Estudo acredita que Rapanui eram muito menos do que se pensava

3 meses atrás 82

Conta-se que, com o tempo, a população Rapanui disparou para níveis insustentáveis e esgotou os recursos da ilha, que chamaram de Rapa Nui: cortaram todas as árvores, mataram as aves marinhas e esgotaram o solo.

Quando os europeus chegaram em 1722 (dia de Páscoa, daí o nome Ilha de Páscoa), esta civilização da qual ainda existem vestígios, como as enormes estátuas de pedra conhecidas como 'moai', entrou em colapso e apenas alguns milhares de pessoas permaneceram.

Um recente estudo científico questiona agora esta narrativa e argumenta que a população de Rapa Nui não cometeu ecocídio nem atingiu níveis insustentáveis, mas muito pelo contrário: aqueles polinésios encontraram formas de lidar com as condições limitadas da ilha e mantiveram uma população pequena e estável durante séculos.

A prova: uma sofisticada invenção de engenhosas "hortas rupestres" onde os ilhéus cultivavam batatas-doces altamente nutritivas, um alimento básico da sua dieta e suficiente para sustentar alguns milhares de pessoas, noticiou a agência Efe.

O estudo, publicado na sexta-feira na revista Science Advances, foi liderado por Dylan Davis, da Columbia Climate School (Nova Iorque).

"Estas hortas demonstram que a população nunca poderia ter sido tão grande como algumas das estimativas anteriores", e que "estas pessoas conseguiram ser muito resilientes com recursos limitados, modificando o ambiente para obter produtos", sublinhou.

A Ilha de Páscoa é possivelmente o lugar habitado mais remoto da Terra e um dos últimos a ser colonizado pelo homem, senão o último.

A massa continental mais próxima é o centro do Chile, quase 3.000 quilómetros a leste. Cerca de 5.000 quilómetros a oeste estão as ilhas tropicais Cook, de onde se acredita que os colonos tenham navegado por volta do ano 1.200 d.C.

A ilha é composta por rocha vulcânica, mas, ao contrário das exuberantes ilhas do Havai e do Taiti, as erupções cessaram há centenas de milhares de anos e os nutrientes minerais fornecidos pela lava foram perdidos.

Alguns cientistas sustentam que a ilha tinha de albergar muito mais habitantes do que os quase 3.000 que os colonizadores europeus viram pela primeira vez, e vários estudos baseados no rendimento das colheitas e outros fatores sustentam que a população Rapanui poderia ter sido de 17.500 ou 25.000.

Para fazer este estudo, a equipa passou cinco anos a analisar o terreno rochoso e as suas características e, a partir desses dados, treinaram uma série de modelos de aprendizagem para detetar estes 'jardins' através de imagens de satélite e infravermelhos, que destacam não só as rochas, mas também os solos com mais humidade e nitrogénio, essenciais para as hortas.

A equipa concluiu que os jardins de pedras ocupam apenas cerca de 188 hectares, menos de metade da superfície da ilha e que toda a alimentação era baseada na batata-doce, estes jardins poderiam ter sustentado cerca de 2.000 pessoas.

No entanto, com base em isótopos encontrados em ossos e dentes e outras evidências, a população obtinha entre 35% e 45% da sua dieta a partir de fontes marinhas, e uma pequena quantidade a partir de outras culturas menos nutritivas, como a banana e a cana-de-açúcar.

Se estas fontes fossem tidas em conta, a capacidade de suporte da população teria ascendido a cerca de 3.000 habitantes, valor observado pelos primeiros europeus.

Para Carl Lipo, da Universidade de Binghamton e coautor do estudo, embora a ideia da ascensão e queda desta civilização "continue a reinar na opinião pública", é difícil que isso tenha acontecido perante as características da ilha.

Leia Também: Rússia diz que visita de flotilha russa a Cuba surtiu efeito desejado

Ler artigo completo