Fenprof diz que número de docentes que o plano do Governo quer atrair não chega para compensar aposentações

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Para a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), o plano do Governo para combater a falta de professores, que tem deixado milhares de alunos sem aulas, fica "muito aquém" das necessidades das escolas e nem sequer compensa o número de professores que já se aposentaram neste ano lectivo. Além disso, consideram que o plano irá "sobrecarregar ainda mais" os professores, que "já apresentam níveis elevados de stress e burnout", e que contém algumas medidas que carecem de negociação com os sindicatos. Por isso, a plataforma sindical já enviou um ofício ao Ministério da Educação para que clarifique algumas das medidas apresentadas e pediu uma reunião para discutir o plano.

"A vista curta do plano está expressa logo na sua designação. Falta-lhe um sinal '+' antes dos outros dois: '+' professores. Ou seja, deveria intitular-se mais '+ Professores, + Aulas, + Sucesso'", notou o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, numa conferência de imprensa realizada esta quinta-feira, 20 de Junho.

Segundo as contas da Fenprof, o plano pretende recuperar 500 dos cerca de 20.000 docentes que terão deixado a carreira na última década e meia, atrair mais 200 docentes já aposentados e adiar a aposentação de mais 1000, "apesar de um dos grandes desafios da profissão ser o rejuvenescimento", notou Mário Nogueira.

O plano do Governo prevê a contratação de professores reformados nos territórios onde mais faltam — Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e alguns municípios do Alentejo —, com uma remuneração extra equivalente ao índice 167 (1657,53 euros brutos). Já os professores que atinjam a idade da reforma e queiram continuar a dar aulas terão uma remuneração adicional até 750 euros mensais brutos. "Parece mais atractivo o pagamento aos aposentados do que aos que se decidam por adiar a aposentação", sublinhou Mário Nogueira.

O plano depende, assim, da adesão destes 1700 professores. E de mais 1700 mestres e doutorados, investigadores, bolseiros de doutoramento e professores imigrantes que o ministério espera atrair para a carreira.

"Chegamos aos 3400 professores, um número abaixo do de docentes que se prevê que venham a aposentar-se até ao final do ano escolar", notou Mário Nogueira. Pelas contas da Fenprof, desde o início do ano e até ao final de Julho 3600 professores ter-se-ão reformado.

Negociação é “indispensável”

Para a Fenprof, é ainda "indispensável" convocar um processo negocial para várias matérias, como a contratação, o horário de trabalho e as remunerações. Há muitos detalhes das medidas que foram apresentadas que estão por esclarecer, por isso a plataforma sindical espera que a reunião solicitada à tutela se realize "o mais rapidamente possível". "O senhor ministro não pode pensar que apresenta um PowerPoint e depois um decreto-lei. O plano tem muito por esclarecer e negociar e fica muito aquém do que era necessário", notou Nogueira, que antecipa ainda um arranque de ano lectivo com bastante agitação, já que milhares de docentes vão chegar a escolas novas, decorrente do concurso de professores.

Uma das medidas que mais suscita críticas à plataforma sindical é a que se refere à atribuição de mais horas extraordinárias, com um aumento para dez horas extra semanais a cada docente (neste momento, o Estatuto da Carreira Docente só permite até cinco horas), a que se juntam ainda as já previstas cinco horas não lectivas. "O horário dos professores é de 35 horas e passará, para muitos, a ser de 50 horas? Vai pedir-se aos professores que levem a cama para a escola?”, criticou Nogueira. A Fenprof quer uma clarificação por parte do ministério se estas horas serão obrigatórias ou não e receia que o número de professores de baixa aumente, caso sejam obrigados a cumprir estas horas.

Na apresentação do plano na semana passada, o ministro Fernando Alexandre afirmou que estas horas deverão ser usadas para colmatar faltas de professores e que serão "sempre voluntárias", ou seja, não obrigatórias. Esta medida dirige-se apenas às escolas sinalizadas pelo ministério e implicará um custo de quase um milhão de euros.

"Só há uma forma de resolver a falta de professores: valorizar a profissão docente, tornando-a atractiva. Melhorar a carreira e o salário, melhorar as condições de trabalho, criar condições de estabilidade, apoiar devidamente quem for colocado nas escolas mais distantes da área de residência", considerou o secretário-geral da Fenprof. Caso contrário, a falta de professores irá agravar-se.

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