Iémen. ONU pede que exportações de petróleo sejam retomadas

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De acordo com Martin Griffiths, que em breve deixará o cargo de subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários e de coordenador de Ajuda de Emergência devido a problemas de saúde, estas medidas iriam estabilizar a moeda local e reforçar os serviços públicos essenciais nas áreas controladas pelo Governo.

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação no Iémen, o representante das Nações Unidas defendeu que os funcionários do setor público em todo o país devem receber um salário digno, frisando que será impossível restaurar os serviços públicos sem esse pagamento.

As Nações Unidas -- sob a liderança do coordenador residente e humanitário, Julien Harneis - estão a desenvolver um quadro destinado a incentivar a criação de empregos e oportunidades de subsistência no Iémen, apoiando a reforma económica a nível nacional e local.

"Estas medidas claramente definidas contribuiriam muito para reduzir as necessidades humanitárias e permitiriam às autoridades do Iémen retomar a responsabilidade pela prestação de serviços básicos", argumentou Griffiths.

Na reunião de hoje, o responsável da ONU para os assuntos humanitários recordou que o seu primeiro 'briefing' ao Conselho de Segurança como coordenador de Ajuda de Emergência aconteceu há quase três anos e foi precisamente sobre o Iémen, tendo optado por voltar hoje a falar aos Estados-membros sobre o país mais pobre da Península Arábica num dos seus últimos 'briefings'.

"Durante estes últimos três anos, houve momentos de grande esperança. (...) Mas o Iémen claramente não está fora de perigo -- longe disso. O Iémen continua a ser um país onde as coisas se deterioraram rapidamente no passado e onde podem voltar a acontecer. A fome, uma ameaça definidora desta crise, continua a assombrar o povo do Iémen", disse.

Segundo Griffiths, as modestas melhorias nas taxas de insegurança alimentar e de desnutrição no país após a trégua mediada pela ONU praticamente desapareceram, e os níveis de privação alimentar grave permanecem "alarmantemente elevados" em todo o país e espera-se que piorem ainda.

As Nações Unidas estão também profundamente preocupadas com o rápido agravamento do surto de cólera no Iémen, com Griffiths a apontar que até agora foram notificados 40.000 casos suspeitos e mais de 160 mortes relacionadas com a doença -- um aumento acentuado face à última atualização, no mês passado.

"A maioria está em áreas controladas pelos [rebeldes xiitas iemenitas] Huthis, onde centenas de novos casos são relatados todos os dias", indicou.

Apelando a um financiamento rápido de um plano de resposta contra a doença, Griffiths alertou para as consequências da falta de ação, recordando que, entre 2016 e 2021, cerca de 4.000 pessoas no Iémen -- a maioria crianças -- perderam a vida num surto semelhante.

Na reunião de hoje esteve também presente o enviado especial da ONU para o Iémen, Hans Grunberg, que sublinhou a "necessidade urgente" de se alcançarem progressos para um acordo que ponha fim à guerra.

Embora assinalando uma redução nos ataques a navios comerciais e militares no Mar Vermelho, no Golfo de Aden e no Oceano Índico, assim como a uma redução do número de ataques aéreos dos Estados Unidos e do Reino Unido contra alvos terrestres no Iémen, Grunberg frisou que as hostilidades continuam e manifestou preocupação com o impacto destas para os civis.

Na reunião, alertando para a falta de recursos para apoiar a resposta humanitária ao Iémen, o diplomata norte-americano Robert Wood instou os Huthis a cessar os seus ataques ao transporte marítimo internacional, de forma a permitir a entrada de alimentos e produtos essenciais no país.

Wood indicou ainda que Washington tem fornecido "extensas provas" do fornecimento de armas pelo Irão, incluindo mísseis balísticos e de cruzeiro, aos Huthis, acusando o Irão de provocar "instabilidade regional".

"Se o Conselho pretende um regresso a uma perspetiva mais esperançosa para o Iémen, temos de tomar medidas coletivas -- pura e simplesmente. Devemos, coletivamente, chamar a atenção do Irão para o seu papel desestabilizador e insistir que não se pode esconder atrás dos Huthis", apelou.

"Para sublinhar a preocupação do Conselho relativamente às contínuas violações do embargo de armas, devemos fazer mais para reforçar a aplicação e dissuadir os infratores das sanções", acrescentou.

O país mais pobre da Península Arábica, o Iémen, está no meio de uma guerra civil desde 2014 entre o Governo, apoiado desde 2015 por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita, e os rebeldes Huthis, próximos do Irão, que controlam partes inteiras do país, incluindo a capital Saná.

A guerra deixou centenas de milhares de mortos, vítimas diretas e indiretas do conflito, e causou uma das piores crises humanitárias do mundo.

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