Israel avança para plano de ataque mais limitado a Rafah

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Enquanto o TPI é transversalmente contestado por Israel e pelos seus parceiros – e também pelo Hamas – o governo tenta estancar o caudal de notícias adversas sobre o país.

Israel decidiu desistir do plano inicial para uma grande ofensiva na cidade de Rafah, no sul do enclave de Gaza, e gizar uma investida mais limitada, que não colida com as linhas vermelhas traçadas por Washington, não correndo assim o risco de deixar de receber material de guerra norte-americano e ‘descansando’ as consciências dos parceiros internacionais – que não querem ver uma mortandade desproporcionada como resultado do ataque.

Os jornais norte-americanos referem que o plano agora abandonado previa enviar duas divisões para a cidade. A operação agora em preparação será mais contida. Washington acredita que os novos planos resultarão em menos vítimas civis e, portanto, não vai opor-se a ele. O conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, Jake Sullivan, reuniu-se com autoridades sauditas e israelitas esta semana, a quem sinalizou a necessidade de um fim gradual das operações de combate e o início de um ‘day after’ que ainda ninguém sabe como será. As partes envolvidas não se entendem sobre a matéria: a Arábia Saudita quer o estabelecimento imediato de um Estado palestiniano que junte Gaza e a Cisjordânia sob a mesma autoridade, mas Israel recusa aceitar um vizinho independente sem ter a certeza que o Hamas está totalmente erradicado. Ora, como essa erradicação é na prática impossível – seja pelo ressurgimento do Hamas, seja pelo aparecimento de uma organização semelhante – o plano tenderá a nunca ver a luz do dia.

Para alguns analistas citados pela imprensa norte-americana, o plano inclui a criação de uma força de segurança que surja da Autoridade Palestiniana que tratará de Gaza – sendo que, neste momento, as relações entre as duas partes da Palestina encravadas em Israel não têm praticamente nenhum contacto – pelo menos público. Esta força palestina seria supervisionada por um conselho de notáveis palestinianos, apoiado por Estados árabes moderados, como o Egipto, Jordânia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, já reconheceu que Israel pode não estar disposto a abraçar um acordo de normalização com a Arábia Saudita se isso significar concordar com um Estado palestiniano. “Os sauditas exigem um cessar-fogo em Gaza e um caminho para um Estado palestino, e pode ser que Israel não esteja disposto a seguir esse caminho”, disse Blinken num depoimento ao Congresso norte-americano.

Por outro lado, segundo a imprensa israelita, cerca de 300 mil a 400 mil civis palestinianos permanecem em Rafah, principalmente na área costeira e em algumas partes do centro da cidade. Mais de um milhão estavam abrigados na cidade antes de as forças de defesa israelita (IDF) entrarem na região. Israel acredita que os líderes do Hamas e muitos agentes do grupo estão escondidos em Rafah, e também que um número não especificado dos 124 reféns sequestrados também são mantidos na cidade.

Entretanto, no dia seguinte ao Tribunal Penal Internacional (TPI) ter emitido mandados de detenção contra o primeiro-ministro e o ministro da Defesa de Israel e contra os líderes do Hamas, todas as forças políticas israelitas se juntaram para recusar a iniciativa daquele organismo internacional. Desde a extrema-direita que apoia o governo até à oposição moderada, todos os partidos emitiram comunicados ou fizeram declarações de repúdio em relação aos mandados. Os países ocidentais fizeram o mesmo. Ironicamente, também o Hamas se queixou de que o TPI não tem qualquer razão para acrescentar a organização palestiniana ao rol dos suspeitos israelitas de praticarem crimes de guerra.

Entretanto, e depois de ter expulso o grupo de comunicação social Al Jazeera (de origem qatari) do país, o governo de Benjamin Netanyahu volta-se agora para a Associated Press (AP). O ministro israelita das Comunicações, Shlomo Karhi, alertou a AP, na semana passada, para que não tinha permissão legal para fornecer material à Al Jazeera – o que levou as autoridades a confiscaram uma câmara e equipamentos de transmissão à agência. Karhi diz que a AP estava a tentar rastrear os movimentos das IDF e a transferir as imagens para a Al Jazeera. “O Ministério das Comunicações continuará a realizar ações de fiscalização na medida do necessário para limitar as transmissões que prejudiquem a segurança do Estado”. Do seu lado, a AP disse que cumpre as regras de censura militar de Israel, que proíbem a transmissão de detalhes, como movimentos de tropas, que possam colocar em risco os soldados.

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