Contrato de gás russo que chega à UE via Ucrânia termina no final deste ano. Kiev quer continuar a gerar receitas com pipelines. Companhias europeias comprariam gás ao Azerbeijão que seria transportado via Rússia e Ucrânia.
O gás natural da Rússia continua a chegar à Europa via gasodutos da Ucrânia. Por ano, Moscovo envia 15 mil milhões de metros cúbicos de gás para a União Europeia, através da Ucrânia.
Este gás abastece principalmente a Eslováquia e a Áustria, onde o gás russo tem pesado mais de 80% no consumo do país ao longo de cinco meses consecutivos.
O gás natural russo não está sob embargo, e os países da UE (incluindo Portugal) continuam a importá-lo também via navio, através de gás liquefeito (GNL).
Atualmente, decorrem negociações entre as empresas europeias (que compram gás russo) e as autoridades ucranianas para manter operacional a rede de gasodutos ucranianos com gás vindo da Rússia, pois o acordo atual termina no final deste ano.
Mas a invasão russa do leste da Ucrânia está a levantar questões sobre o uso de gás vindo da Rússia.
Por um lado, o uso da infraestrutura gera receitas elevadas (mil milhões de dólares em 2021) para um país invadido que precisa de todo o dinheiro disponível. Por outro lado, continuar a permitir o uso de gasodutos ucranianos para o Kremlin e a gerar receitas levantaria muitas questões para os cidadãos ucranianos, que sofre na pele viver num país em guerra.
Mas está a ganhar tração uma nova ideia: as empresas europeias compram gás ao Azerbaijão, que depois é enviado surpreendentemente para a União Europeia através da Rússia e daUcrânia, revela hoje a “Bloomberg”. O gasoduto entre o Azerbaijão e a UE já está completamente lotado, não sendo opção para novos contratos.
Uma das preocupações é que os gasodutos possam vir a ser alvo de ataques russos, ou que fiquem degradados, por falta de uso, e com custos elevados de recuperação. Desta forma, a infraestrutura continuaria a gerar receitas e os países europeus continuariam a ter acesso a gás. Mas resta saber se a Rússia irá permitir esta possibilidade, que envolve ter o gás de outro país a circular na sua infraestrutura, que veio substituir a compra de gás russo.
Mesmo que venha a ser permitido, a Rússia vai acabar sempre por encaixar as portagens geradas com a passagem do gás pelos seus gasodutos. Em troca, Moscovo pode exigir que o seu gás ganhe carta branca para chegar a outros mercados.
“A Ucrânia tem infraestruturas incríveis de transporte e armazenamento de gás, que devem ser usadas, e estamos dispostos a usá-la porque tem muitas vantagens”, disse Oleksiy Chernyshov da estatal ucraniana rejeitando negociações com a Gazprom e considerando que o gás do Azerbaijão pode “vir a ter algum futuro”.