Há 50 anos, a indústria do futebol mudou e alemães foram os responsáveis

24 de março de 1973: há 50 anos o mundo do futebol mudou. Eintracht Braunschweig, clube alemão fundado em 1895, transfigurou - ainda que de forma clandestina -, o ecossistema do desporto-rei ao tornar-se no primeiro clube a utilizar um patrocínio numa camisola de jogo. 

Ilegal? Clandestino? Pois bem, a FIFA apenas permitiu os clubes exibirem patrocínios a partir dos anos 80, algo que forçou o emblema sediado em Brunsvique a uma certa elasticidade (e criatividade) artística. Nós explicamos. 

Em primeiro lugar, na temporada 1972/1973, o Braunschweig atravessou por um período muito complicado do ponto de vista financeiro/desportivo. Desportivamente, o clube - que já venceu a Intertoto Cup por sete ocasiões e a Bundesliga uma vez -, vivia no precipício da primeira divisão e procurava preparar de forma eficaz o regresso à elite. 

Um Master patrocínio

Financeiramente, como referido, as contas não eram nada favoráveis. O emblema germânico passava por dificuldades e a oferta de Günter Mast - empreendedor alemão e CEO da empresa Mast-Jägermeister - tornou-se irrecusável para Ernst Fricke, presidente do clube: no total, 100 mil marcos alemães.

Apesar disso, Fricke não detinha controlo total e absoluto sobre as decisões e, portanto, o clube promoveu uma assembleia para os sócios decidirem o futuro. O resultado foi esclarecedor: 154 votos a favor, apenas sete contra, pelo que, a necessidade monetária falou mais alto.

Posto isto, a ideia avançou... mas com vários constrangimentos. Em primeiro lugar, a Federação Alemã não gostou nada da ideia, tendo alegado que a utilização do patrocínio seria uma afronta para a história do emblema e do futebol alemão. Ainda assim, o sonho de Fricke e Mast tornou-se realidade, mesmo com a contrariedade imposta pela Federação: o símbolo não poderia ocupar mais de 200 cm na camisola.

Mudança de costumes

De modo a contornar isto, o clube alterou o símbolo. Sim, caro leitor, a cabeça do leão - representativo do Eintracht Braunschweig - foi trocado pelo veado do logo da Jägermeister. Apesar de questionável e algo controversa (nos tempos em que foram adotadas estas medidas), a verdade é que a Federação aceitou as mudanças e o acordo acabou firmado em fevereiro de 1973.

O primeiro jogo, já com o patrocínio colado no peito, foi diante o Schalke 04 (1-1), precisamente no dia 24 de março de 1973. A adoção do patrocínio não alterou o futuro do clube - que caiu para o segundo escalão - no entanto... o melhor estava por vir, uma vez que, no ano seguinte, o emblema conseguiu a subida e, nos anos seguintes, um total de três Intertoto Cup's.

Não há como negar: a ideia do Eintracht Braunschweig mudou a indústria do futebol.

De uma estratégia questionável, para uma ideia validada e replicada por vários clubes. Entre eles, o poderoso - e então campeão alemão - Bayern Munique, que substituiu o símbolo do clube pelo logo da marca desportiva Adidas.

Contudo, importa sublinhar, os bávaros não foram os únicos. Como tal, e de modo a evitar que os clubes entrassem em campo com a marca da empresa ao invés do histórico emblema no traje, a FIFA implementou uma regra - em 1980 - que permitiu aos clubes utilizarem (para além do designado emblema) um patrocínio. Em Portugal, a título de curiosidade, o Varzim foi o primeiro a fazer uso da nova regra no seu traje, em 1983.