França. Bruay rendeu-se à extrema-direita com política de proximidade, obras na vila e polícia na rua

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Há três semanas, a rua Henri Cadot, principal artéria comercial da vila de Bruay-la-Buissière - onde lojas de roupa convivem com restaurantes, bancos ou farmácias -, voltou a abrir: tinha estado fechada para obras desde setembro de 2022, porque, antes, "estava cheia de buracos".

"Já notei uma diferença. Tenho ouvido a opinião de várias pessoas que não conheço e que me vieram dizer: `Agora dá mesmo vontade de vir para aqui passear`. É muito positivo, há mais gente a passar aqui", diz à Lusa uma comerciante de roupa desta rua, que salienta que, antes da União Nacional (Rassemblement National em francês, de extrema-direita) assumir o executivo camarário, a cidade estava "muito abandonada".

Esta foi uma das principais bandeiras do mandato do novo autarca da vila, Ludovic Pajot, que assumiu o cargo em 2020, após ter conseguido conquistar, aos 26 anos, este tradicional bastião de esquerda com uma campanha sob o lema "um novo impulso".

Quatro anos depois, o seu trabalho parece ter convencido a maioria dos habitantes desta vila: na primeira volta das eleições legislativas, foi aqui que a União Nacional obteve o seu melhor resultado a nível nacional, com 66,91% dos votos.

"Adoro o senhor presidente", confessa à Lusa Laurence, de 60 anos, que refere que, todos os dias, o autarca vai aos mercados, escolas, praças ou lares de terceira idade, elogiando a sua "proximidade com a população" e "vontade de falar com as pessoas".

"Já viu em algum lado um presidente da câmara que vai sempre visitar tudo? Em que todos os dias o vemos? Eu nunca vi. Se ele estivesse agora aqui a passar nesta praça, asseguro-lhe que vinha cumprimentar-nos", diz à Lusa Laurence, de 60 anos, muito elogiosa do autarca que, diz, fez "renascer Bruay".

À proximidade do autarca - reconhecida até por quem não vota nele e critica a União Nacional - alia-se também uma política de reconstrução total do centro da vila: além da obra na artéria principal, a praça à frente da Câmara Municipal também foi toda remodelada, assim como um pequeno largo à frente do liceu principal.

Apesar de a maioria destas obras ter sido planeada pela anterior autarquia socialista, começaram e terminaram sob a presidência de Ludovic Pajot, o que parece estar a convencer até pessoas que não votaram nele e sempre se assumiram de esquerda.

"Não votei neles, mas isto está tudo mais bonito", afirma à Lusa Michel, de 61 anos, que passeia nas ruas com um pitbull, se diz "filho de operários e esquerdista de longa data", mas elogia a política de Ludovic Pajot, em particular a criação de um serviço de polícia municipal, por sentir uma grande insegurança nas ruas.

Em toda a cidade, veem-se agora sistemas de videovigilância nas esquinas ou presos aos semáforos e, frequentemente, patrulhas deste novo serviço da polícia municipal passam nas estradas, observando as ruas que, durante a maior parte do dia, estão vazias.

Elogiados pela maior parte da população, muitos destes investimentos também estão a criar alguma preocupação junto de alguns cidadãos, como Patrick, de 60 anos, que diz não perceber "de onde é que veio tanto dinheiro".

"Estou para ver se ele, quando deixar de ser autarca, se recandidata e, sobretudo, se não vamos descobrir desfalque nenhum", diz o cidadão, que reconhece, ainda assim, que "há coisas que estão a ser feitas no bom sentido".

Lisette Sudic, do partido Europa Ecologia Os Verdes (EELV), da oposição, critica a criação de uma nova polícia municipal, considerando-a "completamente desproporcional" para a "pequena delinquência" que há em Bruay-la-Buissière.

"É uma força policial excessiva que me faz lembrar uma milícia, como se estivesse a ver novamente a Alemanha nazi, nos anos 1930. Começam por cercar as vilas com os seus e depois, pouco a pouco, a peste castanha vai-se espalhando", adverte.

Esta antiga conselheira municipal de La Buissière salienta também que os investimentos estão a ser feitos em detrimento do tecido associativo e cultural local, estando a Câmara Municipal a retirar apoios a várias associações que trabalhavam, por exemplo, com jovens ou pessoas idosas e animavam a vida cultural da vila.

Apesar destas críticas, a maioria da população de Bruay-la-Buissière parece rendida à política de Ludovic Pajot e, mesmo quem se opõe totalmente à política da União Nacional, admite votar nas próximas eleições no autarca, "pelo homem e não pela etiqueta".

Para muitos, a experiência local teve também outro efeito: perderam o medo da extrema-direita e querem agora que governe a nível nacional.

"Temos de lhes dar uma chance. Não tenho medo nenhum e não me preocupa absolutamente nada que governem. É preciso mudar e aqui fizeram o que era preciso", diz Rémy, de 65 anos, reformado.

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