"O Azerbaijão não é uma fantasia, é uma realidade", respondeu o ministro do Interior e do Ultramar francês, Gérald Darmanin, ao ser questionado sobre um eventual envolvimento chinês, russo ou azeri na instigação da onda de violência.
Darmanin lamentou numa entrevista à televisão pública France 2 que "alguns dos dirigentes caledónios pró-independência tenham concluído um acordo com o Azerbaijão".
A Nova Caledónia tem sido abalada desde segunda-feira por violentos tumultos que causaram quatro mortos e centenas de feridos, na sequência de uma reforma constitucional aprovada pela Assembleia Nacional francesa.
A emenda constitucional alarga o eleitorado no arquipélago a todos os naturais de Nova Caledónia e a residentes há pelo menos 10 anos.
A reforma provocou a ira do movimento pró-independência, cujos líderes consideram que o alargamento do eleitorado pode "marginalizar ainda mais o povo indígena kanak", que constitui 41% da população.
Para tentar controlar a violência, Paris decretou na quarta-feira o estado de emergência no arquipélago colonizado no século XIX e situado entre a Austrália e a Nova Zelândia, na sub-região da Melanésia, no Pacífico Sul.
A França enviou militares e proibiu a rede social TikTok, cuja empresa-mãe é chinesa e que é muito utilizada pelos organizadores dos protestos, segundo a agência francesa AFP.
"É indiscutível" o envolvimento do Azerbaijão, insistiu Darmanin na France 2, também citado pela agência espanhola EFE.
O ministro disse que o regime azeri "é uma ditadura que massacra" parte da população e que nenhum país pode gerar violência na Nova Caledónia, uma vez que "a França é soberana no seu território".
Em resposta, o Governo de Baku condenou "as declarações insultuosas da parte francesa contra o Azerbaijão" através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, num comunicado citado pela agência oficial Azertac.
"Exigimos que cessem a campanha de difamação contra o nosso país com acusações inaceitáveis, tais como o assassínio em massa de arménios", disse o porta-voz do ministério, Aykhan Hajizade, no comunicado.
"Seria mais apropriado que o ministro do Interior de França recordasse a história do assassínio brutal de milhões de pessoas inocentes, cometendo crimes contra a humanidade contra os povos indígenas como parte da política colonial do seu país durante muitos anos", acrescentou.
O Azerbaijão, que acusa Paris de apoiar a Arménia, já tinha convidado para Baku, em julho de 2023, os independentistas dos territórios franceses da Martinica, Guiana Francesa, Nova Caledónia e Polinésia Francesa.
Esta conferência deu origem ao "Grupo Iniciativa Baku para apoiar "os movimentos de libertação e anticoloniais franceses".
Numa declaração publicada em francês na terça-feira pela Azertac, o grupo condenou "a detenção dos kanaks e os atos de violência das autoridades francesas contra os civis na Nova Caledónia".
As relações entre Paris e Baku deterioraram-se desde a ofensiva militar azeri no Nagorno-Karabakh, no final de setembro de 2023, que a França condenou.
Em novembro, Paris acusou partidos ligados ao Azerbaijão de desenvolverem uma campanha de desinformação para prejudicar a reputação da França para acolher os Jogos Olímpicos de 2024. Baku rejeitou as acusações.
As suspeitas em França sobre a influência do Azerbaijão aumentaram desde a assinatura, em abril, de um memorando de cooperação entre o Congresso da Nova Caledónia e a Assembleia Nacional do Azerbaijão.
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