Fotógrafo amador e desportista, deveria viajar para Portugal em breve. Quem era o refém luso-israelita Idan Shtivi?

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07 out, 2024 - 13:20 • Catarina Santos

Família mantinha esperança de que estivesse vivo, mas as autoridades israelitas confirmaram esta segunda-feira que o refém morreu depois dos ataques do Hamas num festival a sul de Israel. Idan obteve a cidadania portuguesa nos últimos anos.

As autoridades israelitas confirmaram esta segunda-feira à Renascença que o luso-israelita Idan Shtivi, que se acreditava estar entre os reféns, terá morrido no dia dos ataques do Hamas, há um ano, e o corpo terá sido levado para Gaza.

Idan desapareceu do festival Supernova, em Re'im, depois de tentar ajudar dois amigos a fugir. O irnão, Omri Shtivi, partilhava com a Renascença em novembro que acreditava que Idan estava vivo. "Sentimo-nos sozinhos nesta situação, ninguém pode compreender o que é ter um irmão ou um filho refém. É muito difícil lidar com isto", dizia.

Das 251 pessoas levadas para Gaza há um ano, 117 regressaram vivas a Israel (109 foram libertadas no âmbito de uma troca de prisioneiros firmada em novembro e oito foram resgatadas pelas Forças de Defesa de Israel) e 37 corpos foram recuperados. Cerca de 100 permanecem em cativeiro e o executivo de Netanyahu acredita que perto de 60 pessoas ainda estarão vivas.

Uma semana depois do ataque do Hamas, Omri Shtivi foi pessoalmente ao recinto do festival Supernova para tentar encontrar pistas do paradeiro do irmão.

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Idan tinha jantado com a família na véspera do atentado e partira de madrugada para Re'im, a escassos quilómetros da vedação para a Faixa de Gaza. Era fotógrafo amador e tinha aceitado à última hora o convite de amigos para fotografar workshops de yoga e música que iam desenvolver no recinto.

Pouco tempo depois de chegar, Idan deu conta à namorada, por telefone, de que estavam a ser lançados rockets sobre o local. Não tardou muito a juntar-se o som de tiros. Rapidamente, Idan começou a preparar-se para partir. Avistou um amigo ferido e ofereceu-se para guiar o seu carro, transportando também outra rapariga. Perceberam que a estrada principal tinha sido cortada por membros do Hamas, conseguiram prosseguir viagem por outro caminho, mas cerca de quatro quilómetros depois estavam debaixo de fogo.

Os corpos dos dois amigos foram depois encontrados, Idan desapareceu.

Todas estas informações foram recolhidas cruzando os telefonemas que Idan fez com a namorada naquela manhã, os dados de localização do seu telemóvel e várias imagens que começaram depois a surgir do que aconteceu naquele recinto.

Omri acabaria por encontrar no local o carro onde o irmão tinha viajado, junto a uma árvore na beira da estrada. “Havia sinais de que tinha estado ali, vimos o sangue e os vestígios de tiros”, contava. Essa viagem permitiu-lhe “perceber a dimensão do que aconteceu ali”: "Os carros queimados, os corpos perto da estrada, as balas... É um cenário que não consigo sequer imaginar, nem nas piores circunstâncias.”

“Sei que há informação que o exército não pode partilhar connosco", acrescentava então, mas dizia acreditar que o irmão estaria vivo. "Nós temos a certeza de que ele está vivo porque o sentimos. Sei que ele está vivo, sei que é um sobrevivente.”

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Da parte do governo e do exército israelitas, Omri adiantava que eram escassas as informações sobre os esforços no terreno para localizar os reféns. Só lhe restava confiar que o resgate dos capturados fosse “a sua principal missão”. Essa deveria ser, defendia, “a única prioridade”: “Têm a responsabilidade de os trazer de volta, está nas mãos deles.”

A viagem a Portugal que já não aconteceu

Idan Shtivi tinha 28 anos a 7 de outubro de 2023. Deveria ter iniciado o segundo ano de um curso de ambiente e sustentabilidade. Era amante de desportos aquáticos e da natureza. Costumava praticar mergulho livre com Omri.

“Quando vejo o mar, penso sempre nele. Tentamos manter-nos fortes, mas é muito difícil. A dor... é algo que não tinha imaginado que poderia sentir, este nível de dor.”

Poucos dias antes de partir para o festival, os dois tinham tido uma “última conversa profunda” e Idan partilhou que "queria fazer algo com impacto, tinha-se inscrito num programa de voluntariado com crianças em África”, contava o irmão em novembro.

Os bisavós dos irmãos Shtivi tinham vivido em Portugal e, agora que tinha a cidadania, por ser descendente de judeus sefarditas, Idan planeava visitar o país em breve. “Ele gosta de viajar, eu tinha estado no norte e no sul de Portugal e falei-lhe de um sítio chamado Peneda-Gerês, perto do Porto, onde fiz um trilho. Disse-lhe que ele tinha de ir lá."

Idan obteve a cidadania portuguesa nos últimos anos, Omri não sabe precisar a data exata. Nem a motivação. Mas não acredita que o objetivo do irmão fosse garantir um porto seguro em caso de a situação piorar em Israel. “Não acho que esse seja o caso da maioria dos israelitas”, diz, sem hesitação. “Vamos ficar aqui, estamos aqui há milhares de anos e vamos ficar. Pode haver quem faça essa relocalização, mas não este não é um desses casos.”

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