FC Porto B x Benfica B: Cinco ilações sobre o Clássico

*com Alexandre Sequeira Ribeiro

Clássico é sempre Clássico e, por isso, merece todo o escrutínio possível. No passado fim de semana, no Olival, águias e dragões mediram forças e para o registo deixaram uma mão cheia de apontamentos.

Apesar do começo equilibrado, as águias chegaram à vantagem em cima do intervalo e, daí em diante, mostraram-se tranquilas, seguras defensivamente e prontas para dilatar a vantagem

O segundo e o terceiro chegaram por culpa de dois Gustavos. Primeiro, Marques encheu-se de confiança e obrigou Meixedo a uma defesa incompleta, a originar o 2-0. Depois, Varela entrou, recebeu, rodou e fuzilou para a euforia forasteira.

Após assistir ao encontro, o zerozero destaca agora cinco pontos deste clássico.

Gustavo Marques, um comandante para outros voos

Que exibição do jovem central — o melhor em campo, de forma destacada. Uma partida que justificou bem o «porquê» de já ter sido chamado (e estreado) na equipa A. Sem ser espetacular, é seguro com bola, rápido, exímio a controlar a profundidade e muito forte fisicamente.

Como se não bastasse, é a definição de «capitão sem braçadeira»; um verdadeiro líder, sobretudo em pequenas características que, por vezes, a televisão não mostra.

Não sabemos, claro está, se é jogador para algum pegar de estaca na equipa principal do Benfica. Pode até nem ser aposta num conjunto de Primeira Liga, mas já mostrou que merece, pelo menos, um desafio mais aliciante.

Grita falta de confiança

Numa altura em que está a ser associado com insistência a uma eventual transferência, o defesa central vai continuando a ganhar ritmo na equipa B, mas a falta de confiança é gritante e notória em cada lance. Chegou a fazer 12 jogos pela equipa principal, mas é no conjunto de António Folha que está a continuar a carreira.

Frente ao Paços de Ferreira, na última jornada, esteve envolvido em dois golos contrários e diante do Benfica B, em casa, não garantiu a segurança que a defensiva azul e branca precisava em fases de aperto. Alguns passes falhados, lances mal abordados e um nervosismo presente nos 90 minutos: não parece o mesmo que foi titular durante anos no SC Braga.

Sérgio Conceição já falou sobre o «caso David Carmo» e referiu que «é um jogador que está abaixo» do que o FC Porto precisa. Não saberemos se o destino será o Lyon ou Olympiakos, mas o defesa precisa de recuperar os índices de confiança.

Um goleador em construção?

É filho de um possante defesa, mas mostra saber fazer o que o pai tenta evitar: golos. Começou no Sporting, face à carreira do pai viajou até à Grécia e em 2021/22 regressou a Portugal, pelas portas da Luz. Um ano depois, ganhou destaque ao marcar 23 golos numa época pelos juniores.

Esta temporada e com 18 anos, só realizou 73 minutos na Segunda Liga, mas o golo no clássico serviu para mostrar que, pelo menos, qualidade tem. De costas para a baliza, recebeu de calcanhar e orientado, encheu-se de confiança e, de longe, rematou forte, colocado, junto ao poste esquerdo. Festejos efusivos, pois claro.

A afirmação na equipa B não será fácil. Cauê e Gilson Benchimol (está, de momento, na CAN; pode aproveitar Varela) têm mais minutos e estão à frente de Gustavo na hierarquia. Ainda assim, o jovem avançado tem entrado perto do fim nos últimos jogos. Agora, é dar cartas nos minutos que tem tido, como fez no Olival.

Tiveram sangue na guelra, mas foi insuficiente

Derrota por 0-3 e ultrapassagem na tabela classificativa: o Benfica B deslocou-se até ao Estádio Luís Filipe Menezes para conquistar três pontos. O FC Porto B voltou a ficar em branco e os destaques foram os... jovens. Apesar de alguma experiência acumulada em David Carmo, Romain Correia, Wendel Silva ou Nilton Varela, foram os miúdos a tentar sair de uma situação complicada.

Vasco Sousa liderou o meio-campo com várias intervenções nos dois lados do campo, Rodrigo Mora criou oportunidades no ataque e Martim Fernandes subiu no terreno para tentar encontrar os seus companheiros na grande área contrária. Do banco de suplentes veio sangue novo e com vontade de alcançar, pelo menos, o empate.

Apesar do desfecho não ter sido favorável à equipa azul e branca, nota para os jovens jogadores que são o futuro do FC Porto. Numa liga tão competitiva como a Liga Portugal SABSEG, faz parte do processo ter dores de crescimento e as derrotas servem para isso mesmo. Este domingo, era preciso de mais dos atletas experientes por estas andanças...

Uma muralha (pela primeira vez) impenetrável

Quem só viu este jogo não diria, mas foi a primeira vez na temporada que o Benfica B não sofreu golos a jogar fora de portas no campeonato. Um dado surpreendente, sobretudo tendo em conta a qualidade dos protagonistas encarnados. Gustavo Marques e Adrian Bajrami já foram chamados à equipa A, João Tomé é bastante seguro e Kokubo, apesar de um erro ou outro, continua a ser fiável.

É certo que as migrações de jogadores entre A's, B's e juniores não contribui para a criação de rotinas e construção de sólidas bases. Contudo, o registo é pouco animador: oito jogos fora, dez golos sofridos e uma folha limpa, no passado fim-de-semana contra o FC Porto B.

Um facto que, certamente, não orgulha os homens da última linha encarnada, mas o clássico deixou uma certeza: há condições para fazer melhor.