Os peixes-zebra utilizam mecanismos semelhantes aos humanos para lerem e imitarem emoções, revela um estudo liderado pelo professor Rui Oliveira do Ispa-Instituto Universitário, em parceria com o Instituto Gulbenkian da Ciência, publicado recentemente na revista “Science”.
A descoberta pode revolucionar o estudo do cérebro e deste comportamento social determinante para o bem-estar humano.
“As conclusões deste estudo vêm revelar que o comportamento social não é exclusivo dos humanos. Os dados confirmam que os mecanismos que usamos para sincronizar emoções remontam ao grupo mais antigo de vertebrados, os peixes”, afirma Rui Oliveira.
Os investigadores quiseram compreender se, tal como os humanos e outros mamíferos, o peixe-zebra também necessita da oxitocina para adotar as emoções dos outros. As experiências que desenvolveram mostram que, quando veem um cardume da mesma espécie com movimentos de alarme, os peixe-zebra, semelhantes àqueles que encontramos na natureza, espelham este comportamento.
Pelo contrário, peixes com modificações genéticas na oxitocina ou nos seus recetores continuam a nadar calmamente mesmo quando veem os seus vizinhos em apuros. Isto demonstra que esta molécula é necessária para que o medo e os comportamentos a ele associados se propaguem, por exemplo, quando um dos membros do cardume foi atacado.
Como se pode garantir que os peixes reconhecem o medo nos seus congéneres e não estão simplesmente a copiar o seu comportamento? “Percebemos que os observadores se aproximam do cardume que observaram em alerta mesmo quando este já voltou a nadar normalmente, enquanto os peixes com mutações preferem manter-se próximos do grupo que esteve sempre num estado neutro”, explica Kyriacos Kareklas, investigador pós-doutorado do Instituto Gulbenkian de Ciência e coprimeiro autor do estudo.
Por outras palavras: através da oxitocina, os peixes-zebra descodificam e imitam o estado emocional do cardume vizinho, passando a comportar-se de forma semelhante.
O facto dos peixes se aproximarem do cardume em estado de alerta não deixa de ser impressionante, já que na natureza isto pode significar que um predador está por perto. Apesar de os pôr em risco, “a aproximação pode ajudar o grupo a recuperar do stress”, esclarece o investigador. Estas ações orientadas para o outro estão bem descritas nos mamíferos e são também reguladas pela oxitocina.
A oxitocina não é o único fator comum entre peixes e humanos no que diz respeito ao contágio emocional. “As áreas cerebrais que os peixes-zebra usam para reconhecer e sintonizar emoções são equivalentes a algumas que nós humanos também usamos”, explica o investigador principal Rui Oliveira. Isto faz deste peixe um modelo de eleição para estudar este comportamento social e os mecanismos neurais subjacentes.
O estudo abre assim novos caminhos para compreendermos como somos contagiados pelas emoções dos outros e como isso molda o nosso bem-estar e a sociedade, com implicações que vão desde a saúde pública e a política ao marketing.