Irão: Khamenei apela ao voto para mostrar força do regime ao exterior

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Os analistas consideram que os conservadores no poder vão reforçar a sua posição – o que será fácil, dado que não há candidatos da oposição. A abstenção pode rondar os 50%, o que seria uma derrota para o regime.

Mais de 61 milhões de iranianos vão às urnas esta sexta-feira para eleger o Parlamento e a Assembleia de Peritos, numa votação que deverá reforçar o domínio dos conservadores face à ausência de qualquer alternativa.

Os iranianos votarão em cerca de 15 mil candidatos parlamentares, que  disputam 290 lugares para um mandato de quatro anos. Simultaneamente, votam em 88 membros da Assembleia de Especialistas, um órgão encarregado de supervisionar o desempenho do “Líder da Revolução Islâmica”, nomeando-o ou destituindo-o. Os candidatos a esta assembleia são eleitos para um mandato de oito anos.

O aiatolá Ali Khamenei, o referido líder da revolução islâmica, já votou numa seção eleitoral em Teerão nos primeiros minutos de votação – sendo tradicionalmente o primeiro a fazê-lo. Nos dias anteriores, Khamenei pediu aos eleitores que se apresentassem em grande número para “agradar amigos e dececionar inimigos”, referem os jornais do país.

“Pedimos ao Deus Todo-Poderoso que faça de hoje um dia feliz para a nação iraniana e que os resultados dos esforços do nosso querido povo e daqueles envolvidos nas várias questões das eleições possam alcançar os resultados desejados e beneficiar a nação iraniana”, disse o líder após a votação, citado pelo “Tehran Thimes”.

“Nossa querida nação deve saber que hoje os olhos de muitas pessoas no mundo, tanto indivíduos quanto políticos e aqueles que ocupam cargos nacionais e políticos de prestígio, estão com o Irão e em você. Eles querem ver o que estamos a fazer nestas eleições e qual será o resultado. Tanto os nossos amigos e pessoas que estão interessadas na nação iraniana, como mal-intencionados de todos os lados. Prestem atenção nisto; fazer os amigos felizes e dececionar os mal-intencionados”.

As declarações do líder supremo vão no sentido de pedir uma votação maciça nas forças do regime, para dar a entender ao extenso grupo de nações consideradas ‘inimigas’ do regime que o povo continua a defender a revolução islâmica, posta à frente do país em 1979. Num contexto em que as manifestações anti-regime se têm multiplicado nos dois últimos anos – a coberto do apoio desses ‘inimigos’ externos, segundo o próprio regime – uma votação expressiva será usada como uma espécie de ‘esponja’ para apagar a oposição.

A capital foi um dos epicentros do movimento de protesto que abalou o Irão após a morte, em setembro de 2022, de Mahsa Amini, uma jovem detida pela polícia por não respeitar o rigoroso código de vestuário do país. Os protestos acabaram por ‘resvalar’ para outras cidades e, depois de se terem concentrado nas universidades, seguiram para outros sectores. Um dos momentos mais tensos da crise aconteceu quando muitos trabalhadores do sector petrolífero entraram em greve – colocando o maior sustento do país (apesar dos embargos lançados dos Estados Unidos (e sem o apoio da ONU), em perigo.

Num sistema pouco claro, o líder supremo pediu que “todos devemos votar em quantas pessoas for preciso. Por exemplo, em Teerão, votem em 30 pessoas na Assembleia Consultiva Islâmica e em 16 pessoas na Assembleia de Especialistas da Liderança”, acrescentou.

Apesar de todos os apelos, os especialistas ocidentais esperam uma taxa de abstenção elevada, superior a 50%, segundo a AFP. Nas legislativas de 2020, realizadas no início da crise da pandemia, apenas 42,57% dos eleitores compareceram às urnas, a taxa mais baixa desde 1979.

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