Jamor em tempos de cólera

6 meses atrás 50

Rivalidade tão velha quanto inabalável, esta que os dois gigantes de Lisboa partilham. Fervorosa e apaixonante, quase romântica, mas também doentia em certa dose. Assim é sempre que Benfica e Sporting se encontram, mas os verdadeiros tempos de cólera chegam numa semana em que o confronto é duplo e pode decidir o caminho da temporada de ambos. 

Antes do confronto para a Liga, quiçá ainda mais importante, houve, esta terça-feira, a segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. No fim o marcador mostrou um 2-2, de maneira que o 2-1 registado em Alvalade empurra a equipa verde e branca para o Jamor!

Benfica à carga

A dimensão de um dérbi lisboeta pode ser explicada, mas essa explicação pode significar uma extensa aula, ou um sumário que, por consequência, pede asteriscos e anexos. Como todas as coisas complexas, por vezes as imagens podem ser bem mais representativas. Serve para o efeito este vídeo da entrada das equipas em campo, num duelo que abre uma rara semana de duplo confronto lisboeta.

Essa dimensão também fica evidente no comportamento das bancadas. Mais vocais que o habitual, com um setor caseiro que pouco se importa com o a desvantagem trazida de Alvalade e um canto visitante que desde esse estádio vizinho marchou, sempre a cantar. Das bancadas sai o apoio, mas, por vezes, também algo mais palpável. Desta vez foi um carregador, assim como quem deixa a dica: «carrega, Benfica»!

Depois do rival ter tido um melhor arranque - o aviso de Morten Hjulmand fez alguns setores tremer -, a tal mensagem foi bem recebida pela equipa encarnada, que rapidamente carregou sobre o adversário. O Benfica foi pisando terrenos mais adiantados e rematou mais, aparentando controlo mesmo nos momentos em que a posse não durou, mas o golo não chegou.

Rafa isolou-se, mas não percebeu o espaço que tinha e rematou prematuramente. Depois apareceu Tengstedt, a grande surpresa no onze, com um remate que voou sobre Israel antes de cair, de forma tão anticlimática, na trave. Ao vigésimo minuto, Di María rematou de primeira para que o guardião uruguaio, titular na ausência de Adán, firmasse a sua primeira defesa digna de realce.

Os perigos da direita

Se na primeira parte o marcador não esteve altura das expectativas, então a segunda compensou. Golos, golos e golos! Bastaram dois minutos para ver o primeiro entrar e ao 64º minuto - 19º do segundo tempo -, os ecrãs gigantes já mostravam um 2-2! 

Importa realçar também a zona que deu origem a todos estes tentos. Digamos apenas que quem não estava ainda familiarizado com os perigos da direita, passou a estar...

Primeiro foram os líderes. Hjulmand não usa braçadeira, mas mostra jogo após jogo a importância da sua personalidade e voltou a fazê-lo esta noite, com um remate bem colocado após um belo trabalho do outro escandinavo, Gyökeres, na faixa direita. Também pela direita surgiu, cinco minutos depois, o empate de Otamendi, com assistência de Neres no lado direito do ataque encarnado.

Volvidos três minutos, Paulinho silenciou a casa do rival com mais um golo, que teve Geny Catamo (arrancada á direita...) e Trubin (defesa incompleta) como restantes personagens. Depois disso Gyökeres atirou ao ferro, deixando escapar o que seriam dois golos de vantagem no jogo e três no agregado, e o Benfica aproveitou para, no minuto seguinte, voltar a colocar-se n a disputa por um lugar no Jamor. Foi Rafa quem encostou para uma baliza órfã, depois de um cruzamento de Bah. Nem vale a pena dizer de onde veio a jogada do lateral di...namarquês.

O sorriso é do leão

Com 2-2 no marcador, a história era, embora mais rica, muito semelhante à que se verificava no pontapé de saída. Benfica a um golo de empatar as contas desta meia-final e o Sporting a ver o cenário florestal do Jamor nos ponteiros do relógio, cuja velocidade era encarada de forma diferente do adversário.

Os treinadores mexeram, também eles com um olho nesta terça-feira e outro no jogo de sábado, e viram as oportunidades continuar a surgir. Di María tentou de um lado, Gyökeres do outro. Paulinho forçou Trubin a uma defesa incrível e, apenas dois minutos depois, Tiago Gouveia atirou ao lado em zona perigosa. Benfica sempre à procura de mais, mas nem sempre preparado para travar as investidas de um rival mais solto de responsabilidades.

A bola acabou por não voltar a tocar nas redes, de maneira que a noite acabou em festa verde e branca. Independentemente do maior volume de ocasiões da águia, foi o leão a assegurar a primeira vaga no Jamor (espera por Vitória SC ou FC Porto). Um passo na direção certa para o Sporting, que pode embalar para uma época histórica caso consiga voltar a ser feliz no sábado.

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