França. Portugueses "começam a tremer" com possível vitória da extrema-direita

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Reportagem

30 jun, 2024 - 14:45 • Eva Massy, correspondente da Renascença em França

Renascença foi às urnas ouvir os receios de cidadãos com dupla-nacionalidade. Para lá das eleições deste domingo, também há quem olhe já para as Presidenciais de 2027, onde Marine Le Pen tentará chegar ao poder.

Reportagem da Renascença junto de franco-portugueses que votam este domingo
Ouça a reportagem da correspodente da Renascença, Eva Massy

Os franceses começaram a votar, a partir das 08h00 locais, para eleger os seus 577 deputados. Uma ida às urnas convocada pelo presidente Emmanuel Macron após a derrota do seu partido (Renascimento) e a acentuada subida da União Nacional (Rassemblement National, de extrema-direita), nas eleições europeias de 9 de junho.

Espera-se uma participação historicamente alta, e às 12h00 locais já atingia os 25,90%. Uma das pessoas que preencheu o boletim de voto já de manhã foi Otília Ferreira, uma médica franco-portuguesa.

A eleitora tinha uma prioridade: a de fazer barragem à extrema-direita e impedir o partido de Jordan Bardella de aceder ao poder com medidas discriminatórias para as comunidades estrangeiras.

"Eu penso que a maioria dos portugueses que vivem aqui em França, como todos os estrangeiros e os que estão em situação de bi-nacionalidade, começam a tremer um pouco", conta, à Renascença.

A franco-portuguesa confessa estar com "imenso medo", porque a União Nacional não vai querer parar no posto de primeiro-ministro. O verdadeiro objetivo do partido, consideram são as eleições presidenciais em 2027, para colocar Marine Le Pen no cargo mais alto de Franç.a

É preciso impedir que a história se repita, vinca Otília Ferreira, chegada a França aos 12 anos de idade, por via clandestina, com a mãe e os dois irmãos, para fugir da ditadura portuguesa.

"Lembro-me quando o Jean-Marie Le Pen foi candidato à Presidência. A mamã era viva. Um dos principais eixos do programa de Jean-Marie Le Pen era empurrar para trás todos os imigrantes e a minha mãe teve muito medo. Eu não posso esquecer isso", aponta.

A sair da assembleia de voto, perto do Canal Saint-Martin, no norte da capital, outro cidadão com dupla nacionalidade, Amadou Diarra, 48 anos, originário do Senegal. É a primeira vez que vota em França. Atrás do sorriso tímido, nota se alguma apreensão.

"Tenho medo. Venho votar mas tenho medo porque a França que conhecia antes, a França com a qual eu sonhava quando cheguei de Africa e adquiri a nacionalidade, já não é a mesma. Já não são os mesmos valores, mudou muita coisa. E agora a situação é complicada...", refere.

Resultados não devem garantir estabilidade

Caso nenhum partido consiga este domingo mais de 50% dos votos (ou seja, pelo menos 289 eleitos), haverá uma segunda volta, já marcada para o próximo domingo, dia 07 de julho.

Depois desta primeira volta, se não se destacar uma maioria absoluta, as forças políticas poderão tentar formar coligações para governar. Neste caso, instala-se um regime de 'coabitação', em que o executivo pode implementar as suas propostas, eventualmente desviando-se da política do Presidente.

Macron já garantiu que o seu mandato é para cumprir até ao fim, em maio de 2027, mesmo desafiado por Marine Le Pen a demitir-se caso a extrema-direita vença as eleições. Os primeiros resultados desta primeira volta das eleições são esperados a partir das 20h00 locais (19h00 de Portugal continental).

Jordan Bardella, de extrema-direita, à frente nas sondagens, já avisou que só aceitaria o cargo de chefe de governo com uma maioria absoluta. Se for o caso, o partido de Le Pen poderá ter dificuldades em implementar várias medidas, provavelmente anticonstitucionais. Por outro lado, esta situação de impasse poderá ser vista como uma estratégia para o levar a ele, ou a Marine Le Pen, à presidência em 2027 e assim avançar com os seus objetivos.

À esquerda, apesar de uma união formada em tempo recorde, as divisoes persistem entre os diferentes partidos, que não chegaram a acordo para apresentar um potencial candidato a Primeiro ministro.

O poder de compra está no centro dos programas políticos, realizados em menos de duas semanas de campanha eleitoral. A União Nacional promete, por exemplo, baixar o IVA da eletricidade de 20% para 5,5%.

A coligação de esquerda propõe aumentar o salário mínimo para os 1 600 € mensais (em vez dos 1 400€ atuais). O campo presidencial aposta por sua vez, na redução da dívida pública, sem aumentar impostos.

O tema da imigração e segurança, mais clivante, viu-se monopolizado pelas propostas da extrema-direita. Uma das medidas principais: impedir o acesso dos cidadãos com dupla nacionalidade a empregos na administração pública.

Emmanuel Macron, que numa polémica entrevista, referiu-se a possibilidade de uma guerra civil, caso um dos "extremos" viesse a ganhar, disse ainda, nessa mesma entrevista, ter percebido e ouvido as preocupações do eleitorado da União Nacional.

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