França em contraciclo nos incentivos aos elétricos. O que está em causa

1 semana atrás 49

França segue rumo oposto ao de outros países europeus, acordando com a indústria automóvel um reforço dos incentivos aos veículos elétricos.

Coincidindo com a visita de Estado do Presidente chinês Xi Jinping, França acaba de anunciar um novo pacote de medidas que inclui novos e ambiciosos objetivos para a venda de automóveis elétricos.

O acordo do governo francês com a indústria automóvel e sindicatos pretende quadruplicar a venda de automóveis 100% elétricos, para 800 000 registos anuais, até 2027. No caso dos comerciais, a meta é a de sextuplicar os números atuais, para as 100 mil vendas anuais.

Para isso, o governo francês compromete-se em continuar a apoiar a compra e o financiamento de veículos elétricos através de incentivos, ainda que não tenham sido divulgados quaisquer valores sobre estes.

Bagageira dianteira de carga

Este novo contrato estratégico destinado ao setor automóvel surge num momento delicado da eletrificação do automóvel, especialmente na Europa.

Por um lado, temos um abrandamento da subida de vendas de elétricos no continente, ainda que pareça estar a passar ao lado em França. No primeiro trimestre de 2024, as vendas de elétricos subiram 23% no mercado francês, contra apenas 4,9% em todo o mercado europeu (muito por culpa das descidas na Alemanha, Espanha e Itália).

Por outro lado, é cada vez mais evidente a presença crescente de novas marcas ou modelos produzidos na China (mesmo pertencendo a marcas europeias) e isto poderá comprometer o futuro da indústria automóvel no «velho continente», como refere o ministro das finanças francês, Bruno Le Maire:

“A indústria automóvel faz parte da nossa cultura industrial e está a enfrentar uma mudança única no século. A transição é difícil, com forte concorrência de outros países — em particular, da China —, pelo que precisamos de solidariedade no setor”

Ministro das finanças francês, Bruno Le Maire

Entre as medidas de «combate» mais sonantes está a investigação da Comissão Europeia, relacionada com o apoio da China ao setor dos automóveis elétricos.

No entanto, França adiantou-se e criou as suas próprias medidas contra as importações chinesas, limitando os apoios aos automóveis elétricos com a pegada de carbono mais reduzida. O que inclui não só a produção do veículo em si, como também o seu transporte. Logo, o facto de terem de ser transportados da China para a França, coloca-os automaticamente fora dos apoios do estado.

Além dos automóveis, este acordo também tem influência em áreas como a inovação, reciclagem, reforço da cadeia de abastecimento do setor automóvel em França e até o aumento da rede de pontos de carregamento.

Resposta com conhaque

Tudo aponta para que a tensão entre a União Europeia e a China sobre os veículos elétricos estivesse no centro da visita de Xi Jinping a França.

No entanto, a amplitude desta disputa alargou ainda mais depois de Pequim ter lançado uma investigação sobre o dumping de bebidas alcoólicas. Uma ação que poderá prejudicar, particularmente, os produtores franceses de conhaque.

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