Estudo. Precariedade tem impacto na saúde dos jornalistas

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5.º Congresso dos Jornalistas

19 jan, 2024 - 17:56 • Ana Catarina Mendes

Chefias esperam dos jornalistas disponibilidade total, uma parte da qual não remunerada, demonstra estudo.

A precariedade crescente do setor tem consequências para a saúde dos jornalistas. Este é um dos resultados preliminares do estudo sobre precariedade no jornalismo, feito pela Rede interuniversitária de Estudos sobre Jornalistas, e apresentado esta sexta-feira no 5.º Congresso de Jornalistas.

Segundo Alexandra Figueira, professora da Universidade Lusófona do Porto, o estudo mostrou também que há jornalistas que reportam situações laborais noutros setores que, no final, não são tão más quanto as que eles próprios vivem.

“Alguns [profissionais] notaram com bastante amargura que, por vezes, são chamados a reportar sobre situações de conflitos ou quadros laborais [noutros setores] que sendo maus, não são tão maus quanto os deles próprios”, disse Alexandra Figueira, professora da Universidade Lusófona do Porto, uma das autoras do trabalho. Segundo a investigadora, há também profissionais que, para se sustentarem, têm outros empregos ou contam com o apoio da família.

O estudo qualitativo, baseado em 30 entrevistas, evidenciou ainda que as chefias esperam dos jornalistas disponibilidade total, uma parte da qual não remunerada.

“Nestas situações precárias nem sequer há um horário indicativo, porque da parte das hierarquias existe a expectativa que trabalhem ou estejam disponíveis sete dias por semana, 24 horas por dia, sem capacidade para organizarem a sua vida pessoal, familiar. Não têm direito a folgas, férias. Por vezes, tiram uma semana, duas, obviamente não remuneradas”, adiantou a investigadora.

Segundo Alexandra Figueira, muitos jornalistas sentem-se invisíveis, frustrados, mas encaram a profissão como serviço à sociedade. Devido à crise no setor, dizem optar por trabalhos cuja cobertura é mais imediata, como acidentes, por exemplo, em vez de reportagens de fundo.

O medo de perder o trabalho e a fonte de rendimentos foi outro dos aspetos “transversais” entre os entrevistados. “Quando se tem medo a possibilidade para resistir a pressões é forçosamente deteriorada”, lamentou Alexandra Figueira.

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