JO. Médica fala sobre importância do sexo seguro entre atletas (e não só)

1 mes atrás 56

Existem, desde sempre, alguns boatos e rumores sobre as relações entre atletas durante os Jogos Olímpicos. Por exemplo, Micah Richards, ex-internacional inglês, falou recentemente sobre os 'loucos' bastidores da seleção da Grã-Bretanha, nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres.

É tão sabido que este ano, em Paris, a organização distribuiu 200 mil preservativos para 14.500 atletas, uma tentativa de reduzir ao máximo o número de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Já em 2016, no Rio de Janeiro, Brasil, o sistema de esgotos da Aldeia Olímpica quase entrou em colapso por causa do excesso de preservativos usados e deitados para a sanita

Tendo isto em conta, o Lifestyle ao Minuto falou com Beatriz Frias Lopes, uma médica especialista em medicina geral e familiar, assim como em medicina sexual do Grupo Trofa Saúde, sobre a importância de promover sexo seguro e os riscos das DST. 

Mas, antes de começar, a médica explica que "a terminologia Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) passou a ser adotada em substituição à expressão DST, porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infeção, mesmo sem sinais e sintomas"

Também lembra que "a prevalência de Infeções Sexualmente Transmissíveis na população em geral tem aumentado, sendo este um problema de saúde pública que merece a nossa maior atenção, independentemente do contexto".

Além da disponibilização dos preservativos, que é essencial na prevenção das ISTs, também deve existir a distribuição de barreiras de látex para sexo oral

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Que tipo de medidas podem ser aplicadas em eventos desta escala, além da distribuição de preservativos, para reduzir ao máximo os números de infeções sexualmente transmissíveis?

Como sabemos, os Jogos Olímpicos são um megaevento desportivo que atrai milhares de pessoas, sejam elas atletas, membros da organização ou espectadores. Em relação aos atletas, sabemos que são sobretudo pessoas jovens – que, como tal, representam um grupo de risco para as ITS.

Assim sendo, faz sentido que haja este investimento na prevenção. Além da disponibilização dos preservativos, que é essencial na prevenção das ISTs, também deve ocorrer a distribuição de barreiras de látex para sexo oral. E claro, privilegiar a informação, através de folhetos e cartazes de sensibilização e durante o evento.

Além disso, é importante que sejam disponibilizados testes de rastreio de HIV, bem como prescrições de tratamento pós-exposição contra o HIV. Apostar na prevenção é uma medida primordial para evitar consequências na saúde individual e o seu impacto na saúde da população em geral.

Notícias ao MinutoÉ médica especialista em medicina geral e familiar e em medicina sexual© Beatriz Fritas Lopes

Pode existir a ideia de que por serem saudáveis os atletas estão menos em risco. É verdade?

As IST são infeções provocadas por bactérias, vírus, fungos ou parasitas que se transmitem-se no contexto sexual, seja por via vaginal, oral ou anal. São frequentes e constituem um problema de saúde pública pelas doenças e complicações que podem ocasionar. Qualquer pessoa sexualmente ativa, independentemente do género ou da orientação sexual, pode ser infetada por uma ou mais IST. O estado basal de saúde é importante no controlo da doença e dos seus sintomas, mas não é protetor do contágio.

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Quais os fatores que aumentam o risco de IST?

Tal como já foi referido, as IST afetam sobretudo adolescentes e jovens adultos, e estão associadas a alguns outros fatores de risco, tais como: o abuso de drogas, não utilização ou utilização incorreta de preservativo, múltiplos parceiros sexuais, ou parceiros com múltiplos parceiros sexuais, novo parceiro sexual nos últimos 60 dias e idades entre os 15 e os 24 anos. Além disso, sabe-se que há certos comportamentos sexuais que aumentam também o risco de contrair uma IST, entre os quais destaco: ter relações sexuais desprotegidas com múltiplos parceiros, praticar sexo anal ou oral, compartilhar agulhas e usar drogas ou álcool antes ou durante o sexo.

Quais são os tipos de IST mais prevalentes neste momento?

Entre as IST mais frequentes, destaco: Hepatite B e C, Tricomoníase, Clamídia, Gonorreia, Sífilis, Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), Herpes Genital, e Herpes Papiloma Vírus (HPV).

Geralmente que conselhos oferece para evitar as IST?

Relativamente à prevenção, e relembrando que as IST podem afetar qualquer pessoa, independentemente do sexo, a melhor maneira de se proteger das IST é praticar sexo seguro, usando sempre preservativo, fazendo exames regularmente e sendo honesto com os seus parceiros sexuais sobre qualquer atividade sexual anterior ou atual.

Destaco o uso correto do preservativo e de 'dental dam' ou barra de latéx (folhas de látex ou poliuretano que se colocam na vulva ou no ânus antes e durante do sexo oral) em todos os contatos sexuais, a vacinação nomeadamente contra o HPV e a Hepatite B, os rastreios aquando da troca de parceiro sexual, a consulta de planeamento familiar e todas as medidas que possam minimizar o risco de exposição aos fatores de risco que referi anteriormente.

Faz ainda sentido relembrar que há fármacos que reduzem a probabilidade de ser infetado especificamente pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), nomeadamente a denominada profilaxia pré-exposição ou PrEP. A sua recomendação médica está dependente de avaliação individual em consultas especializadas.

Quais os mitos sobre IST em que ninguém deve acreditar?

As crenças erróneas sobre as IST são variadas, mas destaco alguns mitos que me parecem ser muito comuns entre a população em geral, mesmo naqueles com maior nível de literacia em saúde.

Primeiro mito: 'IST são sempre sintomáticas, e por isso se não tenho sintomas significa que não tenho uma'. Como já descrevi anteriormente, as IST podem ser assintomáticas - e isto deve ficar claro para o leitor.

Segundo mito: 'O sexo oral não transmite IST, por isso não preciso de usar qualquer proteção'. A transmissão de IST pode ocorrer via sexo oral e, por isso, um método contracetivo barreira deve ser utilizado em todas as relações sexuais - oral, vaginal e anal.

E o terceiro mito: 'As IST não são transmissíveis através do beijo'. Apesar do baixo risco, algumas IST, tais como o HPV e o herpes, podem ser transmitidas pelo beijo quando estão na fase ativa (lesões orais).

Posto isto, deixar apenas a mensagem de que também em saúde prevenir é melhor que remediar - procure sempre o seu profissional de saúde de confiança, informe-se em fontes seguras e em evidência científica de qualidade. E sobretudo, seja honesto e aberto em relação as suas dúvidas e crenças sobre sexualidade.

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