“Há a sensação psicológica de estarmos presos debaixo de uma parede”, diz Gouveia e Melo

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Marinha

06 mai, 2024 - 19:44 • Pedro Mesquita

O português “Arpão” terá sido o primeiro submarino convencional do mundo a operar debaixo de gelo. Durante quatro dias, procurando evitar os “icebergs”, navegou nas profundezas do Ártico.

“Há a sensação psicológica de estarmos presos debaixo de uma parede”, diz Gouveia e Melo

Um submarino português navegou quatro dias debaixo do gelo Ártico. Terá sido o primeiro submarino convencional do mundo a fazê-lo, e a bordo estava o Chefe de Estado Maior da Armada. A missão foi planeada há cerca de 14 anos pelo próprio Henrique Gouveia e Melo: “Tirando os russos, que não sabemos muito especificamente o que é que fazem, em termos ocidentais nós tivemos o primeiro submarino convencional a operar debaixo do gelo. Além dos Estados Unidos, da Rússia e do Reino Unido que operam submarinos nucleares, e que já operavam debaixo de gelo, nós somos o quarto país a operar submarinos debaixo do gelo.”

Contactado pela Renascença na Gronelândia, horas depois do submarino português ter atracado no porto de Nuuk, Gouveia e Melo começa por explicar que se tratou de uma missão essencialmente militar, “para testar uma nova capacidade".

"Pensamos nesta missão há cerca de 14 anos, quando eu fui comandante da esquadrilha de submarinos. Desenhei três missões para testar, na altura, todas as capacidades dos novos submarinos. A primeira foi ir aos Estados Unidos sem apoio nenhum, de nenhum navio. Isso foi logo feito em 2011. A segunda missão era operar em águas muito quentes e fazer uma volta à América do Sul e África, que foi conseguido no ano passado. Finalmente conseguimos a terceira missão que era operar a em águas muito, muito, frias... e operar debaixo do gelo usando uma capacidade que nós temos, que é um “fuel cell”, que nos permite estar muito tempo sem ter que vir à superfície”, explica Gouveia e Melo.

E tudo correu como o planeado: “Nós, entre a aproximação à zona em que há uma camada de gelo à superfície, para nos podermos meter em imersão por baixo dessa camada, e regresso, perdemos cerca de dois dias. Depois estivemos cerca de quatro dias a navegar por baixo do gelo. Também fizemos uns testes numa zona de transição entre o gelo e as águas limpas, que tem muitos icebergs, e que taticamente é interessante porque podemos vir à cota periscópica, meter os mastros de fora, apesar de ser uma zona em que isso tem de ser feito com muito cuidado para não haver colisões com as grandes massas de gelo...e permite-nos recarregar as baterias e voltar para baixo da placa de gelo.”

Mas como será viver, durante quatro dias, debaixo de um teto de gelo? “Há uma sensação psicológica estarmos presos debaixo de uma parede... que, em caso de emergência, não se consegue romper essa parede e vir à superfície para podermos respirar ar, não é?”

Um dos vários riscos – calculados – desta missão era, por exemplo chocar contra um “iceberg”, sem a possibilidade de vir rapidamente à superfície: “Sim. Esse era um dos incidentes possíveis. Outro seria, por exemplo, haver um incêndio catastrófico a bordo que nos obrigasse a ter de ventilar o submarino, e não podemos vir à superfície. Mas, de facto, já operamos estes submarinos há cerca de 14 anos, temos muita confiança neles e fazemos as operações com a máxima segurança e com um planeamento adequado.”

A missão foi concluída com sucesso. Com o submarino já atracado no porto de Nuuk, na Gronelândia, é tempo, de respirar o ar puro. E frio. Mas não só: “Hoje estamos aqui num período mais de repouso, de fazer as nossas lições aprendidas na aventura. Ou seja, (estamos) a recolher todos os dados e a organizá-los.”

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