João Galamba vai trabalhar com startup que usa Inteligência Artificial no sector da energia

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Startup portuguesa fornece “monitorização e otimização histórica em tempo-real” de ativos energéticos na área de produção, transporte e distribuição. Ex-governante vai ser advisor da Enline, mas mantém atividade de consultor.

O ex-ministro das Infraestruturas e ex-secretário de Estado da Energia vai começar um novo desafio profissional, sete meses depois da queda do Governo de António Costa no âmbito da Operação Influencer.

João Galamba vai assumir o cargo de executive advisor na Enline Energy Solutions, anunciou João Galamba nas redes sociais.

A startup portuguesa atua na área da tecnologia e energia, “fornecendo monitorização e otimização histórica em tempo real” dos ativos de energia, segundo uma descrição que surge num comunicado da Startup Portugal emitido em fevereiro.

A empresa foi fundada em 2018 e é liderada por Manuel Lemos, que trabalhou em empresas como a Voith Hydro e a Mota-Engil, tendo estado envolvido no projeto da central hidroelétrica de Marañón no Peru.

A companhia já recebeu investimento da Innoenergy, que pertence ao European Institute of Innovation and Technology (EIT), um órgão independente da União Europeia.

“A Enline é uma casa de software com várias soluções tecnológicas inovadoras que usam um novo conceito de digital twins [digitalizações de ativos físicos para simular cenários] que não requerem sensores ou hardware adicional. São usados no contexto da indústria da energia, especificamente em ativos e infraestruturas para a produção, transporte, distribuição e consumo de energia”, disse Manuel Lemos em entrevista à publicação “Energy Digital” em setembro de 2023.

“A tecnologia da Enline é baseada em modelos computacionais matemáticos e físicos combinados com algoritmos de Inteligência Artificial, que permitem a criação de digital twins em ativos de energia, em qualquer parte do mundo, remotamente, sem a necessidade de sensores adicionais”, acrescentou.

Sobre o uso da IA no sector da energia, Manuel Lemos disse que “permite planear melhor e gerir as nossas infraestruturas, minimizar custos operacionais e otimizar sistemas de energia e com o potencial para revolucionar completamente a indústria de energia. Com a automação da IA, maior eficiência e tomadas de decisão mais inteligentes, podemos olhar para um futuro onde a energia renovável é mais barata do que nunca”.

A empresa tem estado ativa nos fóruns habituais das startups, tendo estado presente na Web Summit Brasil, integrada na comitiva portuguesa, e foi uma das finalistas da South Summit Madrid 2023.

Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, trabalhou no Banco Santander de Negócios, na consultora DiamondCluster International, na Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e na Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados. Foi deputado durante quase 10 anos pelo PS.

Contactado pelo JE, João Galamba não quis fazer comentários ao novo desafio profissional.

Também outro ex-governante do Governo de António Costa vai dedicar-se à consultoria no sector privado. O ex-ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, abriu a Racord este ano com a sua mulher, Susana Ramos, que vai prestar serviços de “consultoria estratégica e de gestão, em particular na área de internacionalização de empresas, com foco na atuação em empresas e entidades de elevada dimensão com capacidade de exportação de bens e serviços ou internacionalização da sua atividade”, revelou a “Sábado” em maio.

Caso Influencer

O ex-governante é um dos arguidos no caso Influencer desde novembro, mas nunca foi ouvido pela justiça desde então.

O Ministério Público suspeita que João Galamba atuou em co-autoria com o autarca de Sines Nuno Mascarenhas e com os também arguidos Afonso Salema (gestor), Rui Oliveira Neves e João Tiago Silveira (ambos advogados) para introduzir regras favoráveis ao Data Center da Start Campus em Sines na legislação do Simplex Industrial. E que também terá pressionado o presidente do ICNF Nuno Banza para obter a aprovação ambiental do centro de dados.

Mas o Tribunal da Relação de Lisboa não encontrou qualquer indício de crime no processo, num acórdão publicado em abril. “O que nunca se vislumbra, seja em que conversa telefónica for, é alguma forma de pressão ou de ingerência inapropriada na liberdade de actuação e decisão de Nuno Banza ou de Nuno Lacasta”, segundo o TRL. “Há debate de ideias e opiniões divergentes, há empenho e vontade política de João Galamba em impulsionar todo o processo administrativo necessário à implementação do Data Center e do parque fotovoltaico”, de acordo com o documento, citado pelo “Expresso”.

Galamba ataca Instituto da Natureza e Floresta: “tem sido pródigo em dificultar a transição energética”

O ex-governante resumiu a sua atividades nas redes sociais depois da queda do Governo onde tem estado ativo a comentar temas do sector energético.

No início de abril, deixou duras críticas ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) depois da alteração de um projeto eólico da Iberdrola no Tâmega, distrito de Vila Real.

No mundo da energia nacional, o ICNF é conhecido por ser o mais radical dos organismos estatais na análise ambiental, com os seus pareceres a entrarem muitas vezes em colisão com os Estudos de Impacte Ambiental (EIA) feitos pelos promotores de energias renováveis.

O ex-governante considera que a decisão é “muito danosa para o país e para o cumprimento de metas” do PNEC [Plano Nacional de Energia e Clima], que impõe metas de energias renováveis muito ambiciosas para o país até 2030.

“E o pior é que é totalmente injustificada, porque os lobos convivem muito bem com parques eólicos. Convivem menos bem com a sua construção, mas isso pode ser gerido e devidamente acautelado, mas convivem muito bem com a sua operação (vários exemplos disto, incluindo em Portugal)”, começou por escrever nas redes sociais o ex-secretário de Estado que ocupou funções entre 2018 e 2023 na Rua do Século.

“A decisão é danosa porque Portugal está atrasado no reforço da potência eólica e, sobretudo, porque o reforço do eólico onshore passa, em grande medida pela hibridização”, a junção de energia solar e eólica no mesmo local, usando ao mesmo ponto de injeção na rede, permitindo maximizá-lo: injetando eletricidade a partir de energia solar durante o dia e eólica durante a noite.

“Se o ICNF amputa o projeto, reduzindo para menos de metade o projeto original, isto tem impacto em todos os projetos análogos futuros (o potencial de hibridização com barragens é elevado e as barragens estão sobretudo no norte, em sítios onde há lobos) e obriga a construir mais linhas e a aumentar custos (e impacto ambiental) para cumprir as exigentes metas do PNEC”, que implicam mais do que duplicar eólico existente, defendendo a otimização do eólico onshore antes de avançar para o offshore.

“Infelizmente, o ICNF tem sido pródigo em dificultar a transição energética, aumentando os seus custos e, sim, aumentando o seu impacto ambiental. Prejudicar projetos que otimizam infraestruturas já existentes é um erro do ponto de vista do ambiente e conservação da natureza”, escreveu.

Para cumprir as exigências, a Iberdrola acabou por reformular o projeto das duas centrais eólicas junto às barragens do Alto Tâmega, que previa um investimento inicial de 450 milhões de euros, tendo-o encolhido em mais de 40%, revelou hoje o “Expresso”.

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