Gaia. Obras da Linha Rubi continuam a causar constrangimentos aos moradores

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Oito paragens e uma nova ponte a ligar as cidades de Porto e Vila Nova de Gaia: são estes os objetivos traçados para a nova linha Rubi do Metro do Porto, que arrancou as obras em maio deste ano.

"Batizada" pela Metro do Porto como a “Linha das Linhas”, a nova ligação quer atrair milhares de novos utilizadores e facilitar os acessos a zonas importantes das duas cidades mas, por agora, circular por Vila Nova de Gaia tornou-se mais complicado. Os cortes da rotunda Edgar Cardoso e da rua das Devesas criaram os maiores constrangimentos de trânsito e assim deve permanecer durante os próximos dois anos.

No início das obras, em declarações à Renascença, as pessoas mostravam-se “tolerantes” porque achavam este ser um bem necessário para a cidade. Mas será que, passados três meses, as opiniões continuam iguais? Voltamos à rua para perceber.

Foi ao percorrer as placas de “desvio” que encontramos Lídia Gomes, de 64 anos. Residente em Coimbrões, desde o fecho da rotunda Edgar Cardoso que assiste a um aumento significativo do trânsito na sua rua que, até à data, era muito tranquila. “Transferiram o trânsito da rotunda para aqui”, sublinha.

Aponta como principal ponto negativo a falta de sinalização, tanto de aviso prévio de cortes como de trânsito - controlo de velocidade, por exemplo -, o que cria algumas situações de perigo para os moradores, nomeadamente “crianças e velhinhos”.

Outro problema é a falta de estacionamento, algo que a moradora prevê agravar-se nas próximas semanas, com o regresso da maior parte das pessoas às rotinas habituais pós-férias de verão.

Por outro lado, garante que a passagem do metro pela zona vai fazer “toda a diferença”, não só por ser “rápido” como também “mais confortável”.

Elisabete e Irene, sexagenárias, são duas amigas que moram na zona do Candal e, tal como mais pessoas, estavam à espera do autocarro na paragem do Agro, para seguirem juntas para o trabalho.

Contaram à Renascença que os consecutivos cortes de estradas têm causado atrasos frequentes nos transportes públicos. Essa situação leva-as a chegar regularmente atrasadas ao trabalho. “Às tantas, [os patrões] já não acreditam que estamos tanto tempo à espera de uma camioneta”, afirma Irene.

Outro dos pontos com mais constrangimento de trânsito é a Rua José Falcão, local onde se encontrava Joaquim Rodrigues, 58 anos. Embora não seja morador em Vila Nova de Gaia, trabalha temporariamente pela zona e revela sentir o constrangimento do trânsito todos os dias, “principalmente de manhã e ao final do dia”.

Engenheiro da Construção Civil de profissão, afirma não estar envolvido no projeto do metro mas, pelos seus conhecimentos, acredita que estes cortes vão durar “mais do que dois anos”.

Contudo, nem só para os moradores é que a vida ficou mais dificultada.

Comerciantes sofrem "grande quebra no negócio"

Os comerciantes também se queixam dos cortes de estradas em zonas que antes eram muito frequentadas e, hoje, “o movimento é fraco”. Na zona das Devesas, poucas foram as pessoas que encontramos e os estabelecimentos que tinham porta aberta descreveram-nos como tem sido os últimos três meses.

José Fernandes, proprietário do “Quiosque das Devesas”, revela que os acessos ao largo 5 de Outubro - local onde se encontra o quiosque - estão muito limitados e que isso se traduz na escassez de clientes. Com a rua principal limitada e com apenas “um sentido, obriga a que os clientes, quando reparam que o sentido está cortado, optem por outras zonas”. “Logo aí, há uma grande quebra no negócio”, afirma.

Acredita que o metro vai ajudar “na mobilidade do cliente”, mas que nos negócios vai ter zero impacto.

Esta é também uma opinião partilhada pelo vizinho Vítor Dias, que tem a loja aberta ao público há mais de dez anos e que, “dia após dia”, se sente cada vez mais desiludido com a zona. “Vai acabar por fechar muita coisa aqui”, garante o comerciante, que aponta as obras como o principal responsável pela falta de clientes. Faz uma previsão de que “o movimento vai estagnar” porque, mesmo com os novos transportes, a “zona não tem por onde crescer”.

Acredita que o facto de estarem três estações - Candal, Rotunda Edgar Cardoso e Devesas - a ser construídas ao mesmo tempo, “foi muita coisa de uma vez só” e que podia ter sido pensado de outra forma, mesmo que “levasse mais tempo”.

“Isto foi feito do dia para a noite”, conclui Vítor Dias.

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