Já ouviram falar no “Joaninha”? E no “Marreco”? Esta alcunhas dadas a automóveis acabaram por ficar mais famosas do que os nomes dos próprios modelos.
Não é só a amigos e conhecidos que somos pródigos a dar alcunhas. Pelo contrário, também temos por hábito atribuí-las a coisas, que, por este motivo ou outro, nos fazem lembrar algo bem distinto.
No caso dos automóveis não faltam exemplos desta «tentação», com algumas das alcunhas a suplantarem mesmo o nome verdadeiro do modelo.
Veja-se o caso, por exemplo, do Volkswagen “Carocha” que, hoje em dia, já poucas pessoas devem saber o seu nome oficial: Type 1. Não soa tão bem, pois não? A própria Volkswagen acabou por adotar o nome Beetle (escaravelho, carocha) para as gerações mais recentes do modelo.
© Razão Automóvel Volkswagen Type I. Mais conhecida por Carocha.As alcunhas automóveis são uma forma de homenagear alguns modelos que fazem parte da História do Automóvel.
Recordamos aqui 10 automóveis, mais e menos recentes, que ficaram conhecidos também pela alcunha que receberam. Muitas vezes carismática, outras vezes com conotações negativas, mas sempre, sempre, marcante.
Volkswagen Type 1 — “Carocha”
É, talvez, um dos melhores exemplos de um modelo cuja alcunha atribuída pelo público fez esquecer o verdadeiro nome pelo qual foi batizado.
© Volkswagen Volkswagen Type 1, 1938-2003Nascido em 1938, o Volkswagen Type 1 deve a alcunha “Carocha”, ou ainda “Besouro”, “Barata” e “Fusca” (Brasil), devido ao desenho da carroçaria. Facto que, ainda assim, não o impediu de tornar-se um dos carros mais vendidos de sempre, com mais de 21,5 milhões de unidades comercializadas.
Citroën DS — “Boca de Sapo”
Apresentado em 1955, o Citroën DS foi desenhado pelo italiano Flaminio Bertoni (não confundir com Bertone) e pelo engenheiro francês André Lefèbvre.
© Citroën Citroen DS 19, 1955-1975A fama foi imediata, assim como o sucesso comercial, fruto não só do design aerodinâmico e futurista, como também da tecnologia inovadora que envergava, e da qual fazia parte a suspensão hidropneumática.
Em Portugal e muito por culpa da secção frontal, não demorou muito para que ganhasse a alcunha — carinhosa — de Citroën “Boca-de-Sapo”.
Volkswagen Type 2 — “Pão de Forma”
Mais um Volkswagen que teve direito a «tratamento especial» no nosso país. Foi apresentando em 1950, com a denominação Type 2, mas acabou por ganhar rapidamente a alcunha de “Pão de Forma”, consequência, mais uma vez, do formato da carroçaria.
© Volkswagen Volkswagen Type 2, 1950-1967Ainda hoje a conhecemos assim, mas noutros países e latitudes, ficou conhecido como “Microbus”, “Minibus” ou ainda “Hippie Van” — referência à cultura hippie dos anos 60 e do movimento “Flower Power”.
Renault 4 — “4 Latas”
Nascido em 1961, é, ainda hoje, um dos modelos mais famosos da Renault. Foi também o seu primeiro modelo de tração dianteira.
© Renault Renault 4L, 1961-1992Batizado de Renault 4, ficou conhecido como 4L, ou “Quatrelle”, em Portugal. A sua simplicidade mecânica, a par da resistência para todo e qualquer tipo de desafios (participou, inclusivamente, no Dakar!), granjearam-lhe a alcunha de “4 Latas”. Ainda hoje muito procurado, deixou de ser produzido em 1994.
Ford Anglia 105E (1959-1967) — “Ora, Bolas!”
O nome Anglia tem uma longa história na Ford, mas houve um Anglia que se destacou de todos os outros, o Anglia 105E, muito por culpa do seu design.
© Ford Ford Anglia 105E, 1959-1968.Concebido pela Ford britânica — havia duas Ford na Europa, como se fossem duas marcas independentes, a britânica e a alemã —, e inspirando-se no estilo exuberante das berlinas americanas da época, o Anglia 105E destacava-se pela colocação do vidro traseiro num ângulo inverso ao convencional.
E daí vem a alcunha “Ora, Bolas!”, que era a expressão de desagrado usada quando se apreciava o estilo do carro: elegante e arredondado na frente, mas mais angular e com o vidro traseiro ao contrário atrás. Não foi impedimento para ter sido um sucesso comercial.
Mercedes-Benz W 136 — “Matateu”
Apresentado em 1936, o Mercedes-Benz W 136 só ganhou notoriedade em Portugal no pós-II Guerra Mundial, com a motorização Diesel, identificado como 170 D.
© Mercedes-Benz Mercedes-Benz W 136, 1935-1955.Foi um dos primeiros automóveis de passageiros equipado com um motor Diesel, e foi fundamental para solidificar a imagem de fiabilidade e resistência destes na marca da estrela. Não admira que também tenha sido o modelo de eleição entre os taxistas — sim, não foi só o 190 D…
O Mercedes-Benz W 136 foi também um dos poucos luxos do famoso futebolista do Belenenses, Sebastião da Fonseca Lucas, mais conhecido como “Matateu”. Cuja alcunha estendeu-se ao carro…
Renault 4CV — “Joaninha”
Só passou à produção após o final da II Guerra Mundial, em 1947, mas o Renault 4CV foi um projeto desenvolvido em segredo por três engenheiros franceses, ainda durante a ocupação nazi, na fábrica de Boulogne Billancourt. A influência do alemão “Carocha” não podia ser mais clara.
© Rundvald Renault 4CV, 1947-1961Quando começou a ser comercializado só tinha uma cor disponível, um amarelo-areia. Era o único tom disponível em grandes stocks no pós-guerra, que lhe fez ganhar uma alcunha local: “La motte de beurre”, que se traduz em “A Barra de Manteiga”.
Em Portugal, as semelhanças com o “Carocha” levaram o público a escolher outro coleóptero para batizar o pequeno e «fofinho» modelo: “Joaninha”.
Volvo PV444/544 — “Marreco”
Apresentado em 1944, o PV444 foi uma espécie de reinterpretação da Volvo, num corpo bem mais pequeno, dos enormes streamliners americanos, cujo sucesso acabou por suplantar as previsões do construtor sueco.
© Volvo Volvo PV444, 1944-1965Foi o primeiro automóvel de produção em série a contar com pára-brisas em vidro laminado e cintos de segurança de três pontos. Mas o PV444 e PV544 destacava-se por outro motivo: a sua traseira arredonda.
Os portugueses não «perdoaram» e rapidamente ganhou — com muitas piadinhas à mistura — a alcunha de “Marreco”.
Citroën Traction Avant — “Arrastadeira”
O Traction Avant acabou por estar envolvido na primeira falência da Citroën em 1934, o mesmo ano em que foi lançado. A Michelin, um dos maiores credores, acabou por ficar com a marca do double chevron e, no final disto tudo, o Traction Avant acabaria por ser um sucesso comercial.
© Citroën Citroën Traction Avant, 1934-1957.Foi um dos modelos mais inovadores de sempre, sendo também conhecido como o automóvel das “100 patentes”. Destaca-se a construção monobloco — inventada pela Lancia —, como o de ter sido um dos primeiros tração dianteira.
Em Portugal ganharia a alcunha de “Arrastadeira”, talvez por isso mesmo, o de ter tração às rodas da frente. E o de ser bem mais baixo que os rivais contemporâneos, devido à construção monobloco.
Além de tudo isto nunca é demais lembrar o papel do “Arrastadeira” na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É um dos símbolos maiores da resistência francesa à invasão nazi.
Volkswagen Polo G40 — “Caixão com rodas”
Não foi o único a receber esta alcunha, mas é um dos seus expoentes máximos. Antecessor do Polo GTI, o Volkswagen Polo G40 era a versão mais desportiva do utilitário.
© Volkswagen Volkswagen Polo G40, 1985-1994A designação G40 vinha do compressor “G-Lader”, que dava ao quatro cilindros de 1,3 l uma potência de 115 cv; e da admissão ao mesmo que tinha 40 mm de diâmetro. Os 0 aos 100 km/h em 8,1s e 195 km/h de velocidade máxima faziam deste um dos pequenos desportivos mais desejáveis da altura.
Mas não é à toa que se ganha a alcunha de “Caixão com Rodas”. Andava muito, sem dúvida, mas o comportamento, e sobretudo a travagem eram infames.