Idioma é principal entrave dos refugiados que vivem na Alemanha

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"Ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre o sucesso ou insucesso da integração dos refugiados ucranianos na Alemanha", sublinha Yuliya Kosyakova, chefe do departamento de investigação Migração, Integração e Estudos Internacionais do Trabalho da Agência Federal de Emprego.

"Quando falamos de refugiados, referimo-nos a pessoas que não vieram por causa do trabalho. Não vêm preparados, e não vêm voluntariamente. Normalmente não dominam o idioma, não têm uma rede de contactos, nem informação nenhuma sobre o sítio onde estão. Tudo isto demora o seu tempo", esclarece, em declarações à agência Lusa.

Aleksander (nome fictício), fugiu de Kiev pouco mais de uma semana depois da guerra começar, em março de 2022. Deixou a casa e viajou de carro com a mulher e os dois filhos, um deles com uma doença crónica, da capital ucraniana até aos arredores de Berlim.

"Lembro-me da minha mulher e da minha filha me acordarem pouco passava das 5 da manhã. Vivíamos no 16º andar de um edifício, por isso rapidamente nos apercebemos de tudo. Procurámos a televisão, a rádio, mas ninguém explicava nada", começa por contar.

Esperou uns dias com a esperança de que "tudo se resolvesse". Quando percebeu que a família corria perigo, decidiu aceitar a ajuda de amigos alemães.

"Primeiro ficámos uns tempos numa casa de um amigo, nos arredores de Berlim. Percebemos que não podíamos ficar ali eternamente à espera, os meus filhos precisavam de retomar os estudos, eu precisava de trabalhar", explica.

A empresa onde trabalha aceitou a transferência. Mudou de casa mais de cinco vezes e só em agosto encontrou uma solução mais estável. Teve sorte com o trabalho, mas a mulher ainda está desempregada.

"A minha mulher está a aprender alemão. Não é fácil, demora. Ela demorou a sentir-se preparada para começar. Não conseguia compreender como é que, de um dia para o outro, teve de deixar tudo, inclusive a mãe, que não quis abandonar a Ucrânia", revela Aleksander.

"No primeiro ano, muitos ucranianos achavam que poderiam regressar a casa em pouco tempo, então a procura de trabalho ou frequentar cursos de integração era secundário", revela Krista-Marja Läbe, ativista e coordenadora da associação de jovens ucranianos Vitsche.

"Com o avançar da guerra, mais pessoas começaram a duvidar do regresso, e ainda estão algures no meio, entre o voltar à Ucrânia e o ficar na Alemanha. Isso faz com que não estejam instaladas. Muitas estão a frequentar cursos de integração, cursos para aprender o idioma, e isso leva o seu tempo, especialmente para as pessoas mais velhas", acrescenta.

Desde o início da guerra, a 24 de fevereiro de 2022, mais de um milhão e cem mil refugiados ucranianos chegou à Alemanha. Cerca de 65% são mulheres e 35% homens. Entre eles, estima-se que estejam mais de 350 mil crianças e jovens com menos de 18 anos.

"Muitas das mulheres que chegam, trabalhavam anteriormente nos setores da saúde e educação. Na Alemanha, é necessária uma certificação, o que leva tempo. Além disso, é exigido um nível médio ou alto de alemão para este tipo de profissões", adianta Yuliya Kosyakova da Agência Federal de Emprego e professora de Investigação sobre Migração na Universidade Otto-Friedrich Bamberg.

Krista-Marja Läbe acredita que falta aos ucranianos que chegam ao país a possibilidade de contactarem mais com alemães. A associação tem feito esforços nesse sentido, mas é preciso mais.

"Vemos que, nestes cursos, os ucranianos não têm qualquer contacto com alemães. Para que a integração aconteça, é necessário um contacto com pessoas de outras nacionalidades, especialmente com a sociedade alemã. Há alguns programas e organizações que ajudam nesse aspeto, mas muitos ucranianos ainda estão em comunidades isoladas porque não têm outra hipótese", lamenta.

Aleksander, que chegou à Alemanha há cerca de dois anos, não pensa em voltar por agora. Até porque o fim da guerra ainda parece longínquo.

"Sabemos que metade dos ucranianos querem ficar na Alemanha, mas a outra metade pensa em regressar, caso a Ucrânia vença. As condições da Ucrânia pós-guerra, também vão interferir, se é necessário reconstruir muito ou não", analisa Yuliya Kosyakova.

Três quartos dos ucranianos a viver na Alemanha não têm trabalho, e cerca de setenta por cento frequenta cursos de integração, com o idioma a ser a principal dificuldade para entrar no mercado de emprego.

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