Exilados russos na Alemanha preferem permanecer "invisíveis"

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"Os russos recém-exilados suportam um peso adicional das expectativas das suas comunidades de acolhimento. Muitos deles referem que, tanto a sociedade ucraniana, como a alemã, esperam que eles sejam vocais e visíveis na sua posição antigovernamental", refere o analista político.

No entanto, por considerarem que "isso não melhora as coisas na Rússia ou na Ucrânia", são muitos os exilados que preferem passar despercebidos.

O número de exilados é difícil de estimar, revela Alex Yusupov, porque muitos deixam a Rússia por razões políticas, mas não solicitam necessariamente proteção humanitária.

"Desde o início da invasão em grande escala, e da subsequente mobilização na Rússia, a Alemanha recebeu vários milhares, até 10 mil, de exilados. Um número ínfimo comparado com o êxodo global da Rússia, de cerca de um milhão de pessoas, e com o número de refugiados ucranianos", aponta.

"O fator mais importante do exílio político é o facto de incluir muitos jornalistas profissionais e livres que podem trabalhar sem censura. Durante acontecimentos críticos, como o motim de [Yevgeny] Prigozhin (em junho de 2023), os russos do interior da Rússia aumentaram maciçamente o seu interesse pelos meios de comunicação social do exílio", admite Yusupov em declarações à Lusa.

A confiança nas fontes governamentais é cada vez mais baixa e os jornalistas no exílio serão "ainda mais importantes no futuro", determina o diretor do programa para a Rússia da Fundação Friedrich-Ebert.

Elena Gaeva, cofundadora da organização Demokrati-JA, admite que são cada vez mais os russos que continuam a fugir do país.

"Estas pessoas chegam e não sabem para onde ir, o que fazer, como se integrar. Por isso, no verão de 2022, começámos a organizar vários piqueniques, sem formalidades, sem polícia, de forma a garantir um espaço seguro", revela a ativista.

"Convidámos advogados especializados em políticas migratórias para que dessem consultas gratuitas a estas pessoas, muitas delas recém-chegadas", esclarece.

Alex Yusupov recorda a história "muito rica" de migração pós-soviética que a Alemanha tem. Desde meados dos anos 80, pessoas com raízes alemãs, judias, russas, ucranianas, chechenas e outras têm vindo dos países de leste para a Alemanha.

No entanto, estas comunidades "raramente são políticas". A maioria das pessoas emigrou por razões económicas e pessoais, ou como verdadeiros refugiados.

"Os novos exilados russos são únicos nesse aspeto, uma vez que a sua identidade de grupo é política por definição e partilham a experiência de estarem em perigo na Rússia", destaca.

A interação entre as novas e as antigas comunidades é normalmente "isenta de conflitos".

"O receio de fraturas sociais existiu em 2022, mas agora podemos dizer que existe um 'modus vivendi' funcional entre elas", conclui.

Num estudo levado a cabo pelo programa para a Rússia da Fundação Friedrich-Ebert, em que foram inquiridas online 131 pessoas que abandonaram o país com destino a Alemanha, 86,8% responderam que uma das principais razões que justifica a decisão foi o início da guerra na Ucrânia. As ameaças de perseguição ou a falta de perspetivas são outros dos motivos.

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