Estudantes brasileiros participam em intercâmbio em Moçambique em missão contra o racismo

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O Brasil vai levar 50 estudantes brasileiros à Universidade Pedagógica de Maputo, num intercâmbio de partilha de experiências para o combate ao racismo, em "lutas que são comuns, na diversidade de cada país", explicou à Lusa uma responsável.

O "Caminhos Amefricanos: Programa de Intercâmbios Sul-Sul", desenvolvido pelos Ministérios da Igualdade Racial e da Educação brasileiros, pretende levar estudantes e docentes brasileiros a países africanos, latino-americanos e caribenhos, e contribuir para o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial no Brasil, onde a área da educação é "ainda tão fortemente eurocentrada", disse a coordenadora-geral da Coordenação de Justiça Racial e Combate ao Racismo, Kátia Regis.

Promover a cooperação académica entre instituições de ensino superior do Brasil e dos países africanos, latino-americanos e caribenhos, promover o diálogo entre países da diáspora africana na América Latina e Caraíbas para a apreensão de conhecimentos utilizados para o combate e superação do racismo e das políticas públicas educacionais de inclusão da História e Cultura Africana e da Diáspora Africana e igualdade racial contam-se entre os objetivos do programa.

Para a professora universitária em Estudos Africanos e Afro-brasileiros, é necessário o acesso ao conhecimento sobre história e cultura africana e afro-brasileira", já que "as práticas curriculares passam ainda uma visão muito estereotipada sobre o continente africano".

Por isso, o objetivo do intercâmbio em Moçambique é que o público "tenha acesso às lutas da população afrodescendente na diáspora africana", detalhou.

"Pensar em políticas públicas que incentivem o intercâmbio com diferentes países africanos é uma forma de conhecer esses diferentes países, ou seja o continente africano real: as suas lutas, os seus desafios, as suas potencialidades, as suas contradições", frisou.

Nos próximos cinco anos, este programa levará estudantes a 15 países, sendo que Moçambique e Cabo Verde estão contemplados para 2024.

O programa é destinado exclusivamente a estudantes que se autodeclarem pretos, pardos ou quilombolas.

Para justificar este critério, Kátia Regis sublinhou que "no Brasil o racismo é estrutural" e no acesso a intercâmbios internacionais "esse público é o menos favorecido".

"O foco deste grupo específico entra dentro do contexto de uma política de ação afirmativa de incentivar grupos que historicamente tiveram excluídos, ou tiveram menos acesso", afirmou.

No caso de Moçambique, com as candidaturas aceites até 04 de janeiro próximo, 50 estudantes do Brasil serão acompanhados por cinco docentes que, em agosto e durante 15 dias, vão-se juntar a 10 estudantes de licenciatura e três docentes de ensino superior moçambicanos na Universidade Pedagógica de Maputo.

Nestes dias, serão realizados eventos académicos junto da universidade moçambicana, visitas guiadas a escolas, locais históricos e contactos com a sociedade civil, para conhecer as revindicações e lutais locais, detalhou Kátia Regis.

No final os participantes terão de elaborar um artigo, ou um plano de aula sobre história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil.

Está ainda previsto que os docentes moçambicanos visitem posteriormente o Brasil.

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