Estudante moçambicano denuncia agressões e racismo num bar em Lisboa

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Um estudante moçambicano alega ter sido agredido e alvo de racismo, juntamente com outro jovem, por parte dos seguranças do bar Oásis by Aché, em Lisboa, na madrugada de domingo. O estabelecimento já se pronunciou e, sem nunca se referir às alegadas agressões, recusou qualquer discriminação racial.

Ao Notícias ao Minuto, Aires Chichava, que destaca o bom acolhimento que sempre recebeu por parte dos portugueses nos seis meses que está em Portugal, denunciou ter sido "vítima de racismo e agressões na madrugada de ontem, 4 de agosto".

O jovem, imigrante moçambicano que está a fazer um curso de Engenharia Informática e de Computadores no Técnico Lisboa, alega que tudo aconteceu na discoteca/bar Oásis by Aché, onde, juntamente com "outro jovem negro", identificado como Edilson, foi vítima "de brutalidade e racismo pelos seguranças (brancos) do estabelecimento".

"Fomos barrados na entrada sob a desculpa de que o local estava cheio e que deveríamos aguardar. O que aconteceu em seguida deixou-nos surpresos e indignados, pois não entendíamos por que motivo outros podiam entrar e nós não. Logo percebemos que se tratava de racismo e protestámos", contou, referindo que "outras pessoas brancas, que não estavam juntas, chegavam e entravam". 

O jovem terá avisado "que iria gravar a situação, mas os seguranças alegaram direitos de imagem e, em respeito," não procedeu à gravação. "Continuámos a questionar o motivo daquela discriminação e, segundos depois, o Edilson foi agredido com socos. O Edilson, que é deficiente físico (com o braço esquerdo paralisado), ficou com hematomas na cara e feridas na boca", relatou, referindo que só um dos dois seguranças no local é que esteve envolvido nas agressões. 

Pouco depois de ver o amigo ser agredido, Aires Chichava diz que foi "derrubado no chão e também agredido com socos, ficando indefeso" no chão.

"Neste momento, não consigo comer alimentos sólidos, pois os meus dentes da frente estão abalados, as minhas gengivas feridas, a minha boca inflamada e a minha cara machucada", afirmou. 

O estudante deslocou-se ao Hospital de São Francisco Xavier, onde lhe foi dito que não tinha nenhuma fratura, mas onde lhe foi recomendado uma ida ao dentista, estando já a receber tratamento. O outro jovem, apesar dos ferimentos sofridos, optou por não se deslocar a qualquer unidade hospitalar.

Aires Chichava confirmou que o estabelecimento entrou em contacto consigo, referindo que "não era um caso de racismo", mas o jovem insististe na sua versão, frisando que quer partilhar a sua história para "empoderar outras pessoas a denunciarem e partilharem os seus casos de agressão e racismo, sensibilizando a sociedade" para este problema e para que não aconteça "com mais ninguém, independentemente da cor".

"Não são os portugueses, são algumas pessoas que mancham a imagem de Portugal", disse o jovem, destacando que sempre foi bem tratado e que os "amigos portugueses foram os primeiros a manifestar preocupação".

Foi apresentada queixa à Polícia de Segurança Pública (PSP). O Notícias ao Minuto entrou em contacto coma  força de segurança para obter mais esclarecimentos e aguarda uma resposta.

Bar fala em "superlotação" e nega "qualquer forma de discriminação racial"

Através das redes sociais, o Oásis by Aché emitiu uma nota de esclarecimento sobre os "eventos da noite de ontem", onde começa por referir que preza pelo "respeito, inclusão e igualdade de todos os clientes, independentemente da sua cor, raça, género ou orientação sexual".

"Devido à superlotação, dois clientes foram impedidos de entrar, o que gerou um mal-entendido", lê-se na nota, na qual o estabelecimento refere que "a decisão de barrar a entrada não teve qualquer relação com questões raciais". 

"Outros clientes estavam a fumar do lado de fora e, por isso, já eram considerados presentes antes da superlotação", acrescenta, sem se referir a qualquer agressão. 

Adicionalmente, o bar refere ainda que "a entrada no bar exige o cumprimento de um determinado dress code, que é aplicado para manter o ambiente e os padrões" do estabelecimento. 

"Reiteramos que o Oásis by Aché repudia qualquer forma de discriminação racial. O proprietário do nosso estabelecimento é um homem negro e africano e ele jamais aceitaria qualquer ato de racismo no seu bar", acrescenta, mostrando disponibilidade para "dialogar com os envolvidos e esclarecer quaisquer dúvidas".

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