Iliteracia: acomodamo-nos?

8 meses atrás 87

A literacia financeira é fundamental para a mais simples gestão do orçamento familiar, para uma maior capacitação para a tomada de decisões informadas e adaptadas à situação da pessoa, para identificar as opções de escolha e analisar custos, benefícios e riscos.

Lutar por literacia financeira é, colateralmente, defender a igualdade de oportunidades e atenuar diferenças de proveniências socioeconómicas ou de segregação. E não tem nada, como alguns acusam, de ideológico.

Nos mais recentes dados do Eurobarómetro de Monitorização do Nível de literacia financeira na União Europeia, Portugal ocupa um terrível 26º de 27 lugares no “indicador de conhecimento financeiro”.

Estamos a falar de como o impacto da inflação e da sua relação com o poder de compra, da relação entre risco e rentabilidade, da compreensão de como funcionam os juros e da importância de diversificação de risco.

Todos estes elementos têm um elevado impacto para a autonomia e boa tomada de decisões, para gerir as finanças pessoais, atingir os objetivos de poupança, ou mesmo de preparação de reforma. Importa também para avaliar propostas comerciais e até para o próprio escrutínio político e das medidas de governantes.

Outro indicador preocupante é o “grau de conforto a usar serviços financeiros digitais, como online banking ou pagamentos online”. Portugal está de novo em 26º de 27.

Note-se que isto tem também impacto no risco para fraudes financeiras ou, “simplesmente”, de baixa produtividade ou em más tomadas de decisões. Adicionalmente, é especialmente desconcertante e desgastante num país que sistematicamente se propagandeia como muito digitalizado.

Defendo, claramente, que a literacia financeira esteja presente nas escolas, com importância suficiente para constar do perfil de competências obrigatórias à saida da escolaridade obrigatória. Mas é também importante não esquecer a população adulta.

Existe atualmente um Plano Nacional de Formação Financeira, que é muito positivo, mas que as próprias entidades que intervêm – Banco de Portugal, ASF e CMVM – referem que há muito a melhorar e que há segmentos da população a quem têm dificuldade de chegar. Não é difícil de intuir que, no último caso, são as pessoas de meios socioeconomicamente mais desfavorecidos e as mulheres.

Estar sistematicamente nas piores qualificações de reputados rankings é uma realidade que tem de mudar. Acomodamo-nos, ou desassossegamo-nos?

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