Guarda costeira grega acusada de atirar migrantes ao mar

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18 jun, 2024 - 07:59 • Olímpia Mairos

Grupos de defesa dos direitos humanos alegam que serão milhares os que são impedidos de chegar aos centros onde poderiam pedir o estatuto de refugiado. São caçados por membros das autoridades, mas que “estão aparentemente a agir na clandestinidade – sem uniformes e muitas vezes mascarados”.

A guarda costeira grega terá causado a morte a dezenas de migrantes no Mediterrâneo durante um período de três anos, revela a BBC.

De acordo com a televisão pública britânica, que se fundamenta em testemunhas, em organizações não-governamentais e na guarda costeira turca, nove terão mesmo sido atirados para a água de forma deliberada.

Mais de 40 pessoas terão morrido por terem sido forçadas a sair das águas territoriais gregas, ou levadas de volta para o mar depois de chegarem às ilhas gregas.

Em declarações à BBC, a guarda costeira grega rejeita veementemente todas as acusações de atividades ilegais.

Há muito que o Governo grego é acusado de regressos forçados, empurrando as pessoas de volta para a Turquia, de onde partiram, o que é ilegal à luz do direito internacional.

A investigação da BBC, que resultou no documentário "Dead Calm: Killing in the Med?", partiu de informações de media locais, ONG gregas e da Guarda Costeira da Turquia.

Os 15 casos analisados, datados de maio de 2020 a 2023, terão resultado em 43 mortes. Em cinco deles, os migrantes disseram ter sido lançados diretamente ao mar pelas autoridades gregas. Em quatro, detalharam como desembarcaram nas ilhas - e como foram posteriormente apanhados. As testemunhas dizem ter sido colocadas em botes insufláveis sem motores, que depois esvaziaram ou foram perfurados.

As imagens, filmadas pelo ativista austríaco Fayad Mullas, e já publicadas pelo jornal The New York Times, foram verificadas pela equipa da BBC, que as mostrou a um antigo chefe das operações especiais da Guarda Costeira grega.

Histórias na primeira pessoa

Um migrante camaronês conta que conseguiu chegar a Samos em setembro de 2021, que foi apanhado por vários polícias mascarados e colocado num barco. Dois dos seus companheiros foram atirados ao mar e aí morreram, os seus corpos deram à costa na Turquia. Ele foi espancado “como um animal” e também lançado ao mar sem sequer ter um colete salva-vidas, mas conseguiu sobreviver.

Outro migrante, da Somália, diz que em março do mesmo ano foi capturado quando chegou a Chios, amarrado e lançado à água. Só sobreviveu porque conseguiu libertar uma das mãos. Do grupo, três pessoas morreram.

Por sua vez, um migrante da Síria revela que, em setembro de 2022, o seu barco com 85 pessoas a bordo ficou sem motor perto de Rhodes, acabaram por ser recolhidos pela guarda grega que os mandou para águas turcas em botes. O barco em que foi colocado não tinha a válvula devidamente fechada e começou imediatamente a afundar. Os guardas costeiros não agiram e acabaram por morrer várias crianças: “os meus filhos só morreram de manhã… pouco antes da guarda costeira turca chegar”.

Os grupos de defesa dos direitos humanos alegam que serão milhares os que são impedidos de chegar aos centros onde poderiam pedir o estatuto de refugiado. São caçados por membros das autoridades, mas que “estão aparentemente a agir na clandestinidade – sem uniformes e muitas vezes mascarados”.

Já o Ministério dos Assuntos Marítimos e Política Insular da Grécia disse à BBC que as imagens estão atualmente a ser investigadas pela Autoridade Nacional de Transparência independente do país.

A Grécia é a porta de entrada para muitos migrantes. Em 2023, foram registadas mais de 260 mil chegadas, sendo que cerca de 16% aconteceram na Grécia, segundo dados do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

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