EUA "devem" fazer tudo para evitar guerra total entre Israel e Hezbollah

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Numa análise publicada no portal da instituição, o ICG alerta para o perigo de, um ano após o início do conflito com o Hamas, a 7 de outubro de 2023, se entrar numa "guerra de grande escala" no Médio Oriente, pois a luta de Israel contra o movimento islamita palestiniano já está "quase ultrapassada" pela intensificação dos ataques contra o Hezbollah, pró-iraniano.

"A poucas semanas da votação presidencial nos EUA, a Casa Branca confronta-se com um desastre que é, em parte, da sua própria responsabilidade. Os responsáveis norte-americanos, que não veem agora qualquer esperança de um cessar-fogo em Gaza, tentaram, na sua última ação diplomática, dissociar os dois teatros - Gaza e a fronteira norte - insistindo num resultado no Líbano que não dependa de Gaza", refere o ICG.

No entanto, defende, a tentativa parece destinada a falhar, dado a recusa do Hezbollah em ceder à exigência de um cessar-fogo em Gaza antes de pôr fim ao lançamento de foguetes.

Para o ICG, uma organização não-governamental criada em 1995 com o objetivo de contribuir para a prevenção e gestão pacífica de conflitos violentos, "o melhor caminho para a administração Biden seria fazer um último esforço para o cessar-fogo em Gaza, que continua a ser a forma mais segura de recuar do limite".

"Embora o historial de Biden desde o início da guerra de Gaza sugira pouca vontade de mudar de rumo, ele já não é o candidato democrata à presidência e talvez tenha maior flexibilidade para lidar com a crise, embora uma posição mais razoável de Netanyahu possa não garantir um acordo", sustenta o ICG.

"Não há uma resposta óbvia sobre a melhor forma de conciliar o uso da influência dos EUA sobre Israel, que, para ter alguma esperança de funcionar, deve incluir o condicionamento da ajuda militar e do apoio diplomático, com as exigências da sua política interna, ao mesmo tempo que se encoraja a flexibilidade de um primeiro-ministro israelita que acredita que pode esperar que Biden saia", acrescenta o ICG.

Para o grupo, a janela para evitar a guerra no Médio Oriente que Biden passou grande parte do ano passado a trabalhar para evitar "pode estar a fechar-se".

"Corre o risco de ficar com um legado na região manchado não só pelo terrível sofrimento em Gaza e pela detenção continuada dos reféns, mas também pelo fracasso em evitar uma conflagração que atraia as forças norte-americanas", argumenta.

Mas a ONG, com sedes divididas por Bruxelas, Washington e Nova Iorque, lembra que, a dada altura, o Hezbollah irá responder em força a Israel, contando, para tal, com o Irão, já uma potência nuclear, "um conflito que devastaria o Líbano e, provavelmente, também Israel".

"Os EUA devem pressionar mais para um cessar-fogo em Gaza. [...] A administração Biden deve esforçar-se, nas semanas que antecedem a votação de novembro, para pôr fim à guerra de Gaza, utilizando a sua influência - o seu apoio militar e diplomático a Israel - para esse fim", defende o ICG.

"Caso contrário, devem pressionar Israel a parar com a sua atitude malabarista e a seguir uma via diplomática para deslocar os combatentes do Hezbollah para norte", acrescenta.

O ICG lembra, por outro lado, que há anos que os responsáveis israelitas têm vindo a assinalar que o Hezbollah tem de ser afastado da fronteira e do norte do rio Litani, em conformidade com a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que marcou o fim da guerra entre Israel e o Líbano em 2006.

"Utilizando a ameaça de uma invasão terrestre para criar uma zona tampão no interior do Líbano, Israel parece estar a tentar coagir o Hezbollah a abandonar a sua exigência de que um cessar-fogo em Gaza é uma condição prévia para a tranquilidade no norte de Israel e também a retirar as suas forças ao longo da fronteira. Mas esta pressão pode também ser o prelúdio de uma campanha mais alargada", adverte o ICG.

O secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, num discurso a 19 deste mês, reiterou que o cessar-fogo em Gaza é um objetivo inegociável, tendo centenas de combatentes morrido em prol desta causa.

"Abandonar agora esta posição equivaleria a uma derrota histórica, que representaria um golpe ainda mais devastador para a credibilidade do grupo do que as suas falhas de segurança. Os líderes do Hezbollah têm afirmado repetidamente que veem a guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, e a sua própria luta paralela, como uma batalha pelo equilíbrio estratégico em todo o Médio Oriente, uma batalha que não se podem dar ao luxo de perder", sustenta a instituição de análise internacional.

Aliás, prossegue, os operadores de 'drones' do Hezbollah "têm-se mostrado hábeis a enganar as defesas aéreas de Israel" e alguns peritos militares israelitas receiam que o conflito dos últimos 11 meses tenha dado ao partido a oportunidade de estudar estes sistemas e de descobrir formas de os contornar.

"As consequências para Israel podem vir a ser muito mais graves do que as do devastador ataque do Hamas de 07 de outubro. Se o Irão, juntamente com os seus aliados não-estatais na Síria, Iraque e Iémen, decidir entrar na luta e proteger o Hezbollah, um trunfo que construiu ao longo de décadas, sobretudo para dissuadir Israel de atacar o próprio Irão, esse confronto poderá transformar-se numa guerra regional que, quase de certeza, atrairia os EUA", adverte o ICG.

Para o ICG, "é provável" que a Casa Branca esteja hoje mais receosa do que antes de ameaçar reter a ajuda a Israel, a poucas semanas das eleições, e numa altura em que o país pode enfrentar uma guerra total a partir do Norte.

"Netanyahu também não é o único obstáculo. O líder do Hamas, Yahya Sinwar, também tem direito de veto. No entanto, ao desistir do cessar-fogo, a equipa de Biden pode deixar os democratas à entrada da votação de novembro com os EUA enredados numa guerra em grande escala entre Israel e o Hezbollah. Alguns democratas suspeitam que Netanyahu pode estar a aumentar as coisas no norte precisamente para minar as perspetivas da vice-presidente Kamala Harris em favor das do candidato republicano Donald Trump", sustenta.

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