FUTSAL | Época atribulada não perturba ambição catalã: «No Barça há sempre pressão e obrigação de ganhar»

2 semanas atrás 41

«Um Barça muito curto fisicamente» é o que se pode esperar em Yerevan, na final four da UEFA Futsal Champions League, mas desenganem-se os que pensam que isso significa uma equipa catalã com menos fome de vencer do que o habitual. Campeão europeu em quatro ocasiões, o clube blaugrana está na Arménia com uma só missão: recuperar o trono e igualar os cinco títulos do Movistar Inter, recorde da prova.

De forma a perceber melhor a realidade atual do clube onde militam os portugueses André Coelho e Erick Mendonça, o zerozero conversou com Gerard Artigas, treinador de futsal e licenciado em Ciências da Atividade Física e Desporto. Profundo conhecedor da realidade catalã, Artigas não perdeu tempo em apontar a questão que mais se ouve falar por estes dias naquela parte de Espanha: as lesões.

«Muitos lesionados durante toda a temporada, o que fez com que tivessem que dar muitos minutos a jogadores da equipa B. Chega [a Yerevan] com jogadores recentemente saídos de lesão: Pito não jogava há um mês devido a uma pubalgia, o Ferrão leva três jogos porque vem de lesão longa, o Sergio Lozano regressou há uns meses depois de dez meses de baixa, mas teve um problema muscular que o afastou por três semanas. O Dyego não vai jogar e é uma baixa super importante. O Álex Yepes também não joga», revelou-nos.

«As lesões ainda se notam porque há muitos jogadores que estão curtos a nível de ritmo competitivo. Durante toda a temporada tiveram muitos treinos com apenas seis, sete jogadores da primeira equipa e isso não te permite crescer como coletivo», acrescentou ainda.

As lesões são problemáticas, naturalmente, e abrem a porta a maiores dificuldades para o coletivo. Nos últimos encontros realizados pelo FC Barcelona, há reparos a fazer pelo técnico: «Têm que competir melhor. Nos últimos jogos da liga ofereceram muitos golos por erros individuais ou a nível da ativação defensiva em grupo.»

As mudanças de Velasco

Tantos problemas ao longo da temporada levaram a que Jesús Velasco fosse obrigado a alterar ligeiramente o ADN da equipa. Gerard Artigas apontou dois aspetos particularmente relevantes que foram, a espaços, alterados na filosofia catalã por força das circunstâncias.

«Baixar a defesa para meia quadra e não pressionar alto e ainda jogar muitos encontros em sistema 4x0 por não ter nenhum pivot disponível. Mas isto aconteceu apenas nos jogos em que teve mais baixas. Ultimamente estão a defender de forma mais zonal porque é menos exigente fisicamente do que uma defesa individual», explicou o técnico espanhol.

A época é atribulada na Cidade Condal, mas nem por isso a exigência diminui. Apesar de as probabilidades poderem ser mais baixas do que noutras campanhas, tendo em conta as circunstâncias, em Barcelona ninguém atira a toalha ao chão e o objetivo é claro: sair da capital da Arménia com mais um passageiro no avião. «O Barça tem sempre a pressão e obrigação de ganhar», disse-nos Artigas. «Apesar de todos os problemas da temporada, assim que comece a meia-final, eles vão exigir ganhar a Champions.»

Para grandes exigências, grandes armas. Uma das mais letais recuperou recentemente: Ferrão. Ainda com pouco ritmo competitivo, o pivot brasileiro deu ainda assim sinais positivos, com dois golos em três jogos. Mais do que se tornar uma ameaça séria às redes adversárias, o jogador sul-americano traz novas soluções ao coletivo: «Vai provocar muito mais o jogo em 3x1 e vai dar mais profundidade e jogo direto.»

Ferrão é uma arma importante, mas Gerard Artigas aponta um maior papel a outro nome: Catela. «Está a ser o melhor jogador da temporada do Barça. Está a um nível de topo, a forçar constantemente o 1x1, a marcar golos e com melhorias na defesa. Liderou a equipa e foi o melhor jogador da Taça de Espanha. É o jogador mais determinante para o clube neste momento», argumentou.

Raio-X aos portugueses

Um está de saída para regressar ao Benfica e o outro acabou de chegar. André Coelho e Erick Mendonça dão toque português ao plantel do FC Barcelona e se um já conhece bem os cantos da casa e está completamente entrosado, o outro ainda passa por um primeiro ano de adaptação.

Na ótica de Gerard Artigas, os momentos individuais de ambos são bem diferentes. «O Erick teve uma primeira metade de temporada muito curta, de adaptação. Quando começou a jogar a fixo, melhorou imenso o seu nível e agora está muito bem e com confiança», analisou o treinador. O internacional luso, de 28 anos, chegou a Barcelona no último verão, após cinco épocas de Sporting, e soma 43 jogos e seis golos.

André Coelho, por outro lado, vai no quarto ano com as cores blaugrana ao peito e está de malas feitas para regressar a Portugal e à Luz. Com 41 jogos e nove golos em 2023/24, o fixo tem deixado a desejar, na ótica de Artigas. «Não está muito bem, ainda que continue a acrescentar um remate exterior muito bom. Está a custar-lhe a sair a jogar com bola e a nível defensivo tem estado correto, mas não determinante», disse.

Fim de ciclo?

Não é totalmente descabido pensar que Yerevan pode ser o fecho de um ciclo no clube catalão. A atravessar dificuldades económicas, com Ferrão e André Coelho de saída e outras referências - Lozano à cabeça - cada vez mais perto de pendurar as sapatilhas, faz algum sentido pensar no final de uma era (dourada) na Catalunha.

Ainda assim, Artigas recusou colocar uma palavra tão forte no tema. «Não sei se pode dizer-se que é o final de ciclo, mas é certo que a situação económica do clube não vai permitir contratar muitos jogadores de topo nem manter o Ferrão, por exemplo. O Lozano renovou e vamos ver como volta o Dyego», começou por opinar.

De forma a colmatar as lacunas que possam surgir com as saídas do plantel e a falta de capacidade financeira para olhar ao mercado, Gerard Artigas apontou à formação: «Há dois, três jovens da casa a jogar bem. E o clube já terá contratado mais alguém. Não sei se é fim de ciclo, mas definitivamente vão mudar muitas coisas», concluiu.

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