A temporada foi, na sua larga maioria, algo instável em Pina Manique (ou Rio Maior, para ser mais correto), com oscilação constante de resultados e mudança de treinador principal em duas ocasiões. Em fevereiro, no entanto, perante a saída de Pedro Moreira, o conjunto lisboeta apostou numa cara bem conhecida do futebol português, mas inexperiente nos bancos de suplentes e parece ter acertado em cheio. Com apenas 37 anos, o antigo médio Gonçalo Santos podia perfeitamente estar ainda nos relvados, mas, em 2021, decidiu terminar a carreira de jogador - então com 34 anos - e dedicou-se desde logo à aprendizagem do ofício de técnico. Precisou de apenas três anos para chegar à Primeira Liga, teve um arranque histórico e em grande e já deixou o Casa Pia no conforto do meio da tabela. Agora, esta segunda-feira, reencontra o Estoril Praia - curiosamente exatamente uma volta depois da saída de Filipe Martins, o treinador que arrancou a época -, o clube onde passou mais tempo como jogador e onde viu crescer o seu tempo. Por isso, o zerozero foi conhecer as suas origens e a opinião de quem bem o conhece sobre esta mudança e sucesso. Gonçalo e Vágner no Estoril @Carlos Alberto Costa «O Gonçalo é um ser humano espetacular, acima da média. É alguém muito tranquilo, muito dedicado, um homem de família. Sempre foi assim. Percebemos, desde que chegou ao Estoril, que tinha algo diferente. No início era um pouco tímido, mas tranquilo, e foi-se soltando. Como era natural. Uma pessoa cinco estrelas», começa por dizer-nos Vágner, guarda-redes brasileiro, atualmente ao serviço do Torreense. O guardião canarinho tem a mesma idade de Gonçalo e é o recordista de jogos (99) ao lado do antigo médio português e admite que não está surpreendido com a mudança precoce de carreira do ex-colega: «Falávamos um pouco dessa vida de treinador, porque tivemos ali um exemplo de grande sucesso, o Marco Silva, que também era muito novo. Eu, por exemplo, cheguei a encontrar o Marco Silva como jogador e foi meu capitão. Como convivemos muito com ele, como foi o caso do Gonçalo, ajudou. Claro que nem todos vamos ser Marcos Silva, mas podemos retirar dali um bocadinho de força.» «O Gonçalo está no caminho. Já está a correr muito bem. A partir do momento em que se vê entrevistas de jogadores, depois de um jogo, a dizer que estão com o treinador, é sinal que ele tem gerido muito bem. Isso é bom sinal, porque hoje em dia qualquer um pode ser treinador, por causa dos cursos, mas essa experiência de jogador e de balneário pela qual passamos é muito importante para saber gerir. Um bom treinador não é saber tática e técnica, é saber gerir pessoas, porque não somos máquinas. Penso que o Gonçalo, por toda a bagagem que tem e do que vivemos juntos no Estoril, tem isso», acrescenta Vágner. «Na posição dele, provavelmente era dos médios mais completos com quem tive oportunidade de jogar, tanto que acabou por dar o salto. Como pessoa, era e é uma pessoa leal, um grande amigo, muito verdadeiro e um líder nato, o que influencia nas funções que tem hoje. Era um líder que, pelo dom da palavra e exemplo, fazia com que todos remassem atrás dele e transformassem as ideias dele em resultados» Gonçalo e Diogo conviveram várias épocas @Catarina Morais «Ele tem uma personalidade, onde é acanhado até perceber se pode ter a confiança da pessoa. Mas depois de se soltar, e falo por experiência própria, porque vivi grandes momentos com o Gonçalo, inclusivamente convívios em casa, sempre foi espetacular. No início era algo acanhado, mas depois de ganhar essa confiança é espetacular. É brincalhão, tem um humor característico, que às vezes é difícil entender, mas é alguém espetacular», conta ao zerozero Diogo. Gonçalo Santos assumiu o comando do Casa Pia em meados de fevereiro e o sucesso precoce tem sido evidente. Foram três vitórias, um empate e duas derrotas (uma delas frente ao Benfica) em seis jogos, incluindo a maior vitória de sempre dos Gansos na Primeira Liga. O impacto do jovem técnico é evidente e pode ter surpreendido muitos, mas não os ex-colegas. 6 Jogos 8 Golos «Pode ter surpreendido muita gente, mas a mim não. Hoje em dia um treinador tem que ser muito mais do que isso. Tem que ser pai, amigo, psicólogo, conselheiro e muito mais. Tudo numa só pessoa. E acho que o Gonçalo tem muito esse perfil. Acredito que vai ter um grande perfil e torço por isso. Vai estar em grandes palcos», concordou Vágner. Claramente próximo de Gonçalo, visível no constante sorriso que tem ao falar do ex-colega, Vágner lembra, entre risos, que ambos tinham um «problema» futuro em mãos que os preocupava: «Tínhamos uma grande preocupação com não sermos calvos com o passar da idade. Acabou por acontecer comigo e com ele não. Até brinco com ele, que hoje tem um belo cabelo [risos]. Brincávamos muito, porque nenhum de nós queria ser calvo e até tínhamos o João Coimbra, da nossa idade, que já era totalmente careca. Hoje em dia, felizmente, nenhum de nós tem esse problema, porque quando vim para o Boavista fiz um transplante. Agora sou eu que brinco com ele.» Gonçalo reencontra o «seu» Estoril @Catarina Morais«Percebemos, desde que chegou ao Estoril, que tinha algo diferente»
«Tem um humor característico, que às vezes é difícil entender»
Sucesso não surpreende
Gonçalo Santos
Liga Portugal Betclic 2023/24
3 Vitórias
1 Empates
2 Derrotas
4 Golos sofridosDa calvície aos grandes palcos
CASA PIA AC
EMPATE
ESTORIL PRAIA