FUTSAL | Ciclos não acabam, recomeçam-se: como Nuno Dias conduziu o Sporting ao tetra

3 meses atrás 98

Se é um seguidor atento do nosso futsal e do que dele se diz, não só em Portugal mas também lá fora, garantidamente que nos últimos anos já ouviu uma série de vezes falar no alegado fim de ciclo do Sporting CP. O plantel em fim de ciclo, a equipa técnica em fim de ciclo... e os troféus continuam a chegar. Que todos os fins de ciclo fossem estes.

Nuno Dias acabou de cumprir a 12.ª temporada no comando técnico dos leões. Olhando à longevidade, percebe-se que se possa considerar o fim de ciclo cada vez mais perto. Mas será que se percebe mesmo? É que em 12 temporadas são nove campeonatos, cinco Taças da Liga, sete Supertaças, seis Taças de Portugal e duas UEFA Futsal Champions League. 29 troféus em 50 possíveis, 58 por cento de taxa de sucesso. Pelo meio, reconstruções nos plantéis, sempre em busca de uma base sólida e que agora se mantém há várias temporadas.

A extensão do treinador na quadra: eis João Matos

12 anos de Nuno Dias têm um denominador comum: João Matos. Aliás, quando o técnico chega, já o capitão era mais do que prata da casa, tendo em conta que já levava sete anos de Sporting CP.

741Jogos
163Golos Marcados

«É um jogador importante para determinadas fases do jogo. Nesses momentos, ele ajuda bastante e é irrepreensível. Não só ajuda na forma como se empenha e trabalha, mas ajuda na forma como lidera no campo», disse Nuno Dias após o jogo 2 da final, em Braga. As declarações referem-se à influência de João Matos na quadra, hoje em dia mais reduzida a momentos específicos (é o primeiro a saltar para dentro em situações de inferioridade numérica), mas também fora dela. Nele, Nuno Dias sabe que tem um líder.

19 anos de Sporting, a caminho do 20.º e sem sinais de abrandar. João Matos é caso raro não apenas no mundo do futsal, mas no desporto em geral. Hoje em dia, difícil é encontrar quem dedique uma carreira inteira a um emblema. Aos 37 anos, já viu e viveu de tudo numa quadra, pelo que não é mais do que natural que seja o primeiro em quem se deposita confiança nos momentos mais complicados. Afinal, estamos a falar de uma verdadeira extensão do treinador em campo.

Não há Guitta, e agora? Reinventa-se

No caminho para o tetra, os primeiros três anos tiveram Guitta na baliza. Guarda-redes diferenciado, incomparável no que diz respeito ao jogo de pés e ao que aporta ao ataque de uma equipa, o brasileiro fez as malas no final da época passada e mudou-se para a Rússia.

Levantou-se a questão: e agora? O legado deixado pelo internacional canarinho era pesado e a sensação era de que qualquer substituto seria um downgrade. Uma vez mais, Nuno Dias e o Sporting CP reinventaram-se e encontraram a solução: Henrique Rafagnin.

@Diana Carvalho

O novo guardião vinha de uma temporada difícil em Espanha, com apenas dez jogos pelo Jaén Paraíso Interior e uma lesão grave. A primeira amostra, na Supertaça perdida para o rival SL Benfica, não impressionou. Com Guitta ainda fresco na memória e uma estreia muito complicada, a vida de Henrique com o leão ao peito podia complicar-se muito antes de sequer começar.

Imune às críticas, o brasileiro respondeu com trabalho, Nuno Dias respondeu com confiança no homem que escolhera para defender as redes sportinguistas e as coisas começaram a fluir e o guardião soltou-se. Com devidas distâncias para Guitta, sim, mas Henrique Rafagnin mostrou-se fiável no jogo de pés e foi capaz de continuar a oferecer ao técnico leonino a opção de utilizar o guarda-redes subido. Agarrou o lugar depois de um início turbulento, estabilizou-se na baliza verde e branca e mostrou picos de forma altos. Uma boa temporada de estreia e mais uma aposta certeira de Nuno Dias.

Base sólida, uma pitada de agitação e juventude q.b.

A receita para o sucesso, acreditamos nós, tem que ter em alguma parte a construção de uma base sólida que sirva de suporte à equipa. No caminho para o tetra leonino, há nomes incontornáveis que compõem essa base: João Matos, Pany Varela Alex Merlim. Em parte dos títulos, não nos quatro consecutivos, também Taynan ou Diego Cavinato.

É possível colocar mais uns nomes nesta espinha dorsal do Sporting CP, mas guardamo-los para a questão da juventude, porque apesar de já estarem entre os melhores do Mundo nas respetivas posições e serem parte da base de sucesso dos sportinguistas, não nos podemos esquecer de que são apenas dois jovens. Falamos de Tomás Paçó e Zicky Té, pois claro. E numa equipa que está tão habituada a ganhar ano após ano, também é importante introduzir este sangue novo, para que também a fome de troféus se renove.

@FPF

Tomás tem 24 anos, Zicky tem 22. Dois miúdos ainda, com muitos anos disto pela frente. Mas, ao mesmo tempo, dois atletas que já ganharam absolutamente tudo o que tinham para ganhar na modalidade, numa idade ainda muito precoce. Dois talentos geracionais.

Há base, há juventude e há... agitação. O tetra do Sporting CP também fica marcado pelo joker que parece talhado a aparecer com papel decisivo nos grandes momentos: Pauleta. Agitador por natureza, é um jogador que parece ter particular apreço pelos momentos de maior pressão. Corresponde com golo, assistência e, não sendo a estrela da companhia, é um elemento altamente fiável para as decisões.

O Sporting CP é tetracampeão nacional, o primeiro da história do futsal português, e disse ainda ser cedo para lhe fazerem o funeral. Voltamos ao início: que todos os fins de ciclo fossem estes.

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