Euro2024: “Evento é positivo para a economia alemã que tem sido bastante penalizada”, diz analista da XTB

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Henrique Tomé considera que este tipo de competições desportivas são importantes estímulos económicos, numa altura em que a Europa está a entrar numa fase em que o crescimento é muito modesto, por via das políticas monetárias que o Banco Central Europeu tem adotado.

Que impacto económico tem a organização de um campeonato da Europa para um país? Como podem as marcas desportivas valorizar ao nível do mercado bolsista e que ideias pode Portugal retirar para a organização do mundial em 2030? Estas e outras questões foram respondidas em entrevista ao Jornal Económico (JE) por Henrique Tomé, analista da XTB, empresa que realizou um estudo sobre os impactos económicos que esta competição pode ter na Alemanha, onde a competição arranca esta sexta-feira.

Que impacto económico vai ter este campeonato da Europa na Alemanha?

Estamos a atravessar um período em que a economia europeia está a entrar numa fase em que o crescimento é muito modesto, por via das políticas monetárias que o Banco Central Europeu tem adotado.

Este tipo de eventos acaba por estimular a atividade económica. Neste caso em concreto é bastante positivo, na medida em que a economia alemã tem sido bastante penalizada nos últimos anos, não só pelas políticas monetárias restritivas do BCE, como também da questão da crise energética em que a Alemanha ficou muito afetada com a questão da guerra no leste da Europa.

Esperamos que o impacto seja positivo, claro que há sectores que beneficiam mais do que outros e se olharmos para os eventos passados, conseguimos ver que as companhias aéreas, a hotelaria, as marcas desportivas também acabam por beneficiar um pouco mais. Mas, de um modo geral, em termos de atividade económica, acaba por ser benéfico nesse sentido.

Esse ponto das marcas. Uma das polémicas que marcou este pré-campeonato da Europa foi o facto da Alemanha, não ir equipar pela primeira vez com a Adidas. De que forma esta decisão afeta a valorização de uma marca desportiva?

Normalmente as ações das empresas tendem sempre a valorizar na ordem dos 30% nos meses a seguir ao evento.

Normalmente já sabemos que há sempre uma corrida às camisolas dos jogadores há sempre um aumento das vendas que depois vai-se traduzir também nos anos earnings das empresas. Neste caso, acho que apesar da polémica, não vai ter assim muito impacto nas vendas da marca.

De que forma é que a Puma irá tentar aproximar-se dos grandes players do mercado por ser a primeira vez que vai patrocinar as camisolas da Alemanha?

É uma porta aberta de marketing a grande escala, que certamente vai beneficiar muito a marca. Se olharmos para o caso da Nike, que é possivelmente mesmo em termos de performance financeira a maior, vemos que a grande aposta da empresa é o marketing. No caso da Puma, não tem tanta quota de mercado como  a Nike e mesmo da Adidas, portanto acredito que vá beneficiar bastante desta

Há 20 anos no europeu em Portugal houve um impacto de 440 milhões, sendo que 140 milhões foram para o turismo. Transportando para o mercado alemão, o lucro financeiro será maior do que aquele que foi registado no mundial de 2006?

Acredito que sim. Em Portugal tivemos uma aposta muito maior nas infraestruturas. Na Alemanha não há neste momento essa necessidade e logo aí já se reduz bastante o custo e otimiza-se muito o benefício.

Temos aqui estas duas variáveis que são importantíssimas, que é o facto de as economias estarem a abrandar e ser necessário este estímulo à economia.

Temos o facto também de a Alemanha estar francamente bem preparada a nível de infraestruturas e que não vai envolver muitos custos para o próprio Estado alemão.

Ainda estamos a seis anos da organização do Mundial de 2030. Que ideias pode Portugal tirar para que a economia portuguesa, nessa altura, possa vir a crescer ainda mais?

Os próximos anos vão ser desafiantes como temos estado a ver. Mais uma vez repito como estamos numa fase de abrandamento económico, em que não percebemos se realmente as economias já atingiram o fundo e pode haver daqui para a frente uma recuperação ou se as coisas podem agravar mais.

Portugal tem tido um comportamento até melhor economicamente do que os pares europeus. Ainda assim, devia olhar para o caso alemão e também para os eventos passados, de forma a conseguir também precaver-se um pouco a nível de contenção dos custos e a nível de uma maior eficiência e produtividade.

Era isso que precisávamos para depois conseguirmos ter um mundial muito bem-sucedido. Mas a incerteza económica acaba por ser aqui o grande desafio.

De que forma poderá ser positivo o facto de Portugal organizar esse mundial com a Espanha, sendo um país vizinho?

De um modo geral, são sempre bons estes eventos, uma vez que atraem mais pessoas não só locais, mas de todas as partes do mundo, e uma maior dinâmica em determinados sectores. Em termos económicos é bom nessa perspetiva, mesmo que por vezes exista a necessidade de haver um esforço maior em termos das infraestruturas, como tivemos que fazer em 2004.

Aqui a questão será mesmo o quão bem preparado o país poderá estar depois para acolher o mundial, consoante também as condições económicas que tiver na altura.

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