanos podem ter configurado os seus lançadores com base na sua vasta experiência com o equipamento soviético antigo, a curva de aprendizagem para as tripulações russas operarem os sistemas importados pode não ser particularmente grande, esclareceu Ankit Panda.

"Os conselheiros técnicos norte-coreanos podem estar na Rússia para aconselhar sobre o uso desses sistemas", acrescentou.A Coreia do Norte está sujeita a um embargo de armas das Nações Unidas desde que testou pela primeira vez uma bomba nuclear em 2006. As resoluções do Conselho de Segurança da ONU - aprovadas com o apoio da Rússia - proíbem os países de comercializarem armas ou outro equipamento militar com a Coreia do Norte.

Desde agosto, o porto de Rason, na costa nordeste da Coreia do Norte, tem recebido a visita de navios russos ligados ao sistema de logística militar do país, segundo funcionários dos EUA e da Coreia do Sul e com relatórios de investigadores ocidentais que citam imagens de satélite.

Em novembro, a Coreia do Norte tinha enviado de Rason cerca de dois mil contentores suspeitos de transportarem essas armas, incluindo possivelmente os SRBM, segundo Seul.

O KN-24 parece ser montado numa fábrica de armamento em Sinhung, que foi visitada pelo líder norte-coreano Kim Jong-un em agosto, acrescentou o investigador neerlandês.

"Os exemplares fotografados na altura podem muito bem ter sido enviados para a Rússia poucos meses depois", realçou.Kim Jong-un apelou a que a indústria de defesa aumentasse a sua produção para responder às ameaças dos EUA, mas não mencionou o fornecimento de armas à Rússia.

"Os preparativos para a guerra dão uma cobertura nacionalista para revigorar a indústria militar, tanto para reabastecer os stocks presumivelmente esgotados como para continuar a fornecer à Rússia stocks adicionais no futuro", disse, à Reuters, Jenny Town, diretora do Programa 38 North do Centro Stimson, que estuda a Coreia do Norte.

"A Rússia e a Coreia do Norte têm discutido uma série de questões no âmbito do aprofundamento das suas relações, desde o aumento do comércio à criação de zonas agrícolas conjuntas, passando pela modernização da antiquada força aérea norte-coreana e pela cooperação em matéria de satélites", acrescentou Town.Acordo com o Irão ainda não está concluído
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA fez também notar que o acordo entre Moscovo e Teerão não foi concluído, mas que Washington está preocupada com o facto de as negociações da Rússia para adquirir mísseis balísticos de curto alcance do Irão estarem a avançar ativamente”. A Administração Biden tem defendido que o Kremlin se tornou dependente da Coreia do Norte e do Irão, que já fornece a Moscovo os drones Shahed, para obter as armas de que necessita para travar a sua guerra contra a Ucrânia e agora divulgou descobertas dos serviços de informações que diz demonstrarem esta alegação.

“A Rússia está a contar com os seus amigos para poder restaurar os seus stocksmilitares e permitir a sua guerra contra a Ucrânia", acrescentou Kirby. "O Irão e a Coreia do Norte estão ao lado da Rússia. Os ucranianos merecem saber que o povo americano e este governo continuarão a apoiá-los".

"Por isso, é fundamental que o Congresso esteja à altura deste momento e responda fornecendo à Ucrânia o que ela precisa para se defender. O momento para o Congresso atuar é agora", defendeu.

O Irão não entregou mísseis balísticos de curto alcance à Rússia, mas Washington acredita que a Rússia pretende comprar sistemas de mísseis ao Irão. Moscovo tem estado fortemente dependente de Teerão para drones e outras armas para usar contra a Ucrânia.

c/ agências

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