"Isto era comandado pelo Ricardo e nós assinávamos". Tio culpa Salgado pela queda do BES

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Caso BES

17 out, 2024 - 10:52 • Diogo Camilo

O "comandante" António Luís Ricciardi, falecido em 2022, é a primeira testemunha do julgamento do caso BES, com um depoimento de outubro de 2015. Garante que Salgado era o único que sabia da "maquilhagem de contas" e que soube do buraco no banco em novembro de 2013, nove meses antes da resolução do BES.

O tio de Ricardo Salgado, António Luís Ricciardi, garantiu em 2015 que o ex-banqueiro era o único que sabia da falsificação das contas do Grupo Espírito Santo (GES) e que só soube do buraco no BES menos de um antes da sua resolução.

O terceiro dia de julgamento do Caso BES/GES, no Campus da Justiça, começa com a audição da primeira testemunha do caso, líder da família Espírito Santo e do Conselho Superior do GES até 2008.

No início da reprodução do depoimento dado ao procurador José Ranito, a 2 de outubro de 2015, António Ricciardi afirmou que só soube o que tinha acontecido às contas do BES numa reunião em novembro de 2013, quando surgiu um buraco nas contas de mais de mil milhões de euros. “Aí perdi toda a confiança absoluta em Ricardo Salgado”, disse.

Na altura, o “comandante” Ricciardi - como era conhecido - já estava fora da administração do banco há cinco anos (havia reformado-se com 89 anos), deixando de ser executivo e passando apenas a assinar documentos como membro da administração de várias sociedades do GES. Viria a falecer em janeiro de 2022, com 102 anos.

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Nas declarações, António Luís indicou que Ricardo Salgado era mesmo “o único que sabia de tudo”.

“Não quer dizer que Manuel Fernando [Espírito Santo, primo de Ricardo Salgado] não tratasse das suas coisas na Rioforte, mas não tomava decisão nenhuma ou não fazia nada em que o doutor Ricardo [Salgado] estivesse de acordo”, indicou.

Segundo o antigo homem forte da família, não só Salgado estava à frente de tudo, como dava instruções a José Castella, ex-controller financeiro do Grupo Espírito Santo (GES), para entregar documentos para que Ricciardi assinasse “de cruz”, sem participar na decisão: “Isto era comandado pelo Ricardo e nós assinávamos.”

Ricciardi fala ainda de uma conversa de que as contas estão falseadas em 2014, com o arguido no caso Francisco Machado da Cruz, na sua casa em Cascais, não sabendo precisar se aconteceu antes ou depois da resolução do banco. Então, o contabilista do GES mostrou preocupação de que não teria dinheiro para “tratar de advogados” e se “queixava de que tinha sido abandonado”.

O ex-administrador fala mesmo num “trabalho de maquilhagem” das contas, que aconteceu na Espírito Santo International (ESI) pelo menos seis anos antes da queda do banco: “A partir de 2008, essas contas estavam todas falseadas”, indicou, acrescentando que nessa altura já não tinha grande intervenção no grupo e que não achava que houvesse esse tipo de problemas no GES.

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