Eventual eleição da extrema-direita em França é um perigo para as mulheres?

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Num vídeo que se tornou viral, publicado nas redes sociais a 17 de junho, Jordan Bardella dirigiu-se às mulheres francesas como o grande defensor dos seus direitos e apelou ao voto no partido de extrema-direita nas próximas eleições legislativas, cuja segunda volta está agendada para o próximo domingo. Isto numa tentativa de recuperar o voto feminimo no partido, que durante muito tempo esteve bloqueado pelas mulheres, especialmente durante a liderança do seu fundador, Jean-Marie Le Pen.

"A 30 de junho e a 7 de julho, também vocês vão votar pelos vossos direitos", apelou Jordan Bardella. "Serei o primeiro-ministro que garantirá de forma infalível a cada rapariga e cada mulher de França os seus direitos e liberdades", prometeu o presidente do RN, garantindo-lhes que "em França a mulher é livre e continuará a sê-lo".

Je veux m'adresser à toutes les femmes de France. pic.twitter.com/wXJkPlaqE0

— Jordan Bardella (@J_Bardella) June 17, 2024

Mas o programa eleitoral do RN, as posições dos membros do partido e as recentes votações das leis e medidas tanto na Assembleia francesa como no Parlamento Europeu demonstram exatamente o oposto das suas promessas, de acordo com a imprensa francesa que tem analisado ao pormenor a  "manipulação retórica" feita pelo partido de extrema-direita.

Na edição desta quinta-feira, o jornal francês Libération denuncia a "farsa" do Rassemblement National, que, "por detrás de uma fachada de feminismo, continua a ser uma ameaça aos direitos das mulheres" e denuncia uma estratégia do partido de extrema-direita que "sequestra o feminismo para promover o ódio" e a rejeição dos estrangeiros.


Quer seja no direito ao aborto (IVG), desigualdade salarial ou nas medidas de combate à violência doméstica, o Rassemblement National de Marine Le Pen nunca defendeu os direitos das mulheres quando teve oportunidade, denunciam várias associações de defesa dos direitos das mulheres e especialistas no assunto.

O RN defende o direito ao aborto?

Apesar de Jordan Bardella ter afirmado, no vídeo, que o RN defende "o direito fundamental das mulheres ao controlo do seu próprio corpo", o partido de extrema-direita parece continuar muito dividido sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG), votando contra e abstendo-se em diversas ocasiões.

Por exemplo, a 4 de março quase metade dos seus deputados votaram contra a consagração histórica deste direito na Constituição francesa, com 11 votos contra, 20 abstenções e 14 ausentes, dos 91 deputados eleitos. Mas "porque nenhuma mulher deve temer que um único destes direitos seja posto em causa, Marine Le Pen apoiou a inscrição do aborto na Constituição", afirmou Bardella.

E talvez por esta razão o líder do partido tenha optado por mencionar apenas o nome da sua antecessora, Marine Le Pen, que apoiou desde 2012 o direito ao aborto rompendo com a posição defendida pelo seu pai, Jean-Marie, e mais recentemente apoiou a inscrição da IVG na Constituição.

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