IA generativa, agora é a valer

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O que sobra quando passa a euforia? O que realmente importa. É nesta fase que estamos a entrar no que se refere à Inteligência Artificial generativa.

Depois de toda a loucura provocada pelo ChatGPT no início do ano – atingindo 100 milhões de utilizadores em janeiro, apenas dois meses após ter sido lançado -, com o verão começou a notar-se a perda de popularidade do chatbot de IA, diminuição nos números. Registou-se ainda perda de confiança por parte dos consumidores, descontentes com a ausência de leis e regulamentação e cada vez mais conscientes das já famosas alucinações (à conta das quais o dicionário Cambridge elegeu o termo “hallucinate” como a palavra do ano).

Agora é o momento da fase ‘séria’. “Tudo o que é novo começa com um hype, com curiosidade. Os números e a nossa perceção dizem-nos isto”, sublinha João Martins, Data & Analytics & AI Manager na Noesis. “Nesta altura existe uma menor utilização de chat GPT e passou a existir uma maior utilização de IA generativa, dentro das organizações. Portanto, passámos da curiosidade, da experimentação, para a utilização profissional”, detalha. Já não se trata de uma utilização por graça, mas por necessidade.

João Martins, da Noesis, diz que é preciso não ter medo de usar a IA generativa

No caso da consultora, esta utilização tanto acontece a nível interno como para os clientes. Num motor de busca destinado a esclarecer dúvidas nos regulamentos da própria empresa – “vou de licença de paternidade, o que tenho de fazer” – ou numa solução para escrita de um texto jurídico. “A minha equipa de desenvolvimento muitas vezes usa a Generative AI não para criar código, mas para comentar, tirar dúvidas”. Um exemplo que já se tornou um clássico é a utilização da ferramenta para detetar as falhas num programa.  “É muito mais eficiente ter alguém que em cinco dez minutos consegue fazer o processo de debug, em vez de demorar duas/três horas”, sublinha. “E com isso consigo que a pessoa não esteja chateada por estar a quebrar a cabeça, a partir pedra para descobrir que faltava um ponto e vírgula”, ficando com tempo livre para pensar em novas soluções, que é esta a mais-valia de ter um cérebro.

Senhor modelo, não alucine

Para João Martins este é mesmo um momento de mudança de paradigma e um divisor de águas. Haverá quem experimente e siga com a sua vida e quem integre e adquira uma vantagem competitiva. “Não se via nada tão inovador há muitos anos. Passámos o período em que só usávamos IA para as previsões, sem grandes inovações, e saltamos para um boom, em que qualquer pessoa em qualquer momento pode interagir com IA.” Mesmo que não perceba rigorosamente nada do que está por detrás da tecnologia.

Também serve para num ambiente fabril, sendo usada para esclarecer dúvidas relativas ao funcionamento das máquinas. “Nem toda a gente anda com a documentação da máquina debaixo do braço”, nota.

Mas convém não exagerar nas expectativas. “A IA generativa não vem resolver todos os problemas do mundo”, sublinha. Sem dados bons, em quantidade e qualidade, sem normas, o sistema não traz a solução.

E depois é preciso ter muita atenção à forma como se ‘fala’ com o modelo. “O segredo está na prompt [no comando]. O modelo pode ser tresloucado, alucinado, mas nós podemos dizer: senhor modelo, se não sabes a resposta, não inventes, ponto de exclamação”, exemplifica João Martins.

Importante mesmo é não ter medo e usar a tecnologia para nos simplificar a vida. Sob pena de ficarmos para trás. “A tecnologia está à distância de sete ou oito letras num browser. Se as empresas têm medo, falem com os integradores, com as pessoas que têm experiência nesta área. Desafiem-nos, façam-nos perguntas difíceis. Aproveitem este momento, a oportunidade da IA generativa.”

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