Há 10 anos os países maiores produtores mundiais de petróleo entravam numa guerra de preços com os produtores norte-americanos de petróleo de xisto, obtido através de fraturação hidráulica ou fracking.
A história começa quando em 2008 a indústria de fracking arranca com força nos EUA, nos estados do Dakota do Norte e Texas, acrescentando mais quatro milhões de barris diários ao mercado que produzia 75 milhões de barris. No final de 2007, os EUA produziam 5,1 milhões de barris diários; no final de 2014 estavam a produzir 9,5 milhões de barris; atualmente produzem 13,1 milhões de barris por dia.
A existência de conflitos/tensões em vários países produtores – Líbia, Iraque ou Irão – estava a tirar petróleo do mercado que foi substituído sem impacto no preço pelo crude americano, mas também mais vindo do Canadá e da Rússia.
Mas tudo muda em setembro de 2014 quando estas tensões geopolíticas começam a aliviar, com a Líbia a retomar a produção em força numa altura em que a procura na Ásia e Europa estava a recuar.
Depois de terem atingido um pico de 115 dólares por barril, o preço do Brent recua para 70 dólares em novembro, mesmo assim longe dos 40 dólares registados uma década antes.
A OPEP decide em novembro de 2014 lançar uma guerra de preços contra os EUA, mantendo inalterada a sua produção diária de 30 milhões de barris diários.
O objetivo era obter um preço baixo que colocasse fora do mercado os produtores independentes nos EUA, pois o fracking tem custos mais elevados do que a produção no Médio Oriente, que está mais à superfície e é de melhor qualidade, precisa de menos refinação.
E qual o preço certo para retirar o frackers do caminho? Em média, o barril precisava de negociar a 69 dólares para atingirem o breakeven. Os preços vieram a cair nos dois anos seguintes, tendo chegado a atingir os 30 dólares por barril.
No caso do fracking, o número de poços subiu dos 345 para os 1.600 entre 2009 e 2014, mas afundou para os 400 até 2016.
Mais de 100 empresas de petróleo e gás foram à falência entre 2015 e 2017, e a produção norte-americana recuou 6% entre novembro de 2014 e o verão de 2016.
Em janeiro de 2017, a revista norte-americana “The Atlantic” anunciava a vitória dos EUA: “Como os frackers bateram a OPEP”.
Os ganhos de eficiência na indústria fizeram recuar os custos: o preço de breakeven recuou mais de 40% para 40 dólares o barril, em alguns casos atingia os 29 dólares em 2017. Em março de 2023, o valor rondava os 54 dólares por barril. Uma das vantagens dos poços de fracking face aos poços offshore é que podem ser criados mais rapidamente e de forma mais barata.
“Graças a todos estes factores – sem mencionar a probabilidade de a administração de Donald Trump apoiar o fracking – tornou-se claro que o negócio do shale-oil vai sobreviver, pelo menos para já. E isso pode ter grandes implicações para o mercado mundial de petróleo. A Arábia Saudita e os países da OPEP têm trabalhado em conjunto para limitar a oferta para que os preços não afundem. Contudo, com a concorrência das companhias de shale, a OPEP não vai conseguir manter os preços elevados como queria”, escrevia a “Atlantic” em janeiro de 2017.
Apesar do choque, a indústria petrolífera norte-americana continuou a crescer. Os EUA são atualmente o maior produtor mundial (quase 13 milhões de barris diários), seguidos da Rússia (10,1 milhões) e da Arábia Saudita (9,7 milhões).
Este ano, a indústria petrolífera dos EUA deverá atingir um valor recorde de 14 milhões de barris diários, com os custos a caírem e aumento da eficiência.
Os produtores de shale-oil vão aumentar a sua produção pelo quarto ano consecutivo, segundo uma análise da Macquarie. Em 2025, a produção deverá atingir 14,5 milhões de barris por dia.