Foi distinguido pelo The Guardian e joga no Leça. "Não acreditei..."

4 meses atrás 75

Na primeira divisão distrital do Associação de Futebol do Porto joga um futebolista que já mereceu 'honras' internacionais, aos 17 anos de idade. Nicolas Bernardo, atleta do Leça, foi distinguido pelo jornal inglês The Guardian, em 2016, como uma das 60 maiores promessas do futebol mundial. 

Na altura, o extremo jogava nos escalões de formação do Santos, onde esteve durante dez anos. Por lá, tornou-se amigo de Rodrygo, jogador que agora é uma das estrelas do Real Madrid. O jornal inglês comparava-o a Robinho, outro grande 'produto' da Vila Belmiro. Saiu do clube em 2020, sem jogar pela equipa principal, e tentou a sua sorte em Portugal. 

Depois de jogar no Chaves e no Pedras Salgadas, por empréstimo, o brasileiro de 24 anos tem-se destacado no Leça, clube que lidera a Série 1 do Pro-nacional do Porto, após uma profunda reformulação na estrutura. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Nicolas Bernardo falou sobre o seu percurso e definiu objetivos ambiciosos com o Leça - "o clube está a crescer e eu cresço juntamente com eles."

Vamos começar pelo início. Como surgiu o futebol na sua vida? Como viveu a infância em São Paulo, no Brasil?

Nasci em São Paulo. Fui para Santos [localidade que pertence à cidade de São Paulo] aos nove anos. Era muito bom. Jogávamos à bola na rua, quando não estava na escola. O meu pai trabalhava e não queria que eu ficasse na rua a jogar à bola, existia o perigo de ser atropelado, ou envolver-me em coisas erradas. O lugar era um bocadinho complicado. O meu pai decidiu colocar-me na escolinha do Santos, com sete anos. Fiquei lá e com os meus nove fui para Santos e fiz um teste. Desde aí fiz a minha história dos dez aos 20 anos no clube.

Rodrygo [do Real Madrid] gostava, por eu ser mais velho, de ver os meus jogosImagino que um jovem que jogue na Vila Belmiro, em Santos, tenha a ambição de vir a tornar-se um jogador de futebol profissional, uma grande 'estrela' internacional.

Antes era só uma diversão. Quando cheguei ao Santos, vi que era sério. As instalações eram boas e a instituição é muito importante. Dão importância aos jovens. Disse ao meu pai: 'Quero ser jogador'. Ia aos jogos do Santos com o meu tio Vítor. Cresci a gostar do Santos. 

E, na altura, esteve no Santos durante boas campanhas do clube, a nível da equipa principal. Jogadores como Neymar ou Robinho eram uma referência?

Havia o Neymar e o Robinho, mas também muitos mais jogadores. No Santos, olhamos para os mais velhos e pensamos que é ali onde queremos chegar. 

Pelo que sei, o Nicolas ainda coincidiu com Rodrygo, jogador do Real Madrid. Jogou com ele?

Não. Rodrygo é mais novo que eu mas graças a Deus foi 'pulando etapas'. Conheci-o na Vila Belmiro. Ele gostava, por eu ser mais velho, de ver os meus jogos. Eu jogava primeiro e depois era o escalão dele. Eu também gostava de vê-lo jogar pelo estilo de jogo e pelo seu caráter. Isso desenvolveu a nossa amizade, que é muito boa.

Ainda mantém contacto com Rodrygo?

É difícil, é mais quando estamos de férias, em Santos, vemo-nos por lá. A família dele é muito especial e já nos juntámos aqui em Portugal. No Natal, eles passam por aqui e mandam-me mensagens para ir ter com eles. 

Coincidiu com outros jogadores de topo no Santos?

Fiquei muito feliz quando um amigo meu veio para o Sporting, o Arthur Gomes. Logo no primeiro jogo fez um golo. Hoje está no Brasil [joga pelo Cruzeiro] e está bem, está feliz. É um amigo e fico muito feliz por vê-lo bem, graças a Deus.

The Guardian? Nenhum 'garoto' espera receber uma notícia dessas, jogando num escalão de formaçãoO Nicolas já foi considerado uma grande promessa do futebol mundial. O jornal The Guardian, um dos mais respeitados do mundo, fez um artigo onde o Nicolas estava entre as 60 grandes promessas, em 2016. Lembra-se como recebeu a notícia? 

Recebi essa notícia depois do treino. Não estava a acreditar. Quando isso aconteceu os meus pais vieram falar comigo e o meu empresário, da altura. Eu fiquei muito feliz, mas não acreditei. Nenhum 'garoto' espera receber uma notícia dessas, jogando num escalão de formação. Fiquei muito feliz. 

Como vê a situação atual do clube após a despromoção à Serie B?

Fiquei triste. Tenho um carinho muito grande pelo Santos. Ninguém esperava, mas tudo tem uma primeira vez. Mas acho que vai sair bem disso, não tenho dúvidas. O novo presidente, Marcelo Teixeira, vai fazer um grande trabalho, tenho a certeza, como já fez antes no Santos. Acho que vão dar a volta à situação.

Entrou em Portugal em 2020, pela porta do Chaves. Imagino que estivesse a vir para o 'desconhecido'. 

O convite surgiu por meio do meu empresário. Na altura estava de saída do Santos. Estava entre renovar e não renovar. Acabei por não renovar. O meu empresário apareceu com esta proposta, disse que o Chaves tinha interesse. Abracei a oportunidade e acabei por vir para Portugal. 

Vir para o Chaves foi um risco?

Eu acho que não foi um risco. Na altura, estávamos em pandemia. Sendo sincero, na altura, não conhecia muito bem o Chaves. Mas vendo melhor e falando com alguns jogadores brasileiros de lá, que tinham atuado no Brasil, decidi. Eu agradeço muito, não foi um risco porque se não fosse o Chaves não estaria no Leça. Não teria a oportunidade de jogar em Portugal. 

O recorda melhor dessa experiência no Chaves? Acha que a lesão que sofreu afetou a afirmação no clube?

Sim, afetou um pouco o meu rendimento. Mas acredito que não tenha sido isso que me fez cair de rendimento. Falando do Chaves, e do que vivi lá, foi muito importante porque conheci pessoas muito boas do futebol. O Luís Rocha, que está no Santa Clara, bastantes jogadores que estão na I Liga. Consegui pegar na experiência desses jogadores. Fico muito feliz por lá ter jogado. Na época seguinte, mesmo não tendo jogado muito, tive o empréstimo ao Pedras Salgadas. Agradeço também a esse clube por ter aberto a porta enquanto estive lá. Aprendi bastante. Depois, o Chaves subiu à I Liga. Fiquei feliz porque, mesmo sem jogar, aprendi bastante dentro e fora do campo. 

Encarou bem o empréstimo no Pedras Salgadas? Passou da II Liga para o Campeonato de Portugal.

Para ser sincero, no começo não. Porque nenhum jogador gosta de regredir. Mas foi um momento de muita aprendizagem como disse. A cabeça fica sempre um pouquinho abalada. Mas aprendemos com as dificuldades. Depois de um tempo em que a minha família esteve sempre a ajudar e a ligar-me fiquei com a cabeça boa.

Aquilo que o Leça está a fazer é bem profissional e até 'assusta' quem joga nesta divisão

Como está a ser a experiência no Leça e quais são as suas expectativas?

A minha experiência está a ser a melhor possível. É o momento mais feliz até agora em Portugal, nestes três anos. Estou a jogar, marco golos e faço assistências. O clube hoje está a crescer e eu cresço juntamente com eles. O clube fez uma reformulação e todos estão a crescer. Tenho de agradecer todo o apoio que tem sido dado não só a mim como a todos os meus colegas. Está a mudar a vida de todos os jogadores. 

Falou na reformulação do clube, acha que as condições dadas ao vosso plantel são superiores aos dos clubes da mesma divisão?

Sim, não só nós vemos isso como também quem está de fora. Pode ser pessoas de outro clube, adeptos... Dá para notar uma diferença enorme em dia de jogo. O estádio melhorou, a limpeza, até em termos de animação para as crianças... Aquilo que o Leça está a fazer é bem profissional e até assusta quem joga nesta divisão. 

Estão em primeiro lugar. Acha que há fortes possibilidades de subir no final da época?

O nosso objetivo é subir. Trabalhar cada vez mais para estar em cima, no topo. Ninguém pensa o contrário. O objetivo é colocar o Leça no topo. 

O Nicolas disse que queria crescer com o clube. Vê-se no Leça durante mais alguns anos?

Se eu ficasse aqui mais um ou dois anos seria muito bom. Subir ao Campeonato de Portugal, Liga 3, II Liga... Seria muito importante para todos. Tenho de fazer por isso e vou trabalhar. Todo o apoio foi dado até hoje pelo Leça para nós seguirmos o nosso sonho, que é fazer história pelo clube. O Leça é um clube com muita história. 

Notícias ao MinutoNicolas em ação durante um treino do Leça© Leça FC  

Deve respeito ao clube atual mas, sendo jovem, com 24 anos, onde gostava de jogar no futuro? Qual é o seu sonho?

Estou aqui muito feliz, mas não penso muito no amanhã. Gostava de estar cá três ou quatro anos, mas temos de planear a nossa vida. Eu ambiciono coisas grandes. O meu sonho é jogar numa I Liga, na Liga dos Campeões. Tudo tem um momento certo. Estou a crescer muito no Leça e se fizer uma grande época aqui, e se for subindo com o Leça, posso dar um salto daqui para uma I Liga. Algo que fique na história do clube. O meu sonho, neste momento é ser campeão com o Leça, subir, bem como no ano seguinte. É o projeto do clube e nosso também. 

Em jeito de balanço, jogou na Vila Belmiro, esteve entre os 60 mais promissores do mundo e joga no Leça. Apesar do potencial que lhe era reconhecido, aos 24 anos é um jogador satisfeito com a sua situação profissional?

Não digo que estou satisfeito. Estou grato pelo que vivi no Santos, mas é passado. Estou muito feliz aqui porque estou a viver uma nova era da minha vida. Poderia ter-me deixado abater ou algo do tipo mas graças a Deus estou a continuar aquilo que comecei. É o meu sonho. Não vou parar e tenho a certeza que, se continuar assim, vou estar em lugares melhores ainda. Satisfeito, nunca vamos estar. 

Leia Também: Neto volta a 'arrasar' Benfica e FC Porto: "No Brasil não ganhariam..."

Todas as Notícias. Ao Minuto.
Sétimo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online.
Descarregue a nossa App gratuita.

Apple Store Download Google Play Download

Ler artigo completo