"Apelamos à responsabilidade de todos os caledónios, dos nossos líderes políticos, institucionais, sociais, religiosos, associativos e familiares. Pedimos-lhes que utilizem todas as formas e meios ao seu dispor para restabelecer a razão e a calma", disse o governo local do arquipélago do Pacífico, anexado à França.
"Todas os motivos de descontentamento, frustração e raiva não podem justificar minar ou destruir o que o país foi capaz de construir durante décadas e hipotecar o futuro", acrescentaram as autoridades, num comunicado de imprensa.
Os bombeiros de Numeá disseram que receberam quase 1.500 pedidos de ajuda durante a noite e que tiveram de responder a cerca de 200 incêndios. Segundo um grupo empresarial, cerca de 30 lojas, fábricas e outros negócios foram incendiados.
As ruas de Numeá e dos subúrbios da capital da Nova Caledónia estavam repletas de destroços de automóveis, pneus e paletes incendiados.
O representante do Estado francês no arquipélago decretou o recolher obrigatório entre as 18:00 de hoje e as 06:00 de quarta-feira (das 08:00 às 20:00 de hoje em Lisboa), assim como proibiu qualquer reunião, o porte de armas e a venda de álcool.
Louis Le Franc disse hoje numa conferência de imprensa que, durante os motins, foram disparados tiros "com armas de grande calibre, grandes espingardas de caça, contra os agentes da polícia", e que casas foram incendiadas, mas que não houve mortes.
O governo encerrou escolas secundárias e universidades. O aeroporto internacional foi também encerrado e a companhia aérea de bandeira da Nova Caledónia Aircalin suspendeu todos os voos marcados para hoje.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Nova Zelândia, Winston Peters, que deveria visitar Numeá esta semana, adiou a deslocação "para permitir que as autoridades se concentrassem totalmente na situação atual".
Os tumultos eclodiram na segunda-feira, à margem de uma manifestação pró-independência contra uma revisão constitucional que visa alargar o eleitorado para as eleições provinciais.
A atual Constituição da França limita o eleitorado aos inscritos nas listas para o referendo de autodeterminação de 1998 e aos seus descendentes, excluindo um em cada cinco potenciais eleitores, incluindo os que chegaram depois de 1998 e muitos habitantes nativos da Nova Caledónia.
O ministro francês do Interior e dos Territórios Ultramarinos, Gérald Darmanin, que propôs a revisão, disse que esta disposição "já não está em conformidade com os princípios da democracia" e "conduz ao absurdo".
Os separatistas da Nova Caledónia, um arquipélago com 270 mil habitantes, descrevem a reforma como uma tentativa de "marginalizar ainda mais o povo indígena Kanak", que representava 41,2% da população da ilha em 2019.
Leia Também: Universidade de Amesterdão encerra dois dias após protestos pró-Palestina