Goleador do Brasileirão passou pela distrital portuguesa: «Bebia um chazinho e descansava»

4 semanas atrás 48

Caro leitor, permita-nos, desde logo, esta constatação: o zerozero é um mundo. As inocentes e aparentemente rápidas pesquisas tornam-se em viagens sem destino, alimentadas pelo gosto de saber mais e pela imperecível curiosidade. Esta peça começou assim.

O Brasileirão não caminha, mas samba para o início do último terço. Viveiro de talento, casa de diversos treinadores e jogadores portugueses. Campeonato entusiasmante e mor no país do futebol e, por consequência, dos golos.

Por falar em golos, de uma visita à lista de melhores marcadores da prova nasceu esta peça. Pedro, do Flamengo, é o líder, com algum destaque. Em segundo, o experiente Juan Martín Lucero. Para fechar o pódio, sete jogadores; um captou a nossa atenção: Isidro Pitta.

O paraguaio de 25 anos é o homem golo do aflito Cuiabá, liderado por Petit. Conta, no momento em que a peça foi redigida, com 21 golos esta temporada - sete no campeonato. 

Um registo positivo, mas insuficiente para justificar um trabalho mais aprofundado; certo, caro leitor? Em parte. Ao abrir a ficha do jogador, deparamo-nos com uma deliciosa curiosidade: aos 18 anos, Isidro passou pelo futebol português, pela distrital de Aveiro, onde vestiu a camisola do Alvarenga.

Para perceber melhor todos os pormenores desse ano por terras lusas, o zerozero entrou em contacto com Pedro Costa, treinador da equipa durante três temporadas, uma delas com Isidro.

Zero problemas e infinitas soluções, como se quer

«Ele chegou em janeiro e veio fazer a diferença. Veio-nos ajudar imenso. Era um jogador claramente acima do nível exigido para a divisão em questão e, na altura, tinha só 18 anos. Claramente acima e com um potencial enorme», começou por relembrar.

Uma das primeiras e inevitáveis perguntas que surge incide no início desta relação. Como é que um talentoso jovem paraguaio chega à distrital de Aveiro?

«Na altura, o Alvarenga era SAD. Ele chegou ao Alvarenga através do seu empresário, que era o maior acionista da SAD, o Marcelo Robalinho, da Think Ball», Pedro Costa explicou.

«O objetivo era mesmo esse: recebermos cá jogadores jovens, que aparentemente estivessem preparados para o futebol europeu. Como o Isidro, recebemos outros valores com muita qualidade. Ainda assim, o que se destacou mais foi ele», continuou.

Compreendida a relação entre Pitta e o Alvarenga, passemos para o primeiro impacto causado, o momento em que o treinador viu o jogador e, neste caso, ficou aliviado.

Pedro Costa, ex-jogador do Boavista, Académica e SC Braga, com as cores do Alvarenga

«No início de cada época, basicamente não fazíamos pré-época, porque não existiam jogadores suficientes. Quando começavam a chegar os jogadores, já o campeonato estava quase em andamento. Chegávamos a dezembro/janeiro e tínhamos de refazer quase todo o plantel. Foi nessa altura que nos chegou o Isidro. Para mim, enquanto treinador, quando me comecei a aperceber do tipo de jogador que estava ali... Foi quase um alívio, uma satisfação muito grande. Quando um jogo está difícil de decidir, há sempre um ou outro pormenor de um jogador com qualidade que resolve um jogo e o Isidro é um bocadinho por aí», constatou.

«Era um jogador com uma grande qualidade individual: muita técnica, muito rápido, possante, com facilidade a jogar com os dois pés e com a possibilidade de jogar no centro ou descaído numa das linhas... Com a qualidade dele, adaptar-se-ia sempre», ou seja, uma chegada a Portugal sem grandes dificuldades evidenciadas.

A nível pessoal, também só existem pontos positivos a apontar: «Era muito responsável; bebia o seu chazinho, descansava muito e era muito tranquilo. Nunca nos deu problemas, muito pelo contrário».

Qualidade dentro e fora de campo. Segundo Pedro Costa, Pita sempre foi um jogador «super profissional»: «Esteve sempre consciente do que vinha cá [a Portugal] fazer. Ele era uma aposta forte da agência e sabia perfeitamente que o seu tempo cá seria curto e era para sair num futuro próximo, para um patamar superior.»

Mentor Petit a preparar um eventual regresso?

Apesar qualidade - inegável, como já referido -, há sempre espaço para mais; espaço para evoluir e crescer nos diferentes aspetos do jogo. Foi nesse sentido que Pedro Costa tentou fazer a diferença na carreira de Isidro.

«Tenho o gosto de ter feito parte da carreira do Isidro, de ter colaborado para o desenvolvimento dele. Eu era quase como um pai para eles. Fazia tudo. Tanto eu como as pessoas que faziam parte da direção do Alvarenga, éramos a família deles. Cá, a nível de jogo, a nossa função é dar-lhes algumas luzes em particularidades mais táticas, orientá-los para um contexto mais coletivo», admitiu.

Pitta a festejar um dos muitos golos ao serviço do Cuiabá @Getty /

Quando o tema passou para o presente, o treinador não escondeu: «Quando vejo um jogo ou outro, sinto um prazer enorme...»

Alegremente, continuou e mencionou também Petit: «Ainda para mais, sendo um treinador amigo meu. Conheço as capacidades do Petit e ele, como bom treinador que é, está certamente a aproveitar as características do Isidro. Está ali o conjunto perfeito.»

Por fim, Pedro Costa falou sem reservas sobre o futuro e garantiu que o jogador está pronto para voos, por exemplo, em Portugal: «O trabalho que o Petit está a fazer no Brasileirão, sendo um treinador inteligente, acredito que seja semelhante ao que fez cá. Portanto, o Isidro estaria - e está - muito mais adaptado ao tipo de futebol que se pratica cá. Um jogador com qualidade joga em qualquer sítio.»

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