"Estou a fazer pressão". Marcelo volta a instar Governo e PS a entenderem-se no Orçamento

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“Se os dois grandes partidos não se entenderem, quem vai desempatar é o terceiro. A bola fica nas mãos da terceira força política”, reiterou o chefe de Estado, recuperando o que havia já afirmado na véspera, em declarações exclusivas à RTP.

“Ninguém está condenado porque estamos num país livre. Eu preferiria que eles se entendessem. Era o que é natural. Depois, não sendo assim, sobra para o terceiro partido. Eu aí preferiria que ele desempatasse de forma a haver Orçamento. E a última hipótese de que eu gostaria era isso vir parar às mãos do presidente, como é evidente”.Trata-se, na ótica do presidente da República de uma questão “do interesse nacional”.

Depois de desfiar a sua agenda para os próximos dias, Marcelo quis sublinhar que “o presidente da República, quando é eleito, um dos magistérios que tem é o da influência”: “Que é, sempre que entender que há um tema importante para o país, exercer a sua influência ou a sua pressão para que as coisas corram de uma maneira e não corram de outra”.

”Neste caso concreto, entendo que há razões internacionais muito diferentes dos últimos 30, 40 anos - a guerra na Ucrânia, a guerra no Médio Oriente, um problema que está a surgir da ausência de peso efetivo de grandes potências, a ausência dos Estados Unidos da América neste momento internacional com um peso efetivo patente, uma viragem de ciclo na União Europeia, só entram em funções os novos dirigentes no fim do ano, o agravamento da situação económica em economias que achávamos que eram muito fortes, sempre, a Alemanha, para onde exportamos muito. Portanto, correr mal a economia de países para onde exportamos”, enumerou.

“Tudo isso explica porque é que eu dou uma importância maior ao Orçamento deste ano do que sempre dei ao longo da minha vida”, completou o presidente.

“Agora, o que tenho feito é, de facto, influência, não nego. Quando dizem mas ele está a fazer influência?, estou a fazer influência. Está a fazer pressão? Estou a fazer pressão”, admitiu.“Ou se considera que nesta situação do mundo e da Europa há um interesse nacional que explica que o Orçamento passe, ou se acha o contrário”, acentuou Marcelo Rebelo de Sousa, em resposta às questões dos jornalistas.

“Abdicando de convicções. Eu abdiquei de convicções como líder da oposição, em muitos pontos, para acertar com o engenheiro Guterres um acordo. Abdiquei. Era mais cómodo para mim, naquela altura, realmente não ter abdicado de alguns pontos. Fui muito atacado no partido”, recordou.

“O mesmo se aplica no lado do Governo. O Governo tem de perceber que o facto de ter um programa que passou no Parlamento não quer dizer que o aplique todo no imediato. E se tiver de fazer cedências no programa para tornar possível o acordo, deve fazer cedências no programa”, prescreveu Marcelo Rebelo de Sousa, para lembrar que “os resultados eleitorais foram ninguém ter maioria”.
“Pressão brutal”
Horas antes destas declarações do presidente da República, o líder do PS propugnou, a partir dos Açores, que não se pode ilibar o Chega de André Ventura de “responsabilidades políticas” no processo do Orçamento do Estado.

Ao intervir no Congresso Regional do PS nos Açores, Pedro Nuno Santos afirmou ainda que o partido está ser alvo de uma "pressão brutal" para sustentar um Governo de direita. E acusou o Executivo de Luís Montenegro de radicalismo por "governar para uma minoria", referindo-se à proposta do IRS Jovem.

"Não façam é o favor ao Chega de o ilibar de ser também um partido com responsabilidades políticas. Não isentem o Chega de responsabilidades. Não isentem o Chega de avaliação e de crítica porque esse é o pior serviço que estão a fazer à democracia portuguesa", acentuaria o secretário-geral socialista.O Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, foi o palco escolhido para o 19º. Congresso Regional do PS açoriano.

Segundo Pedro Nuno Santos, a viabilização socialista "sem mais" do Orçamento do Estado equivaleria à "anulação do partido": "Deixar o Chega à solta, o PS anular-se como alternativa política ao PSD, esse sim é o melhor contributo para o Chega e para degradarmos a democracia portuguesa".

Os socialistas, prosseguiu, "apenas querem a retirada de duas medidas", ou seja, a baixa do IRC e o IRS Jovem.

"Qual é a cedência do PS, perguntam vários. A cedência do PS é viabilizar um OE que não é seu. É viabilizar um OE que vai ser desenhado pelo PSD de uma ponta a outra. Não estamos a interferir nas medidas para a saúde, educação, agricultura, para economia ou defesa. Só dissemos que não queremos duas medidas em centenas de páginas", vincou.
"Fantasia"
No entender do secretário-geral do PS, que recusou as acusações de radicalismo, é uma "fantasia" acreditar que o IRS Jovem "irá reter jovens talentos". "A maioria dos jovens vai beneficiar zero do IRS jovem. Radical é quem governa para a minoria", contrapôs.Na passada sexta-feira, após a reunião bilateral, em São Bento, com Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro considerou "radical e inflexível" a proposta do PS para o Orçamento do Estado. Ainda assim, prometeu um "esforço de aproximação" por via de uma contra-proposta a entregar na próxima semana.

Pedro Nuno deixou ainda críticas à redução do IRS de "forma transversal e sem critério". Tal redução, advogou, deve ser dirigida às empresas que dão "bom destino aos lucros" com "valorização salarial".

"O PS não vai capitular perante o Governo. Isso não vai acontecer. Porque os 78 deputados do PS não foram eleitos para executar o programa de governo do PSD, mas o PS está disponível para ceder e viabilizar um Orçamento que em larga medida não concorda em troca de duas medidas", enfatizou o dirigente partidário.
“Inflexibilidade”
Por sua vez, em Figueira de Castelo Rodrigo, o secretário-geral do PSD acusou também este domingo vários líderes parlamentares de “inflexibilidade” nas negociações para o Orçamento do Estado.

“Eu assisti, este fim de semana, a demonstrações de uma enorme inflexibilidade por parte de vários dirigentes partidários com grande responsabilidade”, apontou.

Hugo Soares pediu “recato” e “sentido de Estado” e disse querer perceber quem vai ser capaz de colocar o interesse nacional à frente dos interesses partidários.

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