Eutanásia em casal. Monique e Loes viveram e morreram de "mãos dadas"

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Um médico do Países Baixos, de 77 anos, que já ajudou mais de 140 pessoas a morrer, revelou esta semana à France Press um dos casos que mais o afetou: duas pacientes casadas que se submeteram juntas à eutanásia e morreram de mãos dadas.

"Eram duas mulheres excecionais", começou por descrever Bert Keiser.

Monique, de 74 anos, sofria de demência. Já Loes, de 88, tinha uma doença muscular. Ambas dependiam uma da outra para viver e depois de 50 anos juntas, não se viam a viver uma sem a outra.

Por essa razão e devido às suas doenças incapacitantes, o casal decidiu recorrer à eutanásia.

"Elas estavam deitadas na cama, de mãos dadas. Ambas tinham o soro no braço e um médico ao lado", começou por relatar o profissional de saúde, acrescentando que elas beijaram-se e disseram uma à outra: "obrigada" e "amo-te".

Depois disso, os médicos perguntaram se "as miúdas" estavam prontas. "Sim, vamos", responderam, antes de serem injetadas com a solução que as fez "adormecer imediatamente".

À France Presse, o médico admitiu que estava nervoso porque "elas tinham de ficar inconscientes exatamente ao mesmo tempo"”, uma vez que nenhuma queria ver a companheira a morrer.

Após vários anos de sofrimento, Monique e Loes optaram, em 2019, por uma "eutanásia em casal", o que permite que ambos morram ao mesmo tempo.

"Uma de nós perdeu a cabeça, a outra, as pernas", brincavam, de acordo com Bert Keiser, que já se reformou, mas continua a ajudar pessoas que querem ser eutanasiadas.

29 casais morreram juntos nos Países Baixos em 2022

Os Países Baixos e a Bélgica foram os primeiros países europeus a legalizar a eutanásia. Nos Países Baixos, este procedimento médico está estritamente regulamentado desde o dia 1 de abril de 2002. A lei exige que, pelo menos, um médico e um perito independente determinem que o paciente se encontra num sofrimento insuportável e sem esperança de melhoria, para que possa recorrer à morte clinicamente assistida.

Casos como o de Monique e Loes - que deu origem a um documentário - são extremamente raros, uma vez que estas condições aplicam-se a ambas as pessoas, cujo pedido é avaliado separadamente e por médicos diferentes.

"É singular que duas vidas paralelas reúnam todas estas condições exatamente no momento certo", observou Bert Keiser, revelando que, ao longo da sua carreira, só se deparou com mais um caso semelhante ao deste casal.

Cada vez mais pessoas recorrem à eutanásia nos Países Baixos. Só em 2022, 8.720 pessoas foram eutanasiadas, o que representa 5,1% das mortes deste ano nesse país, segundo dados oficiais. A maioria dos pacientes sofria de cancro terminal.

Entre esses estavam 29 casais. Embora isso continue a ser raro, o número de eutanásias em casal está a aumentar. Em 2021, realizaram-se 16 e em 2018 apenas 9.

Em fevereiro, o antigo primeiro-ministro dos Países Baixos, Dries Van Agt, e a mulher, Eugenia, decidiram morrer juntos aos 93 anos, com recurso à eutanásia. Ambos enfrentavam problemas de saúde e também morreram, como decidiram. Juntos e de mãos dadas.

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