Guerra colonial é apenas "uma passagem" nos programas de história em Portugal

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O presidente da Associação de Professores de História (APH) notou que a guerra colonial é apenas "uma passagem" nos programas da disciplina de história em Portugal, talvez porque "ainda não passou o tempo suficiente".

"A guerra colonial dos programas é uma passagem. No nono ano, se é abordada, é muito de passagem. Fala-se que houve uma guerra colonial, mas não se entra em pormenores", disse Miguel Monteiro de Barros à Lusa.

E acrescentou: "Não há descrições, eu acho que são raros os professores que perdem (entre aspas) algum tempo a lecionar sobre a guerra colonial, porque também não há muita literatura sobre o assunto".

"Primeiro, o tempo é exíguo. Segundo, eu acho que são conteúdos em que ainda não há reflexão histórica de qualidade suficiente para que se possa lecionar essas questões de uma forma, o mais possível, desapaixonadamente, porque eu acho que há ainda muita ferida aberta", indicou.

O historiador recordOU os alemães, para quem "é preciso passar 50 anos, e a maioria das pessoas morrer para um país começar a analisar aquelas memórias e aquelas memórias passarem a ser história".

"Eu acho que muitos ex-combatentes só agora é que começam a falar e aquilo que não conseguiram dizer aos filhos, curiosamente conseguem dizer aos netos", adiantou.

Miguel Monteiro de Barros considerou que "Portugal tem feito muito trabalho nesse sentido da preservação da memória dos ex-combatentes, mas dos combatentes portugueses".

"Da parte dos países africanos, temos um problema - falta de meios, uma esperança média de vida muito menor e, acredito, que muitos dos ex-combatentes provavelmente terão já falecido, ao contrário dos portugueses", observou.

Nos países africanos "há alguns arquivos, mas não funcionam da mesma forma que os arquivos portugueses, nomeadamente online, e é difícil encontrar testemunhos até sobre outras questões, como, por exemplo, o trabalho forçado".

"Nunca nos podemos esquecer que a escravatura foi substituída pelo trabalho forçado e o trabalho forçado durou nos territórios ultramarinos até 61 e nalguns casos provavelmente até 74", disse.

Miguel Monteiro de Barros apontou "um mau estar e um desconforto" das pessoas quando estes temas são abordados.

"Já tive pessoas que me disseram por que [razão] nós temos que falar destas coisas, por que é que não falamos das partes positivas. Ora, a questão é que temos sempre falado das partes positivas", concluiu.

A guerra colonial portuguesa começou em 1961 e durou até 1974, ano da revolução de 25 de Abril.

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