"Eles não sabem nem sonham António Gedeão escreveu na sua Pedra Filosofal que o «sonho comanda a vida». Transportando estes versos para a realidade futebolística, poucos eram aqueles que sabiam e/ou sonhavam no início da época que o Arouca estaria com 48 pontos a cinco jornadas do encerramento do Campeonato, apenas superado pelos três crónicos candidatos ao título e também pelo já denominado quarto grande, o SC Braga, que este ano também tem trabalhado muito para tornar o sonho realidade. Um sonho que começa a confundir-se com a realidade. M-é-r-i-t-o. Mérito de quem teve a arte de encontrar talentos pelos mais diversos cantos do mundo (Mujica em Espanha, De Arruabarrena no Uruguai, Sylla na Guiné Conacri, por exemplo). Mérito de um treinador que transformou um conjunto de jogadores (mais de 15 contratações) numa verdadeira equipa. Mérito de um grupo de atletas que se uniu para contrariar as probabilidades. Muito mérito de um clube de uma região pequena que mostrou ter uma raça de um gigante. Jornada após jornada, o Arouca foi subindo degraus. Chegou ao 5.º lugar, sentou-se confortavelmente na posição e não arreda pé nem por nada. Uns vão escorregando, outros são afastados, há ainda quem apareça de surpresa, e os arouquenses permanecem intactos. A receção ao Vizela apresentava-se como um duro teste para os arouquenses, até porque a formação liderada por Tulipa ameaçava intrometer-se numa luta que não era inicialmente sua, mas a resposta foi positiva. Vitória pela margem mínima, 1-0, que permite ao Arouca igualar a melhor série da temporada (oito jogos consecutivos sem derrotas) e sentar-se, agora, no sofá tranquilamente à espera daquilo que Sporting, que está acima, e Vitória SC, que está abaixo, vão fazer esta segunda-feira, em Guimarães. Enquanto isso, o mundo pula e avança como a bola colorida entre as mãos de uma criança. Minuto 9. Vamos diretos ao momento-chave da partida, que merece ser descrito de forma pormenorizada: Alan Ruiz levanta a cabeça, percebe a movimentação de Mujica e serve o espanhol em profundidade, com uma trivelada. O avançado espanhol percebe a aproximação de Antony e faz um passe atrasado, de morte, para o brasileiro receber na área do Vizela, enquanto Anderson Jesus tenta impedir o remate. Resultado? Falta e penálti para Morlaye Sylla apontar o terceiro golo da conta pessoal da temporada. Em inferioridade no marcador, o Vizela reagiu muito, muito bem, e criou oportunidades mais do que suficientes para restabelecer a igualdade no Municipal de Arouca, sendo a mais clara a grande penalidade marcada por Samu e defendida por de Arruabarrena, em cima do apito para o intervalo, já depois de Guzzo, quase sempre ele, ter obrigado o guarda-redes uruguaio a um par de boas intervenções. No segundo tempo, mais do mesmo. Vizela inconformado com o resultado, perante um Arouca a ter de vestir o fato de macaco para segurar a vantagem. Na gíria do futebol, nem sempre dá para tocar piano, às vezes é preciso saber tocar bombo. O Arouca foi muito isso. Friday Etim entrou no decorrer da segunda parte para agitar e agitou, Zohi igual e os vizelenses ainda chegaram mesmo a festejar o empate, no último minuto do tempo de descontos, mas Etim estava em posição irregular no momento que antecedeu o remate certeiro de Bruno Wilson - 4 centímetros!. Contas feitas, sorri o Arouca à Europa.
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança"A diferença que fazem quatro centímetros
Europa é fixe
